“As 7 Mulheres do Minho” evocam a luta intemporal de Maria da Fonte
A exposição “As 7 Mulheres do Minho”, que celebra os 175 anos da Revolta da Maria Fonte, foi inaugurada no Centro Interpretativo Maria da Fonte, da Póvoa de Lanhoso, abrindo um ciclo da galeria, dedicado a artistas mulheres.
O título, inspirado na canção homónima do álbum “Fura Fura”, de José Afonso, é sustentado pelas sete artistas da mostra – Ana Almeida Pinto, Alexandra de Pinho, Cristina Troufa, Helena de Medeiros, Lauren Maganete, Patrícia Oliveira e Tânia Dinis -, e pela combinação das suas diferentes tendências e expressões, com que a galeria de Braga respondeu ao desafio lançado pelo município da Póvoa de Lanhoso, de “revisitar a memória e a história protagonizadas por Maria da Fonte, através da produção artística contemporânea”, segundo a apresentação da mostra.
Da escultura e do desenho, à pintura, à fotografia e ao vídeo, combinando materiais que vão da pedra ao têxtil, passando pelo papel e pela exploração expandida do audiovisual, o objetivo é juntar as mensagens das sete artistas, “unindo tempos e espaços num tempo em que é urgente agir em defesa dos direitos e liberdades”, tomando Maria da Fonte como “alguém à frente do seu tempo, a preconizar ânsias de um futuro melhor”.
O nome da mostra vem da canção “As 7 Mulheres do Minho”, de José Afonso, gravada no seu álbum de 1979, que conta a história das sete mulheres, “armadas de fuso e roca, que correram com o regedor”, e que toma Maria da Fonte como símbolo da resistência feminina, desde sempre, às injustiças e à opressão.
“Apropriamos-nos da sua rábula para nomear uma exposição que se enquadra, também, no trabalho de parceria e proximidade que a zet gallery tem levado a cabo junto dos municípios, e em particular dos municípios minhotos, em questões relacionadas com as práticas artísticas contemporâneas e as suas estratégias de programação”, revela a diretora da galeria, Helena Mendes Pereira, curadora da mostra, citada pelo texto de apresentação.
“A exposição junta sete artistas de diferentes plasticidades e tecnologias, com formas de sentir individuais, e que desvendam, no resultado dos seus processos criativos, o lugar da tempestade interior que é tantas vezes a força motriz do mundo inteiro”, prossegue.
“A combinação da pintura, de tendência figurativa e autorrepresentativa, de Cristina Troufa”, com o “gesto dançado em tela de Helena de Medeiros, a fotografia poética e detalhista de Lauren Maganete, as imagens em positivo-negativo de Tânia Dinis” articulam-se com os recados e as mensagens bordadas de Alexandra de Pinho, a escultura de protesto de Ana Almeida Pinto e a “instalação provocatória” de Patrícia Oliveira, dando forma a “modos de ver e sentir o que é ser mulher, e querer ter voz sem calar gritos internos, risos estridentes e fatalismos emocionais”.
“Maria da Fonte – sublinha a apresentação da mostra – é o símbolo dessa ousadia feita protesto, feita luta e é a partir do seu perfil que conduzimos a narrativa expográfica e desafiamos o espectador à Liberdade e à recusa permanente à servidão”.
Helena Mendes Pereira acredita que, em contexto de pandemia, “foram as mulheres que mais sacrificaram carreiras, ficando em casa com os filhos, numa espécie de cenário disfarçado pela figura jurídica do teletrabalho”.
“Precisaremos de mais alguns anos para quantificarmos as regressões de décadas de conquistas femininas consequentes à covid-19, como precisaremos do dobro do tempo da luta para delas recuperarmos. A pandemia protegeu a sociedade patriarcal instituída e é nossa obrigação ser exemplo no combate contra todas as desigualdades”, afirma a curadora e diretora da zet gallery, chamando a si “esta missão”.
A galeria de Braga, projeto de artes visuais do grupo dst, promete assim apostar na “Arte com assinatura no feminino, revelando, a partir de cada uma destas autoras, as formas de ver e sentir delas, desvendando o lugar da tempestade interior que é tantas vezes a força motriz do mundo inteiro”.
Esta exposição, e a seguinte da sua programação, “2 ou 3 choses que je sais d’elle” – título vindo do filme homónimo de Jean Luc Godard (“Duas ou três coisas que sei dela”) -, a inaugurar em Braga, no próximo dia 12, “têm assinatura artística exclusivamente feminina e constituem uma ação e um alerta sobre o tema da urgência das igualdades de oportunidades para todos, independentemente do género, credo, raça, condição social de partida ou das circunstâncias que a vida traz”, sublinhou Helena Mendes Pereira.
A exposição “As 7 Mulheres do Minho” ficará patente no Centro Interpretativo Maria da Fonte, na Póvoa de Lanhoso, até 30 de setembro, e será acompanhada por um programa de atividades paralelas, ‘online’ e presenciais, “com o objetivo de refletir com os públicos sobre questões de género, igualdade e utopia social”.
Foto: Centro Interpretativo Maria da Fonte