“Não nos deixam ir a eleições porque sabem que íamos ganhar!”

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A lista de Rui Fernandes às eleições da Associação de Futebol de Viana do Castelo (AFVC), que se realizam esta sexta-feira, dia 18, não foi aceite pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral que alegou “não ter poderes” para conceder um prazo para sanar as irregularidades apontadas. Mediante esta situação, o candidato anunciou que não vai recorrer dessa decisão porque “não quer envolver tribunais e inviabilizar o acto eleitoral”. 

“Não nos parece viável ir para tribunal porque o que iria acontecer era suspender o acto eleitoral que não deve ser suspenso. Acho que devem realizar-se eleições e não criar um processo que arrastar-se-ia durante anos”, justificou. 

Em conferência de imprensa realizada em Viana do Castelo e ladeado por vários elementos da sua lista, Rui Fernandes leu um comunicado cáustico em relação à postura da Mesa da Assembleia Geral da AFVC e apelou aos clubes: “Acordem!” E foi mais longe: disse que a sua lista só foi rejeitada porque sabiam que ele iria ganhar e que os dirigentes dos clubes são ameaçados com “represálias” por terem assumido o apoio à sua candidatura. “Sentimos por parte de alguns dirigentes dos clubes medo em assumir a mudança de uma vez por todas na AFVC. Nas nossas apresentações, os clubes sentiam medo de retaliações pela forma como a AFVC vive”, afirmou. 

O ex-árbitro de Valença relembrou o trabalho de apresentação do seu projecto que fez junto dos clubes. “Durante todas as apresentações, fomos elogiados por todos os clubes sem exceção. Quando percebemos que a apresentação de uma lista à AFVC pressupõe a subscrição de uma percentagem de clubes ficamos perplexos e sentimos que os dirigentes não se sentiram confortáveis com essa situação porque poderiam sofrer represálias por subscrever uma lista totalmente independente”, lê-se no comunicado assinado pelo candidato que recordou o adiamento das eleições, indo contra a vontade expressa dos clubes numa assembleia-geral em junho de 2020. “Pergunto o que aconteceu à Mesa da Assembleia Geral por tomar uma decisão leviana e à revelia da vontade de quem a elegeu? Nada. Mais uma vez os clubes baixaram a cabeça e aceitaram. Relembro que nesta altura, nós vínhamos de um período de três meses de trabalho, a percorrer o distrito e a apresentar o nosso projecto aos clubes. Estávamos preparados para ir a eleições em Dezembro e disputar democraticamente a vontade dos clubes. Mas mais uma vez, fomos desrespeitados deliberadamente”, acusou, considerando que a marcação das eleições para uma data incerta tinha como objectivo “apanhá-los desprevenidos”.  

Em tom irónico, o candidato considerou “curiosa” a postura da Mesa da Assembleia-Geral por ter enviado a convocatória das eleições no dia 4 de junho, às 23 horas, ponte do feriado do Corpo de Deus, tendo as listas que apresentar as candidaturas em dois dias úteis. “Tivemos que recolher toda a documentação em contrarrelógio e sentimos claramente que esta convocatória em cima do joelho foi para apanhar (alguns) candidatos desprevenidos. Recordamos que cada lista tem de ter 59 elementos aos quais são pedidos vários documentos, como o registo criminal que tem um prazo de validade. Nós já tínhamos essa documentação reunida, em dezembro de 2020. E agora tivemos que a reunir novamente, em dois dias. Mas, nas 48 horas seguintes entregamos toda a documentação nos serviços da AFVC. Entregamos um dossier com 276 documentos”, informou. 

Rui Fernandes continuou a relatar a sua versão dos acontecimentos, mais uma vez, criticando a postura da Mesa da Assembleia, na pessoa do presidente em funções, Rui da Purificação: “O presidente da Assembleia Geral, Rui da Purificação, por telefone, informa-me que iria analisar todas as candidaturas e, caso fosse necessária alguma correção, disse que iria dar tempo para corrigir.  No sábado, dia 12 de junho, somos informados de que a nossa lista não foi aceite porque na listagem dos candidatos aos diferentes órgãos não especificamos o cargo a que se candidatavam e porque, nas subscrições dos clubes, faltavam as assinaturas de mais dois representantes legais. Estes dois aspectos, gravíssimos na opinião da Mesa da Assembleia-Geral, não permitiram aceitar a nossa lista. Imediatamente, contactei o presidente da Mesa que me disse para submeter um requerimento a solicitar um prazo para a correção dos elementos em falta. Submetemos esse requerimento no mesmo dia e começamos imediatamente a recolher os documentos em falta para entregar na segunda-feira seguinte na AFVC.  Surpreendentemente, recebemos uma deliberação da Mesa da Assembleia-Geral a informar-nos que, espantem-se!, não tinha competência para nos dar prazo nenhum para correcção do que quer que fosse. E que, portanto, uma lista rejeitada uma vez, é rejeitada para sempre porque não há prazo para corrigir nada.”

“Nunca pensamos que a AFVC fosse uma ditadura deste calibre”

Mediante esta evolução dos acontecimentos relatada, o candidato considera que “esta situação chega a roçar o surrealismo”. “Já suspeitávamos que a democracia era escassa, mas nunca pensamos que a AFVC fosse uma ditadura deste calibre”, atirou, considerando que “a Mesa da Assembleia Geral está a ser liderada por um senhor que diz, inclusivamente à comunicação social, que será dado um prazo, e assina deliberações a atestar o seu contrário com a maior desfaçatez”. 

“Não tenhamos dúvidas de que esta postura tem como único objectivo não nos deixar ir a eleições porque sabem que iríamos ganhar. Sabem que o nosso projecto não tem rabos de palha, não está comprometido com ninguém nem com nada, não fez promessas vãs, não desbaratou os nossos valores nem os princípios que deveriam reger qualquer associação (…) sei que nós iríamos mudar a AFVC e dar-lhe o dinamismo e modernidade que há muito tarda. Disputamos este jogo seguindo as regras, não fizemos rasteiras aos adversários porque acreditamos nas vitórias limpas”, sustentou, lançando ainda dúvidas sobre a “equidade com que todo o processo está a ser gerido entre as três listas”.  “Não há transparência em nada do que sai desta AFVC e neste acto eleitoral, que pela primeira vez tem mais do que uma lista, não se cuidou de disfarçar o espírito tacanho, déspota e obscuro que tem existido há demasiados anos”, criticou. 

O candidato garante que a sua lista não terminou este processo e que vai continuar atenta ao que se passa na AFVC. “Entramos neste projecto desportivo com valores e comportamentos éticos e, apesar de todos os juristas que nos acompanham serem unânimes em afirmar que toda esta tramitação é ilegal e a lei está do nosso lado, não queremos que os tribunais decidam estas situações. Mas apelamos a que os clubes, de uma vez por todas, assumam mais a vossa associação. Não continuem acomodados ao marasmo que há demasiado tempo grassa no nosso futebol distrital. Acordem!”, apelou. 

“Não morremos na praia, estamos bem vivos”

Rui Fernandes garantiu que esta tomada de posição não significa que a lista vai sair de cena. “As pessoas que me rodeiam são apaixonadas por futebol e querem que o futebol em Viana tenha um novo rumo. Agora vamos aguardar a decisão dos clubes na próxima Assembleia-Geral em questionar o presidente da Assembleia sobre o motivo deste imbróglio à volta da nossa candidatura e da rejeição constante da nossa lista às eleições”, declarou, acrescentando: “Não tenho dúvidas que a maioria dos clubes queria a nossa lista porque foi isso que nos foi transmitido ao longo das últimas semanas. Os dirigentes sentiram-se preocupados por a nossa lista não ir a eleições. Por isso, resta questionarem os motivos de todo este conflito criado connosco.”

O candidato disse que o seu estado de espírito é “feliz” porque a sua lista “acabou por despontar a mentalidade dos dirigentes desportivos da AFVC”. “Estamos de consciência tranquila em relação ao nosso projecto porque seria o melhor para o futebol distrital”, disse, convicto de que iria vencer as eleições, caso a sua lista fosse admitida. “Acredito claramente que iria ganhar com maioria e não temos dúvidas que fomos afastados por causa disso”, reiterou Rui Fernandes, não considerando que esta situação é “morrer na praia”. “Muito pelo contrário, estamos bem vivos. Acho que trouxemos uma lufada de ar fresco ao futebol de Viana do Castelo, com ideias totalmente diferentes e estamos aqui disponíveis, se os clubes nos quiserem. Vamos continuar atentos aos futebol porque temos esse dever”, assegurou. 

Sobre o desfecho das eleições que tem as listas de António Amaral e Jorge Sárria admitidas a sufrágio, Rui Fernandes não antecipou resultados, mas considerou que “a AFVC precisa de paz e os clubes precisam de estar juntos”.