Escola Superior Agrária do Politécnico de Viana prepara candidatura para produzir insectos
A funcionar nas novas instalações desde fevereiro deste ano, a unidade autónoma do Insectário da Escola Superior Agrária (ESA) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) continua com os trabalhos de investigação sobre a produção de insetos. O balanço do trabalho, iniciado no ano letivo 2017/2018, é “extremamente positivo” e o professor responsável pelo projeto, Júlio Lopes, adiantou que o insectário foi ampliado para outras espécies, nomeadamente duas espécies de grilos e baratas. Neste momento, está a ser preparada a candidatura, na linha do programa operacional MAR 2020 que acaba em dezembro, para dar continuidade ao trabalho feito.
O Insectário da ESA-IPVC surgiu no âmbito do projeto MAR2020-MAR-02.01-FEAMP-0087-Rana perezi, que visa o estudo de fontes alternativas de proteína para o desenvolvimento de rações a utilizar na produção comercial de rãs, de acordo com as recomendações da Comissão Europeia de diminuir a dependência do uso da farinha de peixe nas rações para aquacultura. O projeto, coordenado pela ESA-IPVC, conta com a parceria da Associação Portuguesa de Ranicultura. “Uma vez que a utilização de insetos já se encontra regulamentada para uso em rações para peixes, a ESA-IPVC iniciou (através da utilização de um espaço adaptado para o efeito) uma unidade experimental para produção de insetos (Insectário ESA) com o objetivo de testar diferentes formas de produção de insetos através da avaliação da qualidade nutricional e o desempenho zootécnico de diferentes espécies assim como a sua viabilidade para a produção de componentes a incorporar nas dietas experimentais da Unidade de Investigação em Aquacultura “, lembrou o professor Júlio Lopes.
Em funcionamento em instalações próprias, projetadas para a produção de insetos em ambiente controlado, o Insectário produz atualmente uma espécie de coleópteros (escaravelhos) Tenebrio molitor (também conhecido como larva da farinha) e duas espécies de ortópteros (grilos) sendo os Gryllus assimilis e Acheta domesticus. Neste momento, está a ser ultimado também o processo para a produção da mosca soldado negro (Hermetia illucens), cujas larvas são muito eficientes no processo de compostagem de resíduos vegetais e também são utilizadas como fonte proteica para alimentação animal.
“O nosso insectário surgiu na escola como estrutura complementar a um projeto que candidatamos ao programa operacional MAR2020 e no âmbito da inovação na aquacultura com o envolvimento de técnicas para novas culturas”, contou Júlio Lopes, referindo que se pretendia desenvolver com este projeto uma técnica para produção de anfíbios, nomeadamente rãs. “Há mercado na Europa para as pernas de rãs para consumo humano, mas o mercado europeu importa nomeadamente da Ásia e da Turquia o material que é comercializado. Na Europa, apesar de alguma insistência dos grupos que pretendiam avançar nesta área para conseguir autorizações para a produção da espécie, ainda é proibida”, explicou o professor, admitindo que “a única alternativa que existia no espaço europeu seria avançar com uma espécie autóctone, daí este projeto ir nesse sentido”.
Mas quando a ESA-IPVC avançou com o projeto deparou-se com um problema. “Como na fase inicial estes animais não estão habituados a alimentarem-se com rações secas, precisávamos garantir alimento vivo para fornecer ao animal. Tivemos que avançar com uma alternativa”, justificou o docente responsável. Daí surgiu a ideia do insectário. “Durante a primeira fase, ocupamos um espaço improvisado e começamos a desenvolver em paralelo o projeto dos anfíbios, que acabou por demorar algum tempo para a arrancar devido à construção das infraestruturas”, referiu. Júlio Lopes adiantou ainda que se começou a fazer ensaios com diferentes alimentos para os insetos para se “verificar o que trazia em termos de melhoria nos tempos de crescimento e na composição química das próprias larvas para a formulação das rações”.
O insectário, agora nas novas instalações, vai ser o centro de produção de alimento vivo. “Fizemos a transferência do material para o local, que é totalmente controlado a nível de climatização e aí teremos maior controlo na própria produção”, assegurou o professor. O próximo passo é produzir ração para rãs adultas. Segundo o professor “existem produtores, nomeadamente no mercado francês, que produzem rãs em cativeiro, sendo que é o único país da União Europeia que autorizou uma espécie diferente da autóctone e alimenta as rãs com rações para peixe”. Mas estas têm um problema. “Têm uma quantidade muito grande de farinha de peixe e esse produto é considerado não sustentável, porque é preciso capturar espécies que não têm valor comercial para produzir as farinhas e alimentar os peixes que têm valor comercial”, explicou. A ideia, por isso, “seria produzir as rações para anfíbios, mas sem utilizar a farinha de peixe e em alternativa utilizar os insetos como fonte de proteína para as rações”.
O insectário ainda não está a funcionar em pleno, devido a “algumas dificuldades” na conclusão das obras. “No laboratório estamos à espera da instalação de uma bancada. Tem andado tudo de forma muito lenta e temos estado a funcionar a meio gás”, constatou.
De destacar que o Projeto MAR2020 – Rana perezi tem como objetivo criar uma unidade de investigação em aquacultura na qual se insere o Insetário/ESA, construído com a finalidade de produzir alimento vivo e farinhas de insetos (fonte de proteína em substituição da farinha de peixe) a utilizar em rações para anfíbios e peixes, como suporte ao Ranário experimental instalado na ESA .
O projeto foi financiado com cerca de 740.000€ através do Programa Operacional MAR2020, sendo financiado em 75% através do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP) e em 25% através de comparticipação nacional (dos quais cerca de 50.000€ serão investidos na construção e equipamento do Insectário experimental).