Agricultores do Alto Minho pedem apoios e medidas para enfrentar “falta de chuva”

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A Associação Regional de Agricultores do Alto Minho (ARAAM) defendeu a antecipação de apoios e medidas “estruturantes, a médio e longo prazo” para enfrentar “períodos prolongados com falta de chuva, que vieram para ficar”.

O presidente da associação que representa os agricultores do distrito de Viana do Castelo, Cerqueira Rodrigues, disse hoje ser “necessário que o Ministério da Agricultura e o Governo encarem desde já a antecipação das ajudas da Política Agrícola Comum (PAC), as linhas de crédito bonificado, o apoio direto à alimentação animal (comida e água) e o reembolso de parte do custo com a eletricidade verde”. Segundo Cerqueira Rodrigues, “as condições climatéricas estão a impor a seca como um contexto dramaticamente rotineiro em que a agricultura é muito afetada”. “Este ano, caso não chova em tempos próximos, vão ficar comprometidas as sementeiras de primavera e verão e afetadas as culturas permanentes como vinhas, pomares, frutos vermelhos, entre outros”, apontou.

Para o responsável, “se entretanto não chover, a situação no mundo rural vai ficar ainda pior, tanto mais que as reservas de água, a começar pelas águas subterrâneas, ainda não recuperaram da seca prolongada de anos anteriores”. “É preciso definir e aplicar medidas de fundo, estruturantes, preventivas, adaptadas a cada região, adaptadas aos modos de produção com especial cuidado pela agricultura familiar e pelas produções autóctones que são mais resistentes à falta de água”, apelou, avisando que “os períodos prolongados com falta de água da chuva vieram para ficar”. Apontou, como exemplos, os apoios técnicos e financeiros por bacia hidrográfica, em especial para o que estiver no domínio hídrico público, para intervenções em rios, ribeiras, linhas de água, recuperação de açudes, paredões, represas, entre outros.

Cerqueira Rodrigues, defendeu ainda “apoios específicos e acessíveis para construção de pequenas barragens e outros reservatórios de água” e a “redefinição do Plano Nacional de Regadios, o que também implica prever dotações em Orçamento do Estado superiores às que vêm sendo consignadas e aplicadas”. A salvaguarda da gestão justa, com Espanha, das águas dos rios internacionais, o combate à erosão e à desflorestação, a promoção da educação das jovens gerações e mais informação para adultos tendo em vista a formação e a informação criteriosas sobre as alterações climáticas e os comportamentos mais adequados a adotar, são outras das propostas da ARAAM.

Para o presidente da associação de agricultores do Alto Minho, é necessário “condicionar as produções intensivas” por consumirem mais água. “Por norma, o modo de produção intensivo, de plantas e animais, consome mais água e é mais poluente, seja a céu aberto, seja em ambientes construídos nas explorações, como estufas, estábulos, pocilgas, aviários e outros”, alertou. Segundo Cerqueira Rodrigues, é neste setor que “reside uma grande contradição em consequência das más opções agrícolas”. “Essas produções intensivas têm tido os maiores estímulos oficiais no quadro geral da PAC e das políticas mais da iniciativa dos sucessivos governos, que têm posto a ênfase na competitividade e na vocação exportadora, quando a agricultura familiar, as produções autóctones e outras mais tradicionais poupam água e outros recursos naturais, como os solos”, especificou.

Disse ainda que “a floresta multifuncional assenta em espécies mais adaptadas à falta de água e, por isso, muito menos exigentes do ponto de vista hídrico”, e que “uma das primeiras condições para dar combate eficaz às alterações climáticas, no âmbito agrícola e florestal, passa pela inversão de prioridades no quadro das políticas agrícolas e de mercados”. Esse combate passa por, considerou, “a atribuição de mais e melhores apoios públicos para as explorações agrícolas familiares, apoios especiais direcionados à produção e utilização de sementes e culturas autóctones e mais tradicionais”, bem como “mais e melhores apoios para a floresta multifuncional”.

Para Cerqueira Rodrigues, são ainda necessários “apoios preferenciais também para os mercados tradicionais e de proximidade, para a pequena e média agroindústria, para as organizações dos pequenos e médios agricultores e compartes dos baldios”. “A reforma da PAC deveria ser uma oportunidade para se alterar as tendências e dinâmicas dominantes que nos têm conduzido à preocupante situação que vivemos e que tanto nos ensombra o futuro”, apelou a associação, criada em 1987 e com sede em Viana do Castelo.

Na semana passada, Vanda Pires, do Departamento de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) disse que​​​​ se não chover até ao final do mês na região Norte, uma situação de seca que está num ponto “crítico” pode agravar-se e “a perspetiva não é boa”. Desde novembro que a região Norte se encontra em seca fraca, com exceção da região nordeste, em Trás-os-Montes, em que “há pontos com seca moderada”, explicou Vanda Pires. “É esta altura que vai determinar muito a evolução da seca e o mês de janeiro é crítico, porque se não houver precipitação, e não estão previstos grandes valores de precipitação, pelo menos até ao final do mês, a tendência é para que esta situação se agrave”, prosseguiu. Com esta perspetiva, resta “ver se em fevereiro consegue haver alguma recuperação”, até porque “depois começamos a entrar em meses do ano em que cada vez há menos precipitação”, sublinhou.