Lanço da Cruz regressa ao rio Minho

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Os padres de Cristelo Côvo, Valença, Alto Minho, e Sobrado, Galiza, retomam segunda-feira uma tradição pascal secular que os leva a cruzarem o rio Minho, de barco, para dar a beijar a cruz, interrompida pela pandemia de covid-19.

“Felizmente. Já havia saudade disto tudo. Na primeira procissão que fiz em outubro notou-se muito essa saudade. Só faltou ver as pessoas a chorar de alegria. Depois de tanto tempo afastados de tudo e de todos agora é uma alegria ver a satisfação espelhada no rosto das pessoas com o retomar das suas vidas”, afirmou hoje o pároco Eugénio Silva.

Depois de dois anos interregno, por causa da pandemia-19, a tradição, conhecida como “Lanço da Cruz”, vai cumprir-se na próxima segunda-feira, às 17:00.

“Não se vai dar a cruz a beijar, mas toda a celebração faz-se na mesma. Vou entrar no barco para levar a cruz a beijar às populações do outro lado do rio Minho e o pároco de Sobrado faz o mesmo. No meio do rio costumávamos trocar as cruzes. Este ano, ainda por precaução não vamos trocar as cruzes porque não se podem dar a beijar e para não haver os contactos de risco. Paramos os barcos, fazemos as saudações, mas não trocamos as cruzes”, explicou o padre Eugénio Silva.

Popularmente conhecida como “Lanço da Cruz”, aquele ritual é um dos pontos altos dos festejos em honra de Nossa Senhora da Cabeça – que decorrem naquela localidade minhota -, e que juntam milhares de peregrinos dos dois países durante o período da Páscoa.

Símbolo do bom relacionamento transfronteiriço, a travessia do compasso pascal cumpre-se sempre às 17:00, depois de o pároco Eugénio Silva dar a cruz a beijar na paróquia onde foi colocado em 2012.

A intenção da Câmara de Valença é candidatar a tradição pascal do “Lanço da Cruz” à lista nacional de Património Cultural Imaterial.

A tradição “perde-se nos tempos” e pouco tem mudado, mandando que, “a meio do rio, se lancem as redes para apanhar peixe”, enquanto “estouram foguetes e se ouve o ribombar dos grupos de bombos”, contou.

Mais recente é a visita do pároco de Sobrado, na Galiza, a Cristelo Côvo, que acontece desde meados dos anos noventa.

Manda a tradição que o rio se encha de pequenas embarcações e, durante o tempo em que a cruz é dada a beijar, os pescadores locais lancem as redes, devidamente benzidas. Mas o produto da pescaria reverte para o pároco de Cristelo Côvo como antigamente.

O pescado, sobretudo lampreia, é utilizado para uma confraternização da comissão de festas, uns dias depois da Páscoa.

À noite realiza-se a procissão de velas, que sai da igreja paroquial para o parque de Nossa Senhora da Cabeça e, na terça-feira, às 10:30, realiza-se nova procissão com o mesmo itinerário, mas este ano com menos figurantes.

“O brilhantismo da procissão, com os anjinhos, não será tão significativo, porque as crianças que faziam de figurantes já estão em aulas”, explicou.

Do programa da festa, merece ainda referência, na terça-feira, “uma grande eucaristia” celebrada para peregrinos portugueses e espanhóis.

Habitualmente, a primeira missa era celebrada em galego pelo pároco de Sobrado, na Capela de Nossa Senhora da Cabeça, e, uma hora mais tarde, outra missa, mas desta vez em português, pelo pároco de Cristelo Côvo.

“Este ano não haverá missa com o padre galego, nomeado, recentemente, após a morte do anterior sacerdote, que ainda não está bem dentro do ritual”, especificou.

Depois das missas, os peregrinos comem as suas merendas nas sombras do parque de Nossa Senhora da Cabeça, mandando a tradição que o farnel seja constituído sobretudo pelo que sobrou do carneiro da Páscoa.

Na romaria não vão faltar feirantes e empresas itinerantes de diversão e restauração.

No parque da Senhora da Cabeça, adiantou o pároco, “os lugares para essas atividades estão todos tomados”.