“Podem até fazer auto estradas de setas, mas é o peregrino que faz o caminho”
O Caminho da Geira e dos Arrieiros pode alcançar este ano os três mil peregrinos, no somatório dos cinco anos que tem de existência, o que significa uma média anual de 600 pessoas a percorrerem este itinerário jacobeu que liga Braga a Santiago de Compostela.
“Este caminho foi feito por mais de 2.775 peregrinos desde maio de 2017 e pode alcançar agora os três mil até dezembro”, afirmou o presidente da associação fundadora do projeto (AJCMR) e da Plataforma Berán no Caminho, Abdón Fernández, durante o 1º Encontro Internacional de Peregrinos do Caminho da Geira e dos Arrieiros, que decorreu no concelho de Leiró, na Galiza.
Este ano já foi percorrido por 531 peregrinos – no ano passado foram 904 –, considerando apenas os dados do livro de registo existente em Codeseda. “Basta repetir-se o número de 2021 para se atingirem os três milhares, e sem considerar os peregrinos que não se registam”, refere Abdón Fernández, adiantando, no entanto, que “mais do que estes dados, importante é a consciência que se consolida sobre as potencialidades deste caminho”.
Este foi, aliás, um dos temas centrais do encontro sócio-cultural que decorreu, nos dias 16 e 17 de julho, no largo do monólito do KM100 do Caminho da Geira e dos Arrieiros, nomeadamente na cerimónia de “agradecimento” com que a organização distinguiu três portugueses e um galego “pela sua contribuição e entrega incondicional ao crescimento do projeto do caminho”.
Os distinguidos foram o irmão maior da Arquiconfraria Universal do Apóstolo Santiago, Manuel Rocha; o delegado a Associação Espaço Jacobeus em Braga, António Devesa; o jornalista Carlos Ferreira, e o secretário geral da associação AJCMR, Dario Angel Rodriguez.
Na cerimónia, Abdón Fernández destacou o facto de Manuel Rocha e António Devesa “estarem presentes neste caminho desde a primeira hora”. “A humildade de estarem sempre com as pessoas e trabalhando o caminho é muito importante”, frisou o presidente da Plataforma Berán no Caminho, também escultor e autor da peça em pedra entregue aos agraciados e que simboliza o Caminho de Santiago.
O delegado da Associação Espaço Jacobeus em Braga referiu ter-se apercebido, “desde início, que este seria um caminho difícil, com muitas pedras fictícias, mas quem faz o caminho é o peregrino, não é a imposição de alguém, podem até fazer autoestradas de setas, mas é o peregrino que faz o caminho”.
O presidente do Conselho Regulador da Denominação de Origem Protegida do Ribeiro e da Associação Rota do Vinho do Ribeiro, Juan Manuel Gándara, considera que “os caminhos de Santiago são fundamentais, porque são pontos de chegada de visitantes à região, hoje como ao longo da história”.
“Estes caminhos eram a grandes autoestradas do desenvolvimento em que circulavam os arrieiros com o vinho do Ribeiro para Santiago de Compostela. Hoje em dia continuam a ser fundamentais, porque se supõe que os peregrinos que passem pelo território fiquem com um maior conhecimento das nossas qualidades”, adiantou Juan Manuel Gándara, considerando que o Ribeiro “está a viver uma nova primavera” e, neste contexto, tem como objetivos “aumentar a sua base territorial e potenciar-se como destino enoturístico de qualidade durante o ano inteiro”.
O 1º Encontro Internacional de Peregrinos do Caminho da Geira e dos Arrieiros incluiu ainda a bênção do novo sino da Capela de São Roque, oferecido por um casal recém-chegado a Berán (Fernando e Lúcia) e uma missa no último dia do evento, além de jogos tradicionais e música ao vivo.
O Caminho da Geira e dos Arrieiros foi apresentado em 2017 em Ribadavia (Galiza) e Braga, reconhecido pela Igreja em 2019, reconhecido pela associação de municípios transfronteiriços Eixo Atlântico em 2020 e é um itinerário oficial da Peregrinação Europeia de Jovens do Ano Santo Jacobeu 2021/22.
Este percurso de 240 quilómetros destaca-se por incluir patrimónios únicos no mundo: a Geira Romana, a via do género mais bem conservada do mundo, e a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés. Além disso, o seu traçado é um dos escassos cinco que ligam diretamente à Catedral de Santiago de Compostela.