Vasco Ferraz: “Gastamos o mesmo, fazemos menos”
O presidente da Câmara de Ponte de Lima reconhece que investir na melhoria das condições da população do concelho tornou-se um “bico de obra” pela instabilidade dos preços e falta de materiais com que se confrontam as empresas.
“Hoje em dia, efetivamente, para fazermos investimento, é um bico-de-obra, mas é um bico-de-obra para todas as partes. Para as câmaras, para os empreiteiros, e para próprias freguesias, onde, por norma, fazemos investimentos. Para os fazer precisamos, exatamente, do dobro do dinheiro que precisaríamos há poucos anos”, afirmou, Vasco Ferraz.
O autarca do CDS-PP adiantou que, “atualmente, uma empresa não consegue garantir o preço para o período de execução de uma empreitada de um ano. Dão um preço neste momento e, quando vão comprar os materiais para começar a empreitada, pelo menos tem sido essa a tendência ultimamente, já aumentou o preço dos materiais e têm dificuldade em fazer face a essas subidas”.
Segundo Vasco Ferraz, a Câmara de Ponte de Lima “trabalha muito com as empresas locais, para dinamizar a economia local”, mas até “as empresas com alguma dimensão e força para conseguir concorrer às obras maiores, que para elas são determinantes, estão a enfrentar essa dificuldade”.
“Atualmente, a câmara gasta o mesmo dinheiro, fazendo muito menos obra, o que se torna bastante complicado para evoluir. O concelho tem de evoluir, tem de ir melhorando as condições das infraestruturas, mas com este panorama fazemos apenas metade do trabalho”, argumentou Vasco Ferraz.
Segundo o autarca, “atualmente, um município, com o preço de uma obra, faria duas há quatro anos”.
Como exemplo da dificuldade que a instabilidade dos preços e da matéria-prima está a causar apontou a reabilitação da rua General Norton de Matos, com mais de 800 metros de extensão, no centro histórico de Ponte de Lima, num investimento previsto de mais de um milhão, mais IVA.
“Lançámos o concurso público para a execução da empreitada. Concorreu uma empresa que, depois, alegou não conseguir garantir tempo, prazo e preço e acabou por desistir”, explicou.
A autarquia, acrescentou, “até tem aumentado, de forma considerável, o valor base das obras, para acompanhar a tendência do mercado, mas enquanto se desenrola o processo [do concurso público], o mercado evolui de outra forma que o preço previsto já não chega”. “Tornou-se bastante complicado”, vincou.
O município vai lançar novo concurso para a reabilitação da rua General Norton de Matos, “alterando ligeiramente os trabalhos para tentar manter ter uma base idêntica, mas com menos obra para ver se as empresas se conseguem enquadrar dentro do preço base”.
“Os nossos preços são fixos, mesmo com as revisões extraordinárias de preços, que o Governo decretou, e temos de cumprir, e que também acabam por ser um problema. Temos revisões extraordinárias de preços com valores superiores a 10% do valor da empreitada. Nós prevemos uma empreitada por 100 mil euros, acabamos a obra e temos de dar mais 100, 150, 200 mil euros, por revisão de preços, acaba por se tornar difícil”, especificou.
Apesar daquele mecanismo, “as empresas não conseguem garantir o fornecimento de materiais dentro dos preços e dos prazos, e o município, com muita frequência aprova três e quatro prorrogações de prazos de execução de obras”.
Para Vasco Ferraz, a requalificação da rua Norton de Matos “é importante”, por se tratar de uma artéria “sem acessibilidades, com alguns problemas de drenagem águas pluviais e esgotos domésticos”.
“Não tem acessibilidade absolutamente nenhuma. Não passa um carrinho de bebé, quanto mais uma cadeira de rodas. É uma obra que terá tido uma intervenção no final dos anos 80, mas não teve essa preocupação. Queremos vamos melhorar pisos, pavimento, redes de infraestruturas, iluminação pública, enterrar todos os cabos que passam amarrados às fachadas das casas, entre outros trabalhos”, disse.