Em memória de Amândio Sousa Dantas

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Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História pela Universidade do Minho

 

Amândio Sousa Dantas, insigne limiano devoto das Letras, finou-se, deixando à sua pátria amada uma vasta obra literária, de índole poética, introspetiva, reflexiva, tão premente para a humanidade contemporânea. Há quem o compare com a craveira de António Feijó, mas no seu tempo e no seu espaço. Não tive o gosto de o conhecer em pessoa, por infortúnio, porém, como sou também aficionado das palavras, embora as teça na minha modéstia, com muito ainda a desbravar, não poderia deixar de lhe prestar, em tom de homenagem, algumas frases, cinzeladas por quem, como eu, também as extrai do mais profundo, quiçá, da natureza que desconheço de mim próprio e que, todavia, alenta alguns dos meus dias mais caliginosos. Talvez seja o meu alter ego, aquela voz que por vezes nos acorda e reprime, e à sua maneira, nos desvia da manada domesticada pela força infame do Homem, nos incitando a cogitar.

Saudosismo, dor intrépida que nos atormenta,

também a senti.

Na longínqua diáspora, de uma terra que não quis.

O Homem, semente de todo o tormento,

em sua vida bruxuleiam, esperanças de minguo tempo.

A morte, quiçá felicidade perene, a todos conduz,

como a desamanhado cordeiro, que a medo treme.

Ao Templo do Mestre, nesse mundo celeste,

fonte de toda a inquietação, o Homem almeja.

Na esperança da morte, semeia, colhe a razão,

mausoléus e templos sem fim, erguidos no pesar.

Arrebata-os com fulgor, na pressa do além,

por quem? Por quem o Homem suplica?

Porquê, o Homem se fica, na amargura sem termo?

O Paraíso está aqui, não nesse vil ermo.

Os poetas, em choque com o sistema, vivem o dilema,

arabesca natureza, depuram lá do fundo, a tristeza.

O panteão, cujo frontão cintila, acolhe luzes celestes,

outrora campestres, de um perfume sadio, que percorre,

como água do rio – o Lethes – seu trilho…