Professores do Alto Minho querem que Marcelo desbloqueie a luta
Mais de dois mil professores e auxiliares de educação do distrito de Viana do Castelo participaram, em Valença, numa manifestação pela escola pública e pediram ao Presidente da República para “desbloquear” as negociações com o Governo.
“Não há negociações efectivas para resolver as questões mais importantes. As negociações com o Governo estão a ser muito parciais e enviesadas. O presidente da República tem de intervir, necessariamente”, apelou Luís Braga.
À porta da sede do agrupamento de escolas Muralhas do Minho, onde se concentraram mais de dois mil docentes dos 10 concelhos do distrito de Viana do Castelo, o professor de história, acusou o Governo de “só estár a negociar os concursos”.
Docente em Viana do Castelo, Luís Braga é o autor da carta aberta dirigia a Marcelo Rebelo de Sousa que, “em 24 horas, recolheu mais de 6.500 assinaturas”.
“O que se está a pedir ao Presidente da República é que use os seus poderes. É eleito diretamente pelo povo, é o guardião da Constituição. No próximo sábado, a manifestação à porta do Palácio de Belém tem esse objetivo. Dizer ao Presidente da República que tem de desbloquear o impasse negocial”, acrescentou.
Mais de cinco mil pessoas assinaram uma petição ‘online’ a pedir a intervenção do Presidente da República no processo que opõe Ministério da Educação e sindicatos e que tem motivado greves nas escolas desde dezembro.
A petição foi colocada ‘online’ na segunda-feira e às 11:00 desta terça-feira contava com 5.761 assinaturas.
Os subscritores pedem ao Presidente da República que, no sábado, compareça junto dos manifestantes que vão participar num protesto convocado pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP), que começa junto ao Ministério da Educação e termina no Palácio de Belém.
O protesto à porta da escola EB 2,3/Secundária Muralhas do Minho ganhou forma de marcha, animada por cânticos e palavras de ordem. “Costa escuta, o Alto Minho está em luta”, “Piu, piu, piu, o ministro já caiu”, “Escolas unidas jamais serão vencidas”.
O desfile por Valença percorreu cerca de 1,5 quilómetros, até ao interior da fortaleza, parou por minutos à porta da Câmara Municipal, onde as palavras de ordem subiram de tom e, rumou até ao monumento aos Combatentes da Grande Guerra, palco de intervenções de professores e do coordenador do Sindicato de Todos os Professores (STOP).
Paulo Cunha, docente de Geografia e História na EB 2,3/Secundária Muralhas do Minho, insistiu na necessidade de intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa
“Não votamos num Presidente da República para ser comentador desportivo. Votamos num Presidente da República para resolver os problemas efetivos do país”, afirmou, aplaudido pelas centenas de colegas e, ladeado pelo coordenador STOP.
André Pestana realçou a “solidariedade” entre docentes e não docentes, nos protestos em defesa da escola pública e garantiu que os profissionais da educação não estão dispostos a “ceder mais tempo” por “direitos” que esperam há muitos anos, entre eles a “igualdade entre todos os docentes do continente, dos Açores e Madeira”.
“Se o ministro reconhecesse isto, esta luta iria acalmar. Nós sabemos que não é possível conseguir tudo de uma vez, mas se o Governo quer acalmar esta luta tem de ceder em coisas muito simples. Não estamos a pedir o paraíso. Estamos a pedir coisas concertadas e realistas”, atirou, referindo ainda que “o pessoal não docente tem de trabalhar 120 anos para chegar ao topo da carreira”, auferindo “salários de miséria”.
Impressionado com “a moldura humana” do protesto em Valença, André Pestana disse ser um sinal de que os profissionais da educação “estão motivadíssimos” para marchar em Lisboa, no próximo dia 28.
“Eles [Governo] estão assustados. Muitos de nós estamos a ver, pela primeira vez, o poder com medo. Até Bruxelas [União Europeia] está a ouvir esta luta. É disto que eles têm medo”, atirou.
Para o STOP o fim das greves está dependente de um conjunto de reivindicações como a recuperação integral do tempo de serviço congelado durante a ‘troika’ ou o fim das quotas e vagas de acesso ao 5.ºe 7.º escalões.
Outras das exigências do STOP prendem-se com o fim da precariedade e um aumento salarial mínimo de 120 euros.
A luta do sindicato traduz-se diariamente em greves nas escolas e numa nova manifestação a 28 de janeiro.