Vaca das Cordas corre em Ponte de Lima desde 1604 e ainda “foge” à chuva em 2023

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Nem a chuva arrefeceu os ânimos a milhares de sequiosos seguidores da Vaca das Cordas. Timidamente, o sol espreitou e o touro com  quase meia tonelada saiu a toda a velocidade da Casa de Aurora para cumprir o percurso consagrado pela tradição, precedido e seguido por uma multidão receosa e empolgada.

Desde 11 de julho de 1604 que há registos da “corrida” da Vaca das Cordas em Ponte de Lima! Segundo Adelino Tito de Morais, esta é provavelmente “a data mais remota da Vaca das Cordas”, anterior mesmo à obrigação acordada em 1646 dos moleiros do concelho pegarem às cordas do animal. “Há uma deliberação tomada a 11 de Julho do ano de 1604, segundo a qual o adjudicatário de fornecer carne para consumo dos limianos era obrigado a contribuir com gado bravo para a festa”, revela o investigador limiano, citando a “obrigação do marchante obrigado ao corte nos açougues a dar seis touros para a festa de Corpus Christi, sendo 5 no dia, e um para ser corrido na véspera com cordas”. 

“Esta é a notícia mais antiga referente ao divertimento e usança da população local, anulando alguma desvaria de mitos e lendas como no século XIX era costume apregoar. Ainda sobre pesquisas no arquivo municipal, existe, ainda, uma outra sobre o cumprimento da tradição oitenta anos depois. Trata-se, igualmente, de deliberação tomada em 22 de Janeiro de 1684, nomeando dois moradores da vila para a prática profana no âmbito da Festa de Corpo de Deus. Assim, nessa sessão foi deliberado que Gaspar Gonçalves e Manuel Rebelo, moradores no bairro do Pinheiro, se ocupassem de… correr dois touros cada no Dia de Corpo de Deus e no dia de Véspera, um para correr à volta da Igreja Matriz como é costume”, recorda.

No ano imediato, o contrato para a Vaca das Cordas mantém-se. “É que, novamente, a nossa edilidade, reunida em 23 de Maio de 1685, cumpria a tradição, impondo ao marchante de Barcelos, a quem fôra adjudicado o fornecimento alimentar desse produto, contribuir com quatro touros. Quanto ao programa religioso desse tempo, é de realçar os sermões na Igreja Matriz e procissão, de acordo com documentação erecta no templo, o que ainda era vigente no primeiro quartel do século XIX”, regista.