“O Instituto Politécnico de Viana do Castelo, na realidade, é uma Universidade”

0
1706

A pouco tempo de ser jubilado, Mário Russo, professor coordenador da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) na área da Engenharia Civil e do Ambiente, foi distinguido pelo IPVC pelos seus 35 anos ao serviço da instituição na qual entrou através de um concurso público e foi acolhido pelo professor Lima de Carvalho, que recorda com grande carinho.

“Este é o meu último semestre. Depois, poderei dar algumas palestras, orientar algum mestrado, algum doutoramento, mas a nível de obrigatoriedade, de responsabilidade, de preparar aulas, de avaliar alunos, termina agora”, anunciou, sem esconder que, apesar de mais de três décadas de trabalho, há muito que ainda gostaria de poder fazer.

“Aprendi imenso com o professor Lima de Carvalho, que deixou um legado absolutamente extraordinário nesta instituição. Mas tive outras boas memórias. Eu fui aprendendo ao longo do tempo e esta instituição deu-me a oportunidade da internacionalização e de fazer parte de vários fóruns”, declarou.

O docente salientou ainda que o IPVC tem “um espírito de grupo muito bom”, apesar de nos últimos anos, fruto do crescimento da instituição de ensino, ter começado a haver um maior distanciamento entre professores.

“As pessoas já não se conhecem. Há professores que eu já não conheço. Não há aquele espírito de acolhimento como na minha altura. As escolas estão separadas, e, ao estarem separadas, nós não conhecemos os docentes das outras escolas”, lamentou. 

Quanto à relação entre professor e aluno, porém, Mário Russo não tem dúvidas de que é muito boa. “Os alunos referem que há uma grande proximidade com o docente. Eu andei em universidades e havia um maior distanciamento. A não ser no mestrado ou no doutoramento, onde é muito direto. Mas a nível de licenciatura, não é muito comum. E essa foi uma das inovações, a nível pedagógico, que os Politécnicos trouxeram a Portugal”, enalteceu.

Ainda assim, lembra que continua a haver um preconceito muito grande relativamente ao termo “Politécnico”. “Nunca tive dúvida em duas coisas. Uma delas é a mudança do nome da instituição, porque nós não somos um instituto, na realidade. Somos uma Universidade Politécnica. Há o pensamento de que a Universidade é melhor do que o Politécnico, mas ambos pertencem ao mesmo sistema de Ensino Superior. E a mudança de nome vai ser muito importante na captação de estudantes e no próprio reconhecimento internacional”, sublinhou. “E há outra coisa fundamental que temos de aproveitar: a atractividade das cidades. Viana do Castelo tem algumas singularidades e as pessoas gostam e querem ver. Então, quanto mais inovadora for a cidade em alguns aspetos, como na área ambiental, ou na sustentabilidade, a qualidade de vida da cidade atrai”, considerou.

Com os olhos postos no futuro da instituição, apesar de estar prestes a concluir funções, Mário Russo não se esquece do passado. “Quando eu vim para cá, o único edifício do Politécnico era esta sede e metade estava inoperacional. Chovia em alguns compartimentos, onde estava o professor Lima de Carvalho, por exemplo. Nós começamos do zero”, recordou.

“Eu achava que o mais fácil seria construir, e havia quem dissesse que não. Mas era! O mais difícil, para mim, seria colocar os recursos humanos adequados na instituição, isso é que iria levar muito tempo, e foi. Para ter um docente doutorado, normalmente, demorava dez anos, porque tem mestrado e doutoramento. Agora, começa a encurtar-se, mas antigamente era quase impossível. Podia ser docente, mas não pertencia à carreira. E a dificuldade foi exatamente essa. Atualmente, a maioria dos docentes já estão doutorados. E um dos meus grandes desafios foi esse: eu saio, mas tenho de deixar toda a gente doutorada”, assumiu.

Em jeito de despedida, e embora mantenha a vontade de, mesmo depois de deixar de dar aulas, continuar a dar palestras ou orientar algum aluno de mestrado ou de doutoramento, Mário Russo deixou um desafio aos futuros protagonistas do IPVC. “Que se empenhem. E o principal foco são os alunos. Eles são o mais importante e a quem devemos dedicar a nossa atenção. Eles têm de ser bons técnicos, mas excelentes seres humanos. Já dizia o professor Lima de Carvalho: primeiro o homem e depois o técnico!”, finalizou.

O Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) homenageou alunos, funcionários e professores na sessão solene comemorativa do 37.º aniversário da instituição, que se realizou no auditório professor Lima de Carvalho. Entre os homenageados, ressaltam mensagens de gratidão, reconhecimento e expectativa em relação ao futuro.  

Letícia Pereira da Silva, de 18 anos, foi distinguida por ter sido a aluna com a melhor média de entrada na licenciatura em Enfermagem, no ano letivo 2022/2023. “É como se fosse um prémio, um reconhecimento, de que o meu trabalho e o meu esforço compensaram. Foi uma emoção muito grande”, assumiu a jovem, que sempre teve o sonho de entrar no IPVC.

“Foi sempre a minha primeira opção. Tenho uma amiga que também estudou Enfermagem no IPVC, licenciou-se cá, e deu-me um feedback muito positivo. Arrisquei e estou a gostar muito”, garantiu a estudante natural de Vila do Conde, para quem as principais dificuldades têm sido o facto de, pela primeira vez, estar longe de casa.

“Eu sou uma aluna deslocada, estou a morar cá, ainda não cortei o cordão umbilical dos meus pais, então as saudades ainda custam muito. Mas isso é um motor para me manter ocupada com os estudos, com a escola, e para empenhar-me ao máximo”, garantiu a aluna, admitindo que teve de estudar muito para conseguir alcançar a melhor média. “É não esperar pela vontade de fazer. É, mesmo sem vontade, estar ali na força do ódio, como se costuma dizer”, gracejou, antes de realçar o forte apoio que os pais lhe têm dado. 

“Nunca me impuseram aquela obrigação de ser a melhor, mas sim para dar o meu melhor e para ser, simplesmente, feliz. São, sem dúvida, os meus maiores apoios”, reconheceu. Antes de entrar no IPVC, Letícia não fazia ideia de como era o mundo académico. “Eu pensava que era só estudo, estudo, estudo, mas afinal há muitas outras coisas”, notou. Entre elas, as tunas. “Eu nunca tinha visto atuações e adoro”, confessou.

Maria Filipa Silva, de 52 anos, é natural de Refóios do Lima, Ponte de Lima, e trabalha no IPVC há 25 anos. Atualmente, como chefe de Divisão dos Recursos Humanos. Foi distinguida pelas duas décadas e meia que tem dedicado ao Politécnico. “O IPVC é a minha casa, a minha segunda casa. Eu vim para aqui no ano em que casei. Casei em julho de 1998, faz este ano 25 anos, e iniciei funções no dia 1 de setembro. Portanto, tem sido a instituição que me acompanhou ao longo destes anos todos, que me fez crescer enquanto profissional e também enquanto pessoa”, afirmou, minutos depois de ter sido homenageada pela instituição, onde diz ser “gratificante” trabalhar.

“Não me vejo a trabalhar noutro sítio. Na minha área, poderia ter ido para outra carreira, mas apesar de ser licenciada em Direito nunca me revi na advocacia. A Administração Pública sempre me fascinou mais”, admitiu a profissional que, antes de abraçar o desafio na área dos Recursos Humanos, esteve na Ação Social, “à frente das bolsas de estudo”.

“É uma área que considero ser muito importante, porque é o suporte para os alunos poderem estudar. E fico muito feliz porque vou a qualquer lado e eles continuam a reconhecer-me”, referiu.