Campeão europeu, Ricardo Costa foi feliz em Calheiros e matou saudades em Barcelos

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Com uma carreira recheada de títulos nacionais e internacionais no futebol, Ricardo Costa ainda não descalçou as chuteiras, apesar de já se ter aventurado com a braçadeira de treinador. Veterano do FC Porto, emblema que lhe deu o título de campeão europeu, o antigo central dos dragões passou por Barcelos e matou saudades do velhinho estádio do Gil Vicente, onde reencontrou craques de outros tempos, e partilhou a sua paixão por Ponte de Lima, onde já morou, e o gosto pelo cabrito do Alto Minho.
Natural de Mafamude, em Vila Nova de Gaia, Ricardo Costa começou a ficar apaixonado pelo futebol por causa de um acidente que sofreu aos seis anos. “Peguei fogo e quase fiquei sem uma perna numa festa típica da praia de Valadares. Numa brincadeira no churrasco, acabou por saltar o álcool por cima de mim e peguei fogo. Estive um ano a recuperar e chorava quando via os colegas a jogar à bola porque também queria estar com eles. A paixão começou aí, por ver os meus colegas a jogar e eu não poder”, contou o antigo internacional, que começou a jogar à bola no Valadares, fez a formação no Boavista até aos 17 anos e depois foi para o FC Porto, onde conquistou todos os títulos, incluindo uma Liga Europa, uma Liga dos Campeões e uma Taça Intercontinental. “Quem me lançou na equipa principal do FC Porto foi o Octávio Machado”, faz questão de referir o antigo central de 41 anos, que agora é o treinador dos sub-17 do FC Porto e tem o seu antigo colega de equipa, Capucho, que é natural de Barcelos, a treinar os sub-19. “Jogamos juntos três anos na equipa principal do Porto, dámo-nos bem e esta terra é bonita. O Hugo Viana também é daqui e gostamos de vir cá ao restaurante “Turismo”, onde come muito bem”, assegurou, entre risos, enquanto aguardava a final do torneio de veteranos que o Gil Vicente organizou durante a Festa das Cruzes de Barcelos. O troféu deste torneio foi mais um que Ricardo Costa juntou ao seu vasto palmarés que inclui quatro campeonatos nacionais da I Liga, três taças de Portugal, quatro super taças Cândido Oliveira e ainda uma Bundesliga pelo Wolfsburg. “Ganhei ao Bayern de Munique por 5-1 num jogo decisivo”, destacou, orgulhoso. O seu percurso ainda incluiu o Valencia, o PAOK, Granada e Luzern, mas o jogo que mais o marcou foi a vitória do FC Porto contra o Celtic para a Taça UEFA. “Ganhámos 3-2 e foi um jogo de emoções bravas e complicadas até aos 120 minutos”, lembrou antigo capitão do FC Porto que usou a “mítica” camisola 2 de João Pinto e Jorge Costa.
Pela Seleção Nacional, Ricardo Costa fez três mundiais e dois europeus, com Scolari, Carlos Queirós e Paulo Bento. “O jogo do Mundial que mais me marcou foi contra os Estados Unidos porque salvei o golo na linha de golo, se entrasse, éramos eliminados. Mas desfrutei muito dos jogos contra o Brasil, Espanha, Alemanha…”, enumerou o ex-internacional que desvendou, entre risos, o segredo para vencer o Messi: “É dar-lhe umas porradas para ele não ter bola, porque se a tiver nos pés, é muito rápido e depois ninguém o apanha.” Colega de equipa de Cristiano Ronaldo, diz que “o melhor do mundo” é “gente boa para carago, simples e com pureza máxima”. Ricardo Costa também foi colega do vianense Tiago Mendes na Seleção das Quinas. “Mas joguei contra ele quando estava no FC Porto e no Valencia. Ele é uma jóia de menino”, elogiou Ricardo, que continua a dar-se com o craque vianense, cujo filho está nos sub16 do Boavista. “Eu gosto muito desta região. Já tive uma moradia em Calheiros, Ponte de Lima, durante 10 anos. Conheci o conde de Calheiros e é uma figura espetacular. Eu ia jogar futebol para o campinho pelado de Calheiros”, contou. Entretanto, já vendeu a moradia, mas continua a ir a Ponte de Lima por causa da gastronomia. “Quando vou a Ponte de Lima é para ir ao restaurante Carvalheira, sarrabulho é um bocado forte, por isso, vou atrás do cabrito que é muito bom”, confidenciou o craque, que também não resistiu a umas bolas de Berlim, quando foi a um torneio de futebol em Viana do Castelo. Em plenas Festas das Cruzes de Barcelos, Ricardo Costa fez mea culpa e disse que não conhece a primeira grande romaria do Minho.
Após 20 anos como profissional de futebol, Ricardo Costa não consegue desligar-se do “desporto rei” e já passou o bichinho aos filhos. Um está na formação do FC Porto e outro no Boavista. A sua carreira terminou no Boavista, clube onde ainda foi director desportivo durante oito meses e saiu após atritos com adeptos. Iniciou o percurso de treinador no Belenenses SAD com Petit e agora está na formação dos juvenis dos dragões. Mas apesar de ser treinador, ainda não quer deixar de jogar futebol, por isso, há cerca de ano e meio entrou para os veteranos do FC Porto. “A experiência está a ser muito boa, representa o culminar da união entre gerações que é de louvar”, reconheceu o veterano, que tem como colegas de equipa alguns jogadores com quem jogou na equipa principal do FC Porto, como Ricardo Silva e Ruben Júnior. “É muito bonito jogar nesta equipa porque vimos todos com gosto, para divertirmo-nos e ganhamos”, acrescentou Ricardo que jogou muitas vezes no estádio Adelino Ribeiro Novo contra o Gil Vicente. “Estou a matar saudades deste campo que é lindo! Já não vinha aqui há alguns anos, mas o relvado continua espectacular, é de louvar o cuidado que têm com o campo. Quando vínhamos cá jogar, dizíamos sempre que o campo e as bancadas podem ser apertadinhos, mas o relvado é espetacular e continua intacto, com qualidade acima da média”, elogiou, nostálgico por recordar os golos e as bancadas pejadas de adeptos nos jogos contra o Gil Vicente. “Aqui não marquei nenhum golo, mas evitei muitos. O jogadores do Gil Vicente, em casa, eram bravos e jogar aqui era mais difícil do que no estádio novo. Ter espaço para circular bola e criar situações de golo era muito difícil. Lembro-me do treinador Luis Campos que complicava-nos muito a vida”, recordou o ex-defesa central que reencontrou, neste torneio, Formoso, veterano do Gil Vicente. “Eu chamo-o de Formosinho, apanhei-o no Boavista quando eu ainda tinha 17 anos, ele já estava nos seniores do Boavista”, partilhou o craque que gosta do seu sossego e de ver os filhos a crescer e a jogar à bola.