Agricultores “excomungam” Manual do Peregrino
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) denunciou a existência de um “Manual do Peregrino”, produzido para os participantes da Jornada Mundial da Juventude, que sugere – “com base numa calculadora de medição de pegada carbónica desenvolvida por entidades totalmente alheias à área alimentar” – que “os jovens se tornem vegetarianos durante um ano como forma de compensarem as emissões de carbono resultantes da sua deslocação em avião ao nosso país”.
A CAP teme que “esta recomendação – feita sem qualquer cuidado ou contexto por estas duas entidades, e disponibilizada no “Manual do Peregrino” – que é contrária ao direito universal básico a uma alimentação nutritiva e equilibrada, possa induzir os jovens a adotarem um comportamento alimentar extremo e radical com consequências que podem ser graves para a sua saúde e desenvolvimento físico e cognitivo, sobretudo naqueles que ainda não atingiram a idade adulta”.
A CAP apela “à Organização da JMJ, desta vez publicamente, para que tome a única atitude responsável e elimine esta sugestão absurda e radical, na documentação que disponibiliza aos peregrinos”.
“Solicita-se que as entidades que efetuaram a sugestão a eliminem por completo, ou que a substituam por exemplos que conhecem, da sua própria área de atividade, essa sim que enfrenta verdadeiros problemas ambientais, em vez de proporem o fim do consumo alimentar de carne durante um ano, conselho contrário à evidência científica e à promoção da saúde pública”, salienta a nota da CAP, acrescentando:
“Manter a sugestão de que a adoção do vegetarianismo por um ano compensará emissões produzidas numa viagem de ida e volta de avião, e que isso vai melhorar o ambiente seria de uma enorme irresponsabilidade e representaria uma subordinação incompreensível a uma agenda animalista.”
“O tema da redução das emissões carbónicas, que é sem dúvida da maior importância, não pode ser confundido com o tema, mais global, da sustentabilidade – para o qual a agricultura e atividade pecuária prestam um contributo fundamental. Há modelos de produção animal, como o de pasto extensivo, enormemente praticado em Portugal, que são um paradigma de sustentabilidade, pelo que promover ativamente a eliminação do consumo de carne é, em algumas situações, contribuir para graves desequilíbrios ambientais, uma vez que estes animais, destinados ao consumo, desempenham um papel incontornável no equilíbrio e preservação de importantes ecossistemas”, vinca a CAP.
A CAP considera “muito relevante que se aproveite este evento de expressão mundial, ao qual nos associámos desde o primeiro momento, para sensibilizar para a importância da adoção de comportamentos e atitudes sustentáveis, na linha do pensamento do Papa Francisco, espelhado, designadamente, na encíclica “Laudato Sí”, mas não pode aceitar em silêncio uma recomendação – que é contrária aos interesses dos jovens e da população em geral, da saúde pública, do setor produtivo, e que é a antítese do próprio conceito de sustentabilidade – faça caminho e seja normalizada”.