Clube Náutico de Ponte de Lima tem mais duas esperanças mundiais

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Francisco Santos e Daniel Sousa, atletas do Clube Náutico de Ponte de Lima, vão competir no Mundial de Maratonas de Canoagem, que será disputado de 31 de Agosto a 3 de Setembro na Dinamarca. O primeiro não se amedronta no seu primeiro ano de sénior e garante que está preparado para poder subir a um lugar do pódio. Já o mais novo, estreante com as cores da selecção, garante que não se vai “baldar” e promete dar o seu “melhor” em k1 junior. 

Os resultados do atleta de 19 anos do Clube Náutico de Ponte de Lima, Francisco Santos, valeram-lhe, mais uma vez, a vaga na selecção nacional e a oportunidade de disputar o mundial de canoagem, desta vez em K1 sub-23. O atleta, afirma que esta conquista foi resultado do trabalho que vem a ser feito desde há várias épocas. “No ano passado já tive uma boa época, tanto a nível individual como coletivo, e penso que tenho vindo a dar continuidade a esses resultados”, salientou, realçando que a conquista é fruto do seu trabalho e dos seus treinadores. Nesta época, Francisco destacou o resultado no controlo nacional dos  2000 metros. “Tive também algumas provas que não saí tão satisfeito, mas entrando nas provas de maratona embalei bem. Tive um pouco de medo porque subi de escalão, uma vez que agora sou sénior e compito contra atletas muito mais experientes e mais fortes”, afirmou.

Como perspectivas para o Mundial, Francisco considera que as expectativas melhoraram depois da sua prestação no Europeu da Croácia no passado mês de julho, onde ficou à porta do pódio. “Antes do Europeu as minhas expectativas eram ir e fazer o meu melhor. Tinham-me dito que o K1 sub-23 era uma prova muito diferente do K1 júnior ou dos seniores, que era muito mais agressiva, com muitos sprints. Não sei se este ano foi mais calma, mas acho que estive bem e senti-me como nunca me tinha sentido numa prova internacional”, afirma Francisco sobre o Europeu da Croácia, onde ficou a dois segundos do primeiro lugar. “Dá-me sempre mais confiança, pois, eu ia um pouco apagado sobre o que me esperava no Europeu e agora que estou mais enquadrado na prova do K1 sub-23 acho que vou bastante mais confiante”, sustenta.

Os bons resultados de Francisco Santos na modalidade apareceram depois de no final da época de 2020 quase ter decidido abandonar a canoagem. Residente na Meadela, Viana do Castelo, tinha dificuldade em conciliar os estudos com a viagem diária entre a Princesa do Lima  a vila limiana, onde treinava, acumulando o cansaço. No entanto, um antigo treinador convenceu-o a treinar um mês para a última prova da época, e, se não tivesse virado, teria ficado entre os três primeiros lugares. “Saber como os meus adversários treinaram um ano inteiro e eu com um mês consegui fazer aquilo, encorajou-me para tentar dar um passo em frente e foi aí que eu e os meus pais decidimos que eu devia vir estudar para Ponte de Lima para conciliar os estudos com a canoagem”, recordou Francisco, que concluiu o 12º ano e pretende agora licenciar-se em psicologia na Universidade de Coimbra. “Para descobrir o mistério desta situação ter mudado a minha vida”, explicou, frisando que, desde essa mudança, os seus resultados escolares e desportivos melhoraram a olhos vistos. A escolha de Coimbra prende-se com o facto de poder estar próximo do Centro de Alto Rendimento, o que lhe permite continuar a treinar ao mais alto nível.

Já o canoista Daniel Sousa, de 17 anos, vai estrear-se ao serviço da selecção nacional, competindo em K1 junior. “Esta foi a época mais motivante que tive”, afirmou, contando que se decidiu pela disciplina da maratona desde “muito pequenino”, quando assistiu a uma prova em Ponte de Lima. “Este ano foi o realizar do sonho, pois fiz a minha primeira maratona e então entrei na época motivado, mas não foi fácil pois foi difícil conciliar treinos e encontrar parceiros de treinos”, explicou, garantindo que sempre se manteve motivado, apesar de alguns constrangimentos. “Acredito que foi o querer alcançar o objetivo de uma prova internacional que fez com que esta fosse a minha melhor época”, sustentou o jovem atleta da freguesia de Arcozelo, referindo os resultados no campeonato nacional de fundo, onde empatou com quatro pessoas no pódio, a Taça de Portugal de Maratona e o controlo nacional. Para Daniel Sousa é “uma grande responsabilidade” representar a selecção nacional. “Muitas pessoas treinam para ir lá mas quando chegam sentem que já não é uma obrigação. Vão tentar dar o seu melhor, mas já não se aplicam tanto. Mas para mim é, porque se lutei tanto para estar lá era desrespeitoso para mim próprio chegar lá e baldar-me”, afirma o jovem.

Daniel Sousa entrou com 7 anos para a canoagem, influenciado pelas irmãs, que já praticavam este desporto. “Eu na altura não queria vir, porque tinha medo de me afogar, mesmo sabendo que tinham coletes, mas a minha mãe insistiu e eu entrei”, afirmou o atleta que começou a competir com apenas 9 anos. “Também existiram alturas onde pensei desistir, porque é cansativo”, revela Daniel, considerando que o responsável por ter continuado foi o seu antigo treinador. “Na altura do covid, marcávamos treinos em horas diferentes, mas eu não vinha, não tinha vontade e nessa altura como não se saía de casa preferia ficar a jogar jogos e não tinha vontade de sair. Numa altura esse treinador ligou-me a dizer que queria que eu fizesse uma prova, que era a primeira prova da época, e mesmo sem treino ia lá para ver como eram as coisas e ele disse para começar a treinar”, recordou Daniel, considerando que esse telefonema “mudou tudo”.

Ainda assim, nota que nem sempre é fácil consolidar a escola com a canoagem, sendo obrigado a abdicar de várias coisas em prol do desporto de competição. “Nesta altura do verão, a maior parte das pessoas da nossa idade está de férias, a sair e a aproveitar a praia. No entanto, não dão deixa de ser fácil não poder usufruir disso tudo porque como é uma coisa que nós gostamos dá para ultrapassar e seguir em frente”, vincou o atleta.

Como inspirações, Daniel considera o José Ramalho como a sua maior inspiração. “Em 2017 quando ele foi campeão europeu, lembro-me que fiquei muito feliz quando ele ganhou, eu tinha-lhe segurado o barco na largada e depois tirei uma foto com a medalha que ele ganhou sentado no colo dele, e este ano no fim das provas, fui tirar uma foto com ele e deu a ideia de repetir a foto”, afirmou o atleta Arcozelense.  Francisco concorda e acrescenta o atleta Limiano Fernando Pimenta. “São as maiores figuras da canoagem portuguesa e é inevitável não nos inspirarem, treinar de perto com eles é perceber que eles têm de ser os nossos exemplos, porque são umas máquinas”, declara o atleta vianense.

Bruno Cerqueira, o técnico que orienta estes dois atletas, mostrou-se “orgulhoso” com a conquista de ambos. “É o reconhecimento do trabalho deles. Já fizeram um Europeu a um nível muito alto. Trabalharam bastante e conseguiram excelente resultados. Vão continuar a trabalhar com empenho e espero que continuem a manter o nível que já nos habituaram”, desejou, garantindo que Francisco Santos e Daniel Sousa “dão sempre” o seu melhor. “São muito dedicados à modalidade. São muito parecidos, muito trabalhadores e merecem por aquilo que estão a passar”, vincou, desejando que a prestação destes atletas possa ser reconhecida a vários níveis. “Merecem ser apoiados. Abdicam muito da vida pessoal para estar aqui. os jovens da idade deles passam o verão a divertir-se e eles passam o tempo no clube a treinar ou a ajudar nas actividades. Estão muito ligados a esta família”, salientou o treinador, afirmando que também é um “orgulho” para o  do Clube Náutico de Ponte de Lima “ter atletas como o Francisco e o Daniel”. “O Clube está a voltar a ter uma família muito forte no seio dos atletas e é importante sermos reconhecidos pelo nosso trabalho. Apesar destes dois representaram o náutico limiano e Portugal, atrás deles estão outros miúdos que também trabalham muito e não tiveram a sorte de conseguir os resultados que eles conseguiram, mas apoiam-nos e vão com eles para todo o lado. Todos se sentem orgulhosos pelo trabalho que têm feito”, garantiu.