“Enfermeiros da Unidade Local de Saúde de Viana são poucos e estão exaustos”
O Sindicato dos Enfermeiros (SE) denunciou hoje a “exaustão e escassez” daqueles profissionais de saúde na Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), resultado do excesso de procura do serviço de urgência e do absentismo.
“Os enfermeiros do serviço de urgência da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) queixam-se dos elevados níveis de exaustão, da escassez de recursos humanos e do excessivo número de horas extraordinárias programadas que cada enfermeiro tem de cumprir para assegurar escala”, refere em comunicado o SE.
Segundo o sindicato, “o cansaço físico e psicológico é de tal monta que os níveis de absentismo laboral inesperados estão a aumentar de forma significativa”.
“Apesar de a equipa do serviço de urgência ter quase 90 enfermeiros, a taxa de absentismo ronda os 20%, seja por doença ou gozo de licenças de maternidade e paternidade. Além disso, aproximadamente 15 a 20% dos elementos só fazem manhãs ou trabalham apenas até às 20:00. Foi-nos ainda reportado que há enfermeiros que, com a conivência das chefias, têm horários personalizados”, aponta o presidente do SE, Pedro Costa, citado na nota enviada à imprensa.
Em resposta, por escrito, a um pedido de esclarecimento enviado pela Lusa, o conselho de administração da ULSAM adianta que “todas as situações de absentismo passíveis de serem substituídas, nomeadamente ao abrigo da Maternidade, estão asseguradas”.
“Os horários flexíveis existentes no serviço resultam do cumprimento da Lei, nomeadamente da proteção no âmbito da Parentalidade bem como das recomendações da Medicina do Trabalho. Confirma-se a necessidade de recorrer a trabalho extraordinário para colmatar ausências de curta duração, mas sempre respeitando a vontade dos profissionais e não impondo trabalho extraordinário para além do limite”, adianta a administração da ULSAM.
Segundo Pedro Costa, o serviço de urgência da ULSAM tem registado “um aumento da procura dos doentes” que se reflete nos “tempos de espera e de permanência” naquele serviço.
“No caso desta unidade, a administração justifica a ausência de decisões com o facto de estar em gestão corrente e, por isso, não poder assumir um acréscimo de despesa. Tudo junto, está a converter-se num ‘cocktail’ explosivo, que está a contribuir para um crescente descontentamento dos enfermeiros”, alerta o presidente do SE.
Pedro Costa refere que “só desde o início do ano, um total de 20 enfermeiros pediu transferência”.
“Os colegas estão desmotivados, cansados e sentem que não têm condições para prestar cuidados de enfermagem adequados. No limite, a exaustão e escassez de recursos humanos pode colocar em risco a saúde dos doentes, pois é impossível meia dúzia de enfermeiros fazer, em cada turno, o trabalho de 15 ou 20 colegas, numa situação que se repete 365 dias por ano”, salientou.
Para o SE, “é urgente que sejam adotadas medidas que permitam mitigar estes problemas”, uma vez que com a chegada do inverno é “expectável um acréscimo de procura das urgências, já de si e, nesta altura, no limite da capacidade de resposta”.
“Há uma carga de trabalho excessiva para o número de enfermeiros que estão ao serviço, pelo que as chefias recorrem a horas extraordinárias programadas para suprir as falhas nas escalas. A maioria dos enfermeiros tem 20 a 30 horas extraordinárias programadas para assegurar a escala”, acrescenta o presidente do SE, destacando que, “legalmente, os enfermeiros podem recusar-se a cumprir essas horas”.
Já a administração da ULSAM destaca que o “Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (SUMC) conta, na presente data, com uma equipa de enfermagem de 80 enfermeiros, equipa que foi reforçada com mais 31 enfermeiros nos últimos cinco anos”.
A ULSAM acrescenta que “o número de utentes atendidos no SUMC é na presente data, em todo sobreponível aos anos de 2019 e 2022 e, inferior aos anos de 2017 e 2018. Não aludimos aos anos 2020 e 2021 com características específicas devido à pandemia [covid-19]”.
Para o SE, “muitas administrações hospitalares confrontam-se com fortes constrangimentos à contratação de enfermeiros para suprir falhas nas escalas de serviço, mesmo em relação a baixas prolongadas” porque “as regras de contratação são extremamente burocráticas e estão dependentes de mais do que um ministério”.
“Essas regras não têm em conta a volatilidade da profissão, em especial nas urgências, em que estamos sempre expostos ao risco, sob forte pressão dos doentes e dos familiares, que pretendem respostas que, em muitos casos, não podemos dar”, reforçou Pedro Costa.