“Manuela Rey is in da House” para abrir o Festival de Teatro de Viana do Castelo
A peça “Manuela Rey Is In Da House”, coprodução luso-galaica sobre a vida da atriz e escritora galega apelidada de “mulher lírio” estreia na sexta-feira, na abertura do festival de teatro de Viana do Castelo.
A peça/documentário conta o percurso artístico de Manuela Rey, que nasceu em 1872, na aldeia de Mondoñedo, em Lugo, na Galiza, e morreu aos 23 anos, em Lisboa onde se tornou na primeira atriz do elenco residente do Teatro Nacional D. Maria II, tendo sido sepultada no cemitério dos Prazeres.
A coprodução do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, Centro Dramático Galego, Teatro Nacional São João e Teatro Nacional D. Maria II, quer “resgatar” a “história esquecida” de “uma grande personalidade do teatro galego e português”.
“É um dever do teatro público recuperar a figura de Manuela Rey, uma miúda do século XIX que chegou a ser uma grande personalidade do teatro português”, afirmou o encenador Fran Núñez.
No final do ensaio de imprensa da peça “Manuela Rey Is In Da House”, o encenador galego explicou ser “um dever do teatro público recuperar a figura de Manuela Rey, “apagada” da história do teatro.
Há três anos, quando assumiu a direção do Centro Dramático Galego, Fran Núñez começou a pesquisar sobre a vida da atriz e escritora galega e apenas conseguiu reunir fragmentos dos seus textos que abrem e fecham a peça que, na sexta-feira, às 21:00 e, no sábado, às 19:00, sobe ao palco do Teatro Municipal Sá de Miranda.
“Quando fazíamos a pesquisa para este trabalho perguntámos no teatro D. Maria, perguntámos na Galiza, mas ninguém sabia nada desta mulher”, afirmou.
Fran Nuñez realçou que além de “resgatar” o percurso artístico de Mariana Rey, a produção do espetáculo sobre a vida de atriz e escritora representa um “momento histórico” para as relações entre companhias portuguesas e espanholas.
“Quem melhor que esta atriz, nascida em Mondoñedo, que trabalhou e triunfou em Lisboa, cujo caminho passou pelas cidades das companhias integradas na coprodução, para criar estas pontes?”, questionou.
O encenador galego apelou ainda a todos quantos tenham textos de Manuela Rey que partilhem esse “espólio desaparecido”.
“Esse espólio existe. As duas peças e os diários de Mariana Rey são referidos na sua biografia, mas estão perdidos”, apontou, reforçando a importância desse legado para perpetuar a “mulher lírio” como era tratada em Lisboa.
“Era como um lírio, frágil e delicada, mas também poderosa e brilhante em palco”, afirmou, congratulando-se com o regresso de Manuela Rey “à casa”, Viana do Castelo, “onde foi mais feliz”.
“Está viva. Está em casa, ‘is in da house’”, observou.
Com duração de 80 minutos, a peça é interpretada por oito atores, metade portugueses e outros tantos galegos: Mariana Carballal, Neto Portela, Nuno J. Loureiro, Rafaela Sá, Raquel Crespo, Teresa Vieira, Xosé Lois Romero compõem o elenco.
O espetáculo inclui textos de Almeida Garrett, Eduardo Augusto Vidal, Ernesto Marecos, Paula Ballesteros, Sousa Bastos, Xaquín Núñez Sabarís, além da própria Manuela Rey.
“Pérola capaz de unir a Galiza e Portugal”
Para o diretor artístico da companhia de Viana do Castelo, Ricardo Simões, o projeto artístico de Fran Nuñez é uma “pérola” que “desenterra do esquecimento uma ilustre desconhecida” num “espetáculo capaz de unir a Galiza e Portugal”.
Ricardo Simões destacou que o “maior orçamento” do espetáculo é a “criatividade”, realçando que o cenário foi construído com o “reaproveitamento de materiais do acervo das companhias coprodutoras”.
Depois da estreia em Viana do Castelo, em 2024, o espetáculo vai passar pelo Teatro Nacional S.João, no Porto, no âmbito do FITEI- Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, por Santiago de Compostela, na Galiza, antes de, em março de 2024, regressar ao Teatro Sá de Miranda.
“Queremos que esteja no D. Maria para levar Manuela Rey à sua ‘house’”, adiantou Ricardo Simões.
A peça, com apoio à criação de Neto Portela, música de Xosé Lois Romero, cenografia e figurinos de Pedro Azevedo, tem desenho de luz de Nuno Meira e, apoio ao movimento de Guilherme de Sousa.
Paula Ballesteros, do Conselho Superior de Investigação Científica do Instituto de Ciências do Património, é responsável pelo apoio histórico.
Andrés García, António Reigosa, o Conselho da Cultura Galega, o Teatro Nacional D. Maria II e o Museu Nacional do Teatro cederam documentos ao projeto artístico.