“Eu não escolhi ser reitor, escolhi ser professor”

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A Universidade do Minho está a celebrar 50 anos de um percurso que antecipou o “perfume de Abril”. Rui Vieira de Castro assistiu ao início da instituição, onde se licenciou e doutorou, longe de imaginar que um dia seria reitor. Por isso, não esconde o entusiasmo com a celebração do cinquentenário, que aponta como um momento importante para projectar o futuro da instituição. Em entrevista ao Semanário Alto Minho, Rui Vieira de Castro considera a formação de profissionais licenciados como um dos desígnios para o futuro da universidade que enfrenta um problema de envelhecimento do seu corpo docente. O reitor deixou algumas achegas sobre a política nacional do ensino superior, defendendo uma maior articulação entre as instituições universitárias do norte para harmonizar oferta educativa e maximizar a utilização de equipamentos científicos. Recordou a “luta insana” pela actualização do financiamento do Estado e reconheceu que o alojamento dos estudantes se tornou num problema que espera amenizar com a entrada em funcionamento de mais duas residências em 2025. 

O reitor lembrou que, no contexto nacional, a Universidade do Minho faz parte de um grupo de instituições de ensino superior jovens. Foi fundada na mesma altura da Universidade de Aveiro, da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto Universitário de Évora, quando o país atravessava um momento de grande mudança no sistema de ensino superior, que depois foi acelerada com a transição democrática. “Mas estas universidades foram pensadas ainda no quadro do Antigo Regime e o seu mentor principal foi o ministro José Veiga Simão, que depois veio a ser ministro de governos na democracia. Ele entendeu que fazia falta, no ensino superior português, um conjunto de instituições novas que pudessem introduzir novas dinâmicas e corresponder a necessidades novas do país”, enquadrou Rui Vieira de Castro, admitindo a ideia que o “perfume dos cravos” chegou mais cedo à UMinho. “Esse perfume é indissociável depois da evolução da universidade”, notou. E, também por isso, as comemorações dos 50 anos da universidade estão associadas aos 50 anos da Revolução do 25 de Abril. 

Carlos Alberto Lloyd Braga foi empossado como primeiro reitor da UMinho a 17 de fevereiro de 1974 e, no próximo sábado, quando se cumprem exactamente 50 anos dessa data, a academia vai voltar a reunir-se no mesmo salão medieval, onde foi firmada a sua fundação, num momento solene, que contará com a presença do Presidente da República. 

Rui Vieira de Castro tem 66 anos e é natural de Caldas de Vizela (S. Miguel). “Na verdade, eu nasci em Guimarães, porque Vizela fazia parte do concelho, mas depois retiraram-me a nacionalidade”, gracejou. Oriundo de uma família com seis irmãos, Rui Vieira de Castro é filho, neto e sobrinho de professoras. “Vivi alguns anos em Fafe, onde fiz a escola primária e o ciclo preparatório do ensino secundário. Depois viemos para Famalicão, onde fiz o liceu”, contou. Meses antes de pensar qual o seu percurso universitário, ouviu falar na Universidade do Minho. “Eu tinha um sonho de ser professor de português e a Universidade do Minho estava a inaugurar um novo modelo de formação de professores, por isso, vim estudar para Braga. Da minha turma do liceu, fui o único que veio para Braga”, recordou, admitindo que foi um privilegiado, naquela altura, por conseguir estudar. “Só eu e outro rapaz seguimos os estudos quando acabamos a escola primária. Eu tinha uma boa biblioteca em casa, os meus pais incentivavam-me à leitura e ao estudo e isso foi, obviamente, determinante para o percurso que fiz”, reconheceu. 

Quando entrou na Universidade do Minho, no curso de Ensino de Português-Inglês, Rui Vieira de Castro estava longe de imaginar que um dia seria reitor. “Eu não escolhi ser reitor, escolhi ser professor”, salientou. “Naquela altura, a universidade era no edifício D. Pedro V, onde hoje está a Associação Académica”, relembrou o reitor, frisando que, apesar das carências que a instituição enfrentou no seu início, havia “um entusiasmo extraordinário” em torno do que representava a Universidade do Minho. Por isso, assume que está a viver o cinquentenário de forma intensa e efusiva. “Cheguei aqui para estudar em 1976, no segundo ano de funcionamento da universidade. A primeira vez que estive cá, fui atendido no salão nobre dos serviços da reitoria, onde havia um guichet com umas senhoras. Eram condições muito precárias, mas havia o sentimento de que se estava a construir algo com futuro”, disse o reitor que, no final da licenciatura, foi dar aulas na Escola Secundária Alberto Sampaio. “Depois fui para o serviço militar. Estive durante pouco mais de dois anos na Marinha, em Lisboa. Fui daqueles marinheiros que para conseguir embarcar num navio tive de pedir licença ao Chefe de Estado Maior da Armada porque as minhas funções não eram aquelas, mas eu queria viver aquela experiência e foi extraordinária”, partilhou. 

Rui Vieira de Castro tirou mestrado em Linguística Portuguesa Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e é doutor em Educação, na área de conhecimento de Metodologia do Ensino do Português, pela Universidade do Minho. Desde 2005, é professor catedrático do Instituto de Educação Minho. Foi vice-reitor da Universidade do Minho, entre 2009 e 2013, com o pelouro do Ensino e da Investigação. Entre 2013 e 2017 desempenhou as mesmas funções com o pelouro da Educação, tendo cessado funções em janeiro de 2017. Neste mesmo ano, foi eleito para o Conselho Geral da Universidade. Actualmente, está a meio do seu segundo e último mandato como reitor. “Não posso recandidatar-me, mas mesmo que pudesse, acho que já dei o melhor que podia e sabia à universidade. Há um tempo para tudo”, concluiu. 

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO DESTA SEMANA DO “ALTO MINHO”