“Os doentes eram tratados como na época medieval”
Quando defensor Moura, ex-autarca de Viana do Castelo, regressou à sua terra natal há quatro décadas depois de se especializar em medicina interna para trabalhar no hospital da cidade encontrou um serviço “quase medieval”. Inconformado, quis mudar o cenário e o início da luta começou com um “célebre” entrevista que foi apontada como “uma pedrada no charco”, a expressão que dá título ao novo livro do médico vianense e que regista os principais passos de uma luta de três anos até à abertura do novo hospital.Foi ao jornalista Abílio Faria que Defensor Moura concedeu uma entrevista “que deu para vários episódios”. “Parecia uma novela”, gracejou Defensor Moura. Um cronista do jornal Aurora do Lima considerou a entrevista “uma pedrada no charco porque a estagnação que havia em Viana, quer dentro quer fora do hospital, tinha sido quebrada”.
“Quando cheguei a Viana vi-me confrontado com esta desgraça e ficava, deveras, deprimido com as condições que eram oferecidas aos doentes e aos próprios profissionais que não tinham condições para exercer as suas competências”, notou Defensor Moura, frisando que a construção do novo hospital estava parada há dois anos “e ninguém se mexia”. “Estava tudo tranquilo, à espera que pusessem o novo hospital no prato”, declarou, não se conformando com a passividade de todos. “Os profissionais já estavam habituados àquilo e não sentiam necessidade de se mobilizar para mudar a situação e os vianenses, como de costume, estavam à espera… era o destino!, ironizou, garantindo que no caso de casos verdadeiramente urgentes não havia possibilidade de tratamentos. “Porque não havia sangue, não existiam aparelhos, não havia sequer um cardiógrafo na urgência, não havia nada… eram tratados como se estivessem na época medieval”, sustentou.
Aparentemente, junto da classe de profissionais e do conselho de administração, “não havia solução” e a luta começou com a criação da Liga dos Amigos do Hospital. “Fora do hospital, porque dentro era impossível”, recordou Defensor Moura, admitindo que a luta pelo novo hospital envolveu sempre a comunicação social.
A apresentação da obra coube a Abílio Faria, o jornalista da “célebre entrevista” que recordou o contexto desta conversa e apontou 1980 como o “ano do início da revolução”. “Uma pedrada no charco dá conta dessa luta interna, nos bastidores, contra o conformismo, incompetência de gestão, autoritarismo e partidocracia”, declarou, notando que a luta liderada por Defensor Moura abriu “novas frentes” para os doentes.