“Gosto do Vira” leva ensino de danças tradicionais à escola

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O projeto “Gosto do Vira” leva uma bailarina de um grupo etnográfico a ensinar danças tradicionais aos alunos do 3.º e 4.º anos da Escola Básica do Meio, na freguesia de Areosa, em Viana do Castelo.

Organizado pelo Grupo Etnográfico de Areosa (GEA), o “Gosto do Vira” é uma iniciativa que reúne alunos às terças-feiras de manhã, altura em que se deslocam para uma sala onde os espera a bailarina do grupo, Mafalda Silva Rego, para dar início ao ensino de danças tradicionais.

Acompanhados pelas docentes, os estudantes começam por fazer um aquecimento, mostrando-se entusiasmados quando percebem que se trata da música “A Gotinha”, conhecida pelos alunos dessa forma, uma vez que começa com o som de uma gota de água a cair.

Após um compasso de espera para decidir o que vão dançar a seguir, numa aula cuja duração ronda os 45 minutos para cada turma, os alunos ensaiam danças como “Verde-gaio”, que a bailarina do GEA considera ser a favorita dos estudantes, “Vá de Roda” e, ainda, uma dança tradicional mexicana conhecida como “Baile de Los Machetes”, com os alunos a usarem um par de clavas de madeira para imitar os machetes [um tipo de faca] usados nesta dança, que também contribuíram para acompanhar musicalmente a coreografia.

O projeto, que teve início formal há 10 anos, não se cinge apenas às danças tradicionais de Areosa, com Mafalda Silva Rego a destacar, em declarações à Lusa, a necessidade de “estar mais aberta ao mundo”, algo que considera ter sido a principal mudança na forma de ensino desde que começou a lecionar as aulas.

“Quando comecei, praticamente só fazia danças da freguesia. Entretanto, a escola também mudou e começaram a entrar alunos de outros países. Senti a necessidade de mudar o reportório das danças que ensinava e de começar a aprender novas danças, não só de outras partes do país, mas também do mundo, pois achei que era um trabalho muito mais rico”, sublinhou.

A expansão do ensino a danças tradicionais de outras regiões de Portugal e diferentes países permitiu que os alunos ficassem a conhecer mais sobre outras culturas, algo que a bailarina do GEA destaca no método de ensino que utiliza.

“Gosto de me fazer acompanhar por um mapa de Portugal, gosto que os alunos percebam de onde são as danças, de ligar a outros aspetos culturais e tradições associadas àquela determinada dança que estou a ensinar”, afirmou.

A presença do mapa na aula de dança, ao qual os alunos reagem positivamente e demonstram curiosidade, é apenas um meio de ligação do ensino das danças tradicionais às aulas que têm no dia-a-dia.

“Este ano, eles [os alunos] começaram a falar dos continentes e gostam muito de os associar a estas danças. Nós chegávamos à sala e íamos ver qual era o país de onde tinham aprendido a dança, e foi muito bom porque houve esta interdisciplinaridade”, revelou a professora da turma do 3.º ano, Sílvia Amorim.

As docentes são unânimes e garantem que os estudantes “gostam e sentem-se motivados” com as aulas de dança.

Para Francisca, de 9 anos, saber que vai ter aula de dança deixa-a “contente”, e refere que aproveita para treinar as danças em casa.

Gonçalo, também de 9 anos, afirma “gostar muito” da dança “Verde-gaio” e garante que não precisa de ensaiar em casa, pois consegue decorar as coreografias facilmente.

O “Gosto do Vira” tem vindo a ganhar destaque, com as turmas a receberem convites para colocar em prática os dotes de dança tradicionais perante alunos e professores de outras escolas do agrupamento.

“Com esta visibilidade, nomeadamente o convite de ir às escolas do agrupamento dançar, os pais começam a ver que a escola dá importância a este projeto”, constatou a docente da turma do 4.º ano Fátima Santos.

Atualmente, o projeto apresenta um alcance “muito limitado”, mas a ideia é que se comecem a implementar as aulas de danças tradicionais noutras escolas.

Nesse sentido, no ano passado, Mafalda Silva Rego realizou, em colaboração com o Centro de Formação Contínua de Viana do Castelo (CFCVC), duas formações de danças tradicionais para professores, algo que este ano se encontra em ‘standby’ devido à falta de financiamento.

Para a bailarina do GEA, é importante ensinar aos mais jovens as danças tradicionais, mas destaca também a necessidade de estender a aprendizagem à população em geral.

“Queremos que a dança volte a fazer parte da vida das pessoas, principalmente, a dança tradicional, que não queremos que se perca”, concluiu.