Até os cravos perfumaram o cortejo académico em Viana

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É o maior cortejo de sempre. Quer em número de estudantes, perto de 2.500, quer no número de carros alegóricos, 19. São estes os números da Federação Académica do Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). O Cortejo Académico do IPVC saiu à rua esta quarta-feira à tarde, cobrindo algumas das principais artérias da cidade com um colorido especial, cânticos estudantis e uma vivacidade que só a academia consegue recriar na cidade.

Mais do que os cerca de três quilómetros de distância entre a Escola Superior de Tecnologia e Gestão e a Escola Superior de Educação, foram as emoções, as lágrimas, os abraços apertados e demorados e, para alguns, o sentimento de despedida que marcaram o dia de hoje.

Com um sorriso que mal conseguia controlar, Kiki Machado, estudante do segundo ano do Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP) em Artes e Tecnologia, da Escola Superior de Educação (ESE-IPVC), diz-se a concluir com sucesso uma etapa da sua vida académica. “Criámos laços muito importantes entre nós, principalmente entre os elementos da turma. Chegar ao fim do curso é muito bom, mas as amizades que criámos ao longo deste tempo todo também nos ajudam a crescer”, afirma Kiki Machado, que já sabe o que quer fazer a seguir: a Licenciatura em Artes e Cinema Digital, também na ESE-IPVC.

Mais à frente, encontrámos Maria Carvalhido de apenas 18 anos. É a única rapariga do primeiro ano da Licenciatura em Engenharia Informática, mas isso nunca foi impedimento para entrar no curso que pretendia. “Muito pelo contrário. Gosto desta área e ser a única rapariga nunca poderia ser impedimento. Não poderia condicionar o meu futuro por uma coisa dessas”, explicou a jovem natural de Viana do Castelo.

Ao lado, tinha as colegas de outros anos académicos: Ana Silva, natural de Matosinhos, Sara Rodrigues, de Barcelos, e Catarina Silva, de Viana do Castelo. “Nós que cá estamos há mais anos, queremos que quem cá chega sinta o que nós sentimos, ou seja, que se sintam acolhidos.  São momentos de partilha e de crescimento constantes, que só no ensino superior, principalmente para os alunos deslocados, se pode sentir. E sermos poucas raparigas no curso é até positivo, porque os rapazes têm por nós um sentimento de grande proteção. São como se fossem os nossos irmãos mais velhos”, descreve Catarina Silva.

No carro do curso de Licenciatura em Engenharia Civil e do Ambiente, chamou-nos a atenção uma pequena gaiola. Lá, estavam a “25” e o “Abril”, um casal de pombas brancas, que seriam libertadas junto à tribuna. “Achamos que a ‘Revolução dos Cravos’, principalmente pelos 50 anos que assinalámos este ano, seria uma boa temática para trazer para o cortejo” começou por contar Francisco Silva. Depois do CTeSP em Construção e Reabilitação, Francisco, de Guimarães, está a terminar o primeiro ano da Licenciatura em Engenharia Civil e do Ambiente, na ESTG-IPVC. “Este é o terceiro cortejo que faço, mas não deixa de ser especial, porque representa sempre mais um passo que damos no nosso percurso”. 

A viagem parou, depois, junto do carro da Escola Superior Agrária (ESA-IPVC). Lá, encontrámos Rafael Castro, estudante do curso de Licenciatura em Enfermagem Veterinária, que nos descreveu o que estava a viver naquele momento. “Estes são os melhores anos das nossas vidas. Vale muito a pena todo o percurso feito. Na Agrária, temos um ambiente incrível. É um meio pequeno e talvez por isso seja tão fácil criar laços entre todos, e falo dos estudantes, mas também dos professores e do pessoal não docente”, realça o estudante natural de Guimarães.

E da Enfermagem Veterinária, passámos para o carro da Enfermagem, da Escola Superior de Saúde (ESS-IPVC). João Barros, de Viana do Castelo, é um dos poucos rapazes do curso de Licenciatura em Enfermagem. “Chegar aqui é uma vitória, nossa, que cá estamos a estudar, mas também de todos aqueles que nos acompanham, pais, irmãos e todos os outros que estão sempre lá para nos apoiarem”. Na bancada, estava, entre outros, a mãe de João Barros. “Para ela também é um dia muito importante, porque vê que estou feliz e a concretizar um sonho que, na verdade, é de todos nós”.

“É um ciclo que se fecha e que representa todos os momentos de superação e de conquistas que vivemos. Levamos amizades construídas do zero e que nos têm marcado muito. Mas também é muito bom saber que estamos acompanhados pela nossa família nestes momentos”, são as palavras de Inês Miranda, finalista do curso de Licenciatura em Marketing e Comunicação Empresarial, da Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE-IPVC).

Um dos últimos carros alegóricos a sair da ESTG-IPVC foi o da Escola Superior de Desporto e Lazer (ESDL-IPVC). Ricardo Mendes, de Monção, escondia a felicidade por trás de um ar sério e um sorriso controlado, mas lá fomos percebendo que era só para disfarçar o momento inesquecível que vivia. “Este é um dia muito importante para mim, porque, a partir de amanhã, já posso trajar. Estou ansioso para isso. Foi um ano de superação, em que conheci pessoas novas, enfrentei novos desafios e o poder trajar, já a partir de amanhã, simboliza o passar a uma nova etapa”, descreve o estudante do CTeSP em Treino Desportivo, que já sabe que o caminho seguinte o levará à Licenciatura em Desporto e Lazer, também na ESDL-IPVC.

Se para os caloiros e os finalistas, o cortejo académico assume-se como um dos momentos mais relevantes da Semana Académica, para os familiares, sentados a assistir às atuações, o dia é igualmente para guardar na memória.

Maria de La Salete e Manuel Araújo deixaram “tudo o que tinham para fazer” para se sentarem na primeira fila. Junto ao carro alegórico da Escola Superior de Saúde estava a neta, Rita Oliveira, a concluir o primeiro ano de Licenciatura em Enfermagem. “É um orgulho que não tem tamanho. Já tínhamos assistido à formação superior da nossa filha e agora estamos a acompanhar a nossa neta. São momentos únicos, que representam o esforço de todos nós, deles, que estudam, mas também do resto da família”, afirmava Maria de La Salete, natural de Viana do Castelo.

 Já sem lugar na bancada, encontrámos a família de Catarina Amaral Torres, estudante do curso de Educação Básica. “Apesar de ser o terceiro cortejo que assisto, porque a minha filha está no terceiro ano da Licenciatura, é sempre muito bonito acompanhar estes momentos. São únicos”, contava a mãe, Tânia Torres, de Vila do Conde.

A acompanhar o Cortejo Académico estiveram elementos das direções das seis Escolas do IPVC, do Município de Viana do Castelo, assim como a vice-presidente do Politécnico de Viana do Castelo. Ana Paula Vale fala da cultura académica, como elemento agregador dos estudantes: “O Cortejo académico faz parte de uma tradição do ensino superior e que os politécnicos integraram na sua cultura académica. Este evento é o ponto alto da Semana Académica em que decorrem vários eventos, desde a serenata, a missa de finalistas e vários espetáculos musicais. É um momento importante para os estudantes e para as suas famílias, pois para os finalistas marca o fim de uma etapa, a despedida da academia que os acolheu ao longo dos últimos anos, a despedida da vida de estudante e a passagem para o mercado de trabalho.  Para os caloiros, o fim do primeiro ano e o início de uma nova jornada, e para todos marca de alguma forma o fim de mais um ano letivo”, afirma a vice-presidente do IPVC. E acrescenta, para falar do impacto do Cortejo Académico na cidade: “Neste dia a cidade de Viana do Castelo enche-se de vida, cor e música. É um dia em que os vianenses e as famílias dos estudantes saem à rua para ver os estudantes da cidade passar.”

A Semana Académica do Politécnico de Viana do Castelo prolonga-se até sexta-feira, com vários concertos.