“É uma sorte ter a Fortaleza de Valença como um espaço muito vivido”
A candidatura da Fortaleza de Valença a Património Mundial da UNESCO constitui um marco histórico para a sua salvaguarda. A expectativa do Município de Valença é que em 2026 seja confirmada a sua classificação, no âmbito da iniciativa conjunta “Fortalezas Abaluartadas da Raia”, projecto que envolve também a Fortaleza de Marvão e a Praça-forte de Almeida.
Depois de a candidatura ser enviada para a sede da UNESCO, é expectável que uma equipa de peritos venha a Valença avaliar a Fortaleza e sugerir eventuais alterações para dar seguimento ao processo. “Dessa avaliação poderá surgir a necessidade de diminuir o número de carros dentro da Fortaleza, por exemplo”, admite o presidente da Câmara de Valença, José Manuel Carpinteira, realçando a importância desta classificação para a valorização do património. “Ao valorizar, obriga-nos também a ter uma responsabilidade maior de conservar o património. E, obviamente, em termos de projeção turística, a Fortaleza passa a fazer parte da rede mundial de património classificado pelo selo da UNESCO”, destacou José Manuel Carpinteira, garantindo que a obra de reconstrução, já em curso, de uma parte da muralha, que desabou por causa do mau tempo, “não implica nada” para a candidatura. “Neste momento estão a retirar as pedras, uma a uma, para depois fazer o trabalho de reconstrução. Tem de se tirar todas as pedras com cuidado e colocá-las de lado, num trabalho que está a ser acompanhado pela Câmara. Depois serão feitas as fundações, que é a parte mais sensível do processo, para de seguida colocarem pedra sobre pedra”, explicou, esperando que até início do próximo ano a obra fique concluída. Em relação aos pontos críticos que foram detectados na muralha, quando foi feito um diagnóstico sobre o seu estado, o autarca disse que “estão a ser monitorizados pelos técnicos do património”. “Entretanto também temos uma candidatura que foi submetida e aprovada para monitorizar toda a Fortaleza e verificar se há oscilações ou algum problema mais crítico na sua conservação”, acrescentou.
Depois de ter transformado o antigo Paiol do Açougue, no interior da Fortaleza, no primeiro Centro de Interpretação das Fortalezas Abaluartadas da Raia, a Câmara de Valença quer dar continuidade à reabilitação de património dentro da muralha, desde logo, o museu do Campo de Marte e o núcleo museológico do município. Já em marcha está a reabilitação do emblemático cineteatro, que guarda a memória da cultura e da identidade valencianas. “Já temos o projeto aprovado e esperamos até ao final do ano apresentar a candidatura para a remodelação”, adiantou José Manuel Carpinteira, confiante de que a reabilitação dos imóveis privados também avance, beneficiando do regime de incentivos fiscais que a autarquia disponibiliza.
Em relação ao património religioso, que pertence à paróquia e precisa de reabilitação, a Câmara já reuniu com o pároco para identificar de que forma se podem iniciar obras de restauro e conservação, mediante financiamento comunitário. “É uma necessidade que também irá valorizar a Fortaleza e, claro que ao estar classificada, haverá outros apoios e candidaturas aprovadas para a conservação do património”, crê.
A limpeza da extensa área verde que existe no interior e exterior da Fortaleza é dos maiores desafios para a autarquia. “Gastamos cerca de 100 mil euros só para cortar a erva no exterior da Fortaleza. Nos muros é onde se revela a maior dificuldade para as empresas de limpeza”, explicitou. Em relação ao lixo, a Câmara iniciou agora um processo de recolha de biorresíduos pelos restaurantes, unidades de alojamento e moradores para “aumentar a sustentabilidade ambiental da Fortaleza”. A recolha de biorresíduos decorre diariamente, entre as 6h00 e as 8h00 da manhã. “Na Fortaleza temos muita zona para limpar. Seja de resíduos sólidos ou orgânicos ou de limpeza de ervas que, de modo geral, é dispendiosa. Mas, se queremos a Fortaleza viva e conservada, temos de fazer esse investimento”, defendeu o autarca, lembrando o investimento que a autarquia tem feito para fixar mais residentes no interior da Fortaleza. “Estamos a reabilitar um edifício em quatro apartamentos, precisamente dentro da Fortaleza. Tem havido essa preocupação. O alojamento local tem aumentado dentro da fortaleza, o que é compreensível, porque passa aqui muita gente e as pessoas têm que rentabilizar os espaços que têm. Nós estamos a pensar condicionar o aparecimento e legalização do alojamento local para privilegiar os residentes, em vez do alojamento turístico”, adiantou, convicto de que a classificação reforçará a Fortaleza como património vivo. “Temos a sorte de ter este espaço muito vivido. Mas já vou houve mais gente a viver aqui dentro do que há hoje. Os residentes foram saindo porque as casas têm menos condições e são mais pequenas. Agora, estamos a tentar o percurso inverso, que é tentar fixar as pessoas cá dentro. Há pessoas que vivem cá dentro por opção e tinham condições lá fora, o que é um bom sinal. Há dois jovens arquitetos que compraram uma casa, reconstruíram e agora vivem cá dentro”, contou.