“Senhora da Bonança gerava grande rivalidade entre os barcos de Vila Praia de Âncora”

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Em plena semana de preparação para as festas da Senhora da Bonança, a Nuceartes dinamizou mais uma edição do Mercado M, com uma conversa informal sobre as tradições da maior romaria de Vila Praia de Âncora. A conversa informal foi conduzida por Aurora Rego e permitiu aos convidados partilharem muitas histórias sobre a festa. Sebastião Franco falou sobre a recolha de peteiros nos barcos, Olívia Araújo lembrou os piqueniques da Senhora da Ínsua, Teresa Guia abordou o aluguer dos fatos dos anjinhos e Miliba Labandeiro o aluguer dos fatos de lavradeiras, e Salvador Silva explicou o surgimento dos tapetes de sal, na véspera da procissão naval.

Sebastião Franco, pescador de Vila Praia de Âncora, também partilhou algumas curiosidades antigas sobre a festa. Aos 12 anos começou a trabalhar no mar e a sua função era de “roleiro”. “Apontava num livro o peixe que se trazia e as pessoas que o compravam. Sobrava sempre algum para a Senhora da Bonança e apontava os valores na última página do livro”, referiu, acrescentando que a “recebedeira” também apontava no seu livro. “Era ela quem guardava o dinheiro e, depois, no sábado da festa, o roleiro ia ter com a recebedeira e tinham de conferir um livro com o outro e tinha de bater certo. Depois juntava-se o dinheiro todo e no sábado ia-se levantar os peteiros. Aqueles que moravam na praia, ia a banda de música à sua porta receber os peteiros e metia-se dentro de um envelope com o nome do barco e do mestre. No fim da festa, punha-se um letreiro com os valores que cada barco deu e isso gerava uma grande rivalidade”, partilhou, notando que, naquele tempo, “havia um grande orgulho em fazer a festa”. “As pessoas até esperavam para serem convocadas para mordomas. Hoje ninguém quer”, lamentou.