“Só pelo desfile, já vale a pena vir ao concurso pecuário das Feiras Novas”

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Os melhores exemplares das raças bovinas voltaram a desfilar nas Feiras Novas, num momento que é sempre aguardado por milhares de apreciadores e de vaidade para os criadores, que gostam de mostrar os seus animais, especialmente se forem premiados. A maior parte dos produtores garante que o valor dos prémios no concurso pecuário não é o mais importante, mas admitem a necessidade de novos incentivos, de forma a que os jovens se interessem mais por esta actividade.

José Luís Naipeira, de S. Julião, Valença trouxe ao concurso pecuário das Feiras Novas nove das suas 11 cabeças de gado, todas de raça minhota. “Desde sempre que me lembro de vir a este concurso. Agora há muito menos gado, mas vem muita gente na mesma… talvez por ser das mais antigas”, declarou. No concurso, os seus animais até foram bem classificados, entre elas uma junta de vacas de trabalho que ficou em primeiro lugar, mas o criador valenciano garante que “só pelo desfile já vale a pena” participar. “A mim dá-me muito prazer desfilar com os animais. Não é vaidade, é um gosto muito grande”, comentou, notando que, apesar de estar acompanhado de um filho e do neto, a criação de gado não terá continuidade na família. “Desde pequenino que estou nisto e sempre conciliei com a minha profissão. Faço-o por gosto, porque dá muito trabalho… não é vida para ninguém”, vincou.

Salvador Felício, de Cristelo, Paredes de Coura, sempre se dedicou à criação de gado. Começou por influência dos pais e actualmente faz disto vida. Neste concurso pecuário participou com quatro animais. “Tirei alguns prémios nas minhotas e nas barrosãs”, frisou, acrescentando que participar neste momento da romaria “é quase um vício”. “Gosto de tratar bem os animais e depois mostrá-los”, sustentou o contratador, vincando que não vende os seus melhores animais. “Participo em quase todos os concursos que existem por esse país fora e não podia falhar este”, realçou, defendendo a continuidade deste tipo de iniciativas. “Cada vez mais, deviam até ser mais incentivadas porque vê-se cada vez menos pessoal jovem. Até parecem por aqui algumas crianças, mas chegam a uma determinada idade e já não querem saber”, realçou.

Maria Augusta Rocha continua a ser a única criadora limiana no concurso e alguns dos seus animais, da raça minhota, voltaram a ficar bem classificados, algo que a agricultora da Labruja já esperava. “Já contava que as tourinhas novas fizessem boa figura”, declarou, garantindo que a maior motivação para participar neste concurso pecuário não é o valor do prémio. “Pouco dá, é mais o gosto que temos em representar o concelho”, afirmou, frisando que, para si, este momento “é o melhor das Feiras Novas”. “Onde há concursos de gado há sempre muita gente”, notou, revelando que também aproveita para fazer negócio. “Aqui encontramos criadores de todo o lado e às vezes fazem-se trocas, vendemos, compramos… Este ano até me queriam comprar uma novilha, mas disse que não porque vou fazê-la vaca”, declarou a mulher que já herdou este gosto dos antecessores, mas acredita que a filha não lhe seguirá as pisadas. “É uma vida difícil. Para além de estar tudo muito caro, temos que estar todos os dias com os animais. Não há festas, domingos, férias, nada…”, sustentou.

Gonçalo Rodrigues, presidente da Associação Concelhia das Feiras nOvas, mostrou-se satisfeito com a adesão dos criadores a este número “emblemático” das festas, considerando que não tem perdido forças. “É uma das actividades de cariz mais identitário daquilo que o território pode representar. Já o ano passado reforçamos as verbas para esta actividade e este ano fizemo-lo novamente”, explicou, notando que o objectivo é “dar as melhores condições possíveis” para incentivar os criadores das várias raças a participarem no concurso pecuário. “E aposta é no sentido destas actividades ganharem cada vez mais visibilidade porque são as que dão um cariz muito tradicional e rural às nossas Feiras Novas. Os criadores são os guardiões da nossa biodiversidade doméstica e fazem não só um trabalho na actualidade, mas também na preparação das gerações futuras”, sustentou, vincando que o concurso pecuário reúne milhares de pessoas, não só na Expolima, mas também no desfile. “Há os verdadeiros adeptos que não perdem oportunidade de vir ver. Mas há alguns jovens que vêm, por exemplo, gozar a noite e acabam por ser confrontados com outras actividades de cariz mais popular, ficam a conhecer e ficam também apaixonados”, contou.

 

SUPLEMENTO ESPECIAL DO SEMANÁRIO ALTOMINHO Nº 1655 – 13 DE SETEMBRO DE 2023