Falar com o sr. Bento (do Cando) vai ser Património Imaterial

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O instituto Património Cultural iniciou a consulta pública sobre a decisão de inscrever no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial a Romaria de S. Bento do Cando, em Arcos de Valdevez. O anúncio da abertura do procedimento, que terá a duração de 30 dias, foi hoje publicado no Diário da República.

A publicação esclarece que o Património Cultural decide sobre o pedido de inventariação no prazo de 120 dias após a conclusão do período da consulta pública. A romaria de S. Bento do Cando decorre na branda de S. Bento do Cando, da freguesia da Gavieira, em Arcos de Valdevez.

A romaria remonta, segundo as informações mais seguras, ao século XVII (a capela foi mandada construir por capítulo de visitação, em 1651) e realiza-se em três momentos anuais.

O primeiro momento da romaria celebra-se a 21 de março, dia em que se lembra a morte de S. Bento; o segundo momento tem início no dia 03 de julho, com a celebração da novena em honra de S. Bento do Cando, que termina no dia 11, dia principal da romaria, em que “há celebração da eucaristia, sermão e procissão”.

“Um terceiro momento festivo foi introduzido em 1997, no dia 10 de agosto, justificado pela forte emigração destas terras, dando oportunidade aos emigrantes de viverem a festa e rezarem a S. Bento do Cando”, descreve-se na página da Internet.

Os romeiros de S. Bento do Cando são, essencialmente, para além do concelho de Arcos de Valdevez, “as pessoas vindas dos concelhos vizinhos de Melgaço e Monção” e deslocam-se à branda de S. Bento do Cando “para cumprir a novena, a meia novena, pagar as suas promessas ou pedir proteção e saúde para si e para os seus familiares”.

“Repetem este ritual ano após ano para se encontrarem e falarem de perto com S. Bentinho ou Sr. S. Bento, como carinhosa e respeitosamente o tratam”, descreve.

Outra característica da romaria, “comum a outras festas religiosas de montanha em locais isolados […] é o da existência, nas imediações do Terreiro da Capela, de habitações destinadas à permanência dos romeiros durante as cerimónias religiosas”.

“Na maior parte das vezes, os romeiros vinham das brandas e inverneiras da Gavieira, das freguesias vizinhas de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez. De tão isoladas estarem os núcleos residenciais, a experiência do encontro nas romarias era procurada e celebrada como o momento excecional do ano. Aí rezam, negoceiam e se enamoram, superando a permanente autarcia das economias locais e os riscos das relações sociais endogâmicas”, acrescenta.