No regresso à sua terra, António Sampaio da Nóvoa, foi o principal convidado do Seminário Galiza-Portugal “Governação e Liderança Educativa”, que realizou-se na Escola Superior de Ciências Empresarias de Valença. Este evento foi organizado pela Conselleria de Cultura, Educación, Formación Profesional y Universidades da Xunta da Galiza, e a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI), com a colaboração dos Municípios de Valença e Tui e do Centro de Formação do Vale do Minho.
Conscientes da importância crucial de uma liderança comprometida e de uma governação eficiente e eficaz na educação, nomeadamente ao nível dos estabelecimentos de ensino, estiveram reunidos neste seminário dezenas de pessoas oriundas do sistema educativo galego e português, entre inspetores educativos, diretores de escolas e agrupamentos e docentes.
Na abertura do seminário, o presidente da Câmara Municipal de Valença, José Manuel Carpinteira, começou por referir-se a António Nóvoa. “Esta é a cidade que o viu nasceu e de onde partiu para se tornar uma referência nacional e internacional da educação, mas sem nunca esquecer as suas origens”, notou.
Relativamente ao tema da iniciativa, salientou o trabalho que é feito em Valença. “A educação é uma chave mestra do desenvolvimento cognitivo, da formação e capacitação de cada indivíduo para enfrentar os desafios futuros da sociedade. Neste particular, Valença dispõe de uma oferta educativa e de uma rede de equipamentos adequados às necessidades das nossas crianças e jovens. Temos desde o ensino pré-escolar até ao ensino superior”, vincou.
O autarca revelou que o Município investe na educação um valor superior a quatro milhões de euros. “A educação é uma das nossas máximas prioridades, num território pequeno como Valença e com um orçamento curto, quatro milhões de euros são investidos na educação”, apontou, frisando o papel da ESCE. “A Escola Superior de Ciências Empresarias de Valença é uma das principais escolas do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e com grande impacto no nosso concelho e na região. Por essa razão o Município de Valença está a realizar um grande investimento com a construção de uma residência académica muito perto da escola, num investimento superior a dois milhões de euros”, enalteceu,
José Manuel Carpinteira afirmou ainda que a Eurocidade Valença-Tui “incute” os valores europeus. “Falamos de liberdade, partilha, tolerância, solidariedade e paz entre povos. A localização geográfica da Eurocidade Valença-Tui é de facto o centro da euro-região do norte de Portugal e da Galiza. Isso é uma vantagem competitiva para quem aqui vive, trabalha e investe. Esta é a fronteira por onde passam mais veículos, são cerca de 22 mil veículos por dia e, portanto, mais de 22 mil pessoas. Na nossa Eurocidade costumamos dizer que vivemos sem fronteiras, temos ligações sociais, económicas, culturais e desportivas antigas que queremos que sejam projetadas cada vez mais para o exterior”, sublinhou.
Natural de Valença, mas com “um pé na Galiza”, António Sampaio da Nóvoa é professor catedrático e reitor honorário do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. “Aprendi recentemente que na região da Estremadura, em Espanha, há uma casa que literalmente está no meio da fronteira, com uma porta que dá para Espanha e outra para Portugal. A minha situação foi quase assim, nasci com um pé em Valença e outro pé na Galiza, por isso é um enorme prazer regressar e estar convosco”, notou.
Na sua perspetiva a “ideia da liderança escolar pode prolongar-se para outras lideranças, como políticas, sociais ou de outra ordem”, registou, realçando que essa liderança escolar pode dizer-se em “três verbos”. “Conhecer, reconhecer e apoiar. Portanto, o primeiro gesto tem de ser conhecer e, muitas vezes, quem está na liderança conhece mal, não se dá ao gesto de humildade de conhecer. Depois reconhecer que há coisas importantes que se estão a passar e dinâmicas importantes a acontecer, que às vezes até são coisas pequenas de um ou dois professores ou até de um grupo de alunos, mas essas iniciativas merecem um reconhecimento público. Por último, apoiar essas iniciativas e não criar dificuldades ou burocracias”, atirou.
“Liderar é reunir as melhores condições para que diferentes propostas e iniciativas, de “baixo”, possam ter lugar”, voltando a falar do contributo dos professores e alunos. “O futuro da educação não virá de nenhuma ideia iluminada, tecnologia nova ou inteligência artificial, mas sim do partilhar de várias ideias. A liderança não se trata tanto de exercer um poder-dirigir, mas de abrir a possibilidade de um poder-fazer. Esta transformação implica três coisas: uma atenção especial à voz e às decisões dos alunos; uma atenção especial à voz e às iniciativas dos professores; uma atenção especial às pontes com as famílias e a sociedade.
A maior qualidade de uma liderança é ser capaz de nos ajudar a construir as nossas próprias transformações, em vez de estarmos sempre a reagir a transformações que nos são impostas”, explicou.
António Sampaio da Nóvoa afirmou que “as pontes ligam realidades que são diferentes, e que devem permanecer diferentes”. “Existe a ideia que a escola deve estar aberta à sociedade, mas não no sentido de fusão com a sociedade ou de se tornar igual à sociedade. A escola deve ser diferente da sociedade e diferente da família, não podemos fazer a mesma coisa que fazemos na família e na sociedade. Os meninos e as meninas veem muitos vídeos engraçados na família, então na escola vamos mostrar mais vídeos engraçados? Não, é o contrário. Se já têm isso na sociedade e família na escola têm de ter outra coisa, um outro tempo, mais lento e com menos frenesim. A força da escola não é ser igual à família ou sociedade, é ser diferente. É preciso respeitar as fronteiras entre a escola, as famílias e a sociedade”, aconselhou.
A diretora da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI), Ana Paula Laborinho, manifestou que “este é um seminário especial porque realiza-se entre fronteiras e a lógica foi, precisamente, de parcerias e a identificação de alvos relevantes entre os profissionais dos dois lados”. “O grande mérito deste seminário foi a construção conjunta deste programa, feito numa perspetiva de diálogo entre experiências diferentes e políticas diferentes, mas que querem partilhar aquilo que fazem para podermos avançar no sentido da transformação da educação, que é o grande desafio que temos pela frente”, mencionou.