Caminha em luta pela preservação da camarinha
Enquanto decorre em Cali, Colômbia, a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade – COP 16, decorre na zona costeira Norte de Portugal, em Caminha, uma ação concreta para travar a perda de biodiversidade e o decréscimo da população de camarinhas da Foz do Minho, através da propagação de milhares de plantas de camarinha, por estacaria, no Viveiro ‘Raíz da Terra’ (Vile – Caminha).
A defesa desta planta, de nome científico Corema album (L.) D. Don, nesta zona costeira tem vindo a ser realizada pela associação de defesa do ambiente COREMA, desde 1988. Posteriormente, desde 2016, o projeto Emc2 ‘Explorar Matos de Camarinha da Costa’, coordenado pela Investigadora Alexandra Abreu Lima (MARE/ARNET e INIAV, I.P), iniciou uma propagação de camarinhas, em outubro de 2017, com o apoio da equipa do Investigador Pedro Oliveira (INIAV, I.P), a colaboração de associados da COREMA, o apoio da União de Freguesias de Moledo e Cristelo, do Município de Caminha e participação ativa de Professores de Escolas de Caminha. A primeira iniciativa de reintrodução de plantas na natureza, obtidas por estacaria, que decorreu em 2018, no âmbito do Projeto Emc2, foi bem sucedida e é divulgada, desde 2021, no Portal Mundial ‘Panorama Solutions’ https://panorama.solutions/en/solution/project-emc2-exploring-white-crowberry-coastal-habitats . As mais recentes ações de propagação por estacaria estão a decorrer com a colaboração do Viveiro ‘Raíz da Terra’ (Vile – Caminha), onde milhares de estacas estão em enraizamento.
Esta propagação de camarinhas é importante para travar o desaparecimento desta planta nas zonas costeiras. Saliente-se que uma visita da Investigadora Alexandra Abreu Lima (MARE/ARNET e INIAV, I.P) e de elementos da COREMA à zona costeira de Montedor (Norte de Portugal), em junho deste ano, para aí verificar a ocorrência de camarinhas, mostrou que esta espécie arbustiva, outrora aí existente, não se avistou. Deste modo, é provável ter ocorrido o seu desaparecimento local, processo designado como extirpação, que nos deve servir de alerta para a atual crise de biodiversidade e perda do nosso património natural. Estudos sobre a área de distribuição da camarinha nas últimas duas décadas, mostraram a sua regressão, com o seu desaparecimento em várias zonas da costa ocidental da Península Ibérica, devido a diversos fatores, entre os quais, a fragmentação de habitat, ameaça de espécies invasoras e efeitos das alterações climáticas.
A camarinha é uma espécie endémica ibérica, dado só existir em Portugal, Espanha e em algumas ilhas açorianas (endemismo ibérico), cujas plantas femininas dão frutos comestíveis (as camarinhas), de peculiar cor branca. Para a população de camarinhas da Foz do Minho, existente na duna da praia de Moledo e na Mata do Camarido (Caminha), o projeto Emc2 ‘Explorar Matos de Camarinha da Costa’, tem vindo a capacitar os jovens das escolas de Caminha a colaborar na sua conservação, dado o seu declínio, com base em dados de 1995 e 2007, reportados em 2010, pelo ICNF, no Plano de Gestão Florestal da Mata Nacional do Camarido (Caminha).
Aos alunos participantes no projeto Emc2 é explicado o valor dos espécimes guardados em herbários pois o processo de extirpação de camarinhas, ou seja, o seu desaparecimento a nível local, pode ser inferido pela análise comparativa entre os registos existentes em herbário e a sua atual ocorrência na natureza. Constatou-se que as camarinhas de Montedor devem ter desaparecido na natureza e já só existem no herbário (espécime colhido em Montedor, junho de 1886). Muitos outros casos de espécimes de camarinha existentes em herbário, e igualmente coletados em finais do século XIX, ainda existem na natureza (Ovar, Quiaios, Tróia e Sagres). Portanto, neste caso de Montedor, a ameaça de plantas invasoras, sobretudo acácias, poderá ter sido, entre outras causas, um dos principais fatores da extirpação de camarinhas, um exemplo que deve servir de alerta para se evitar que tal aconteça futuramente, em outras zonas costeiras. Para além das acácias, outra planta invasora da zona costeira é o chorão-da-praia, Carpobrotus edulis (L.) N. E. Br. (escolhida no projeto Emc2 como caso-de-estudo de planta invasora).
A extirpação é prejudicial para a sobrevivência das espécies pois o desaparecimento de populações num dado local, através de ações levadas a cabo pelo Homem ou devido a outras causas, provoca danos no funcionamento dos ecossistemas e reduz a diversidade genética das espécies. Isto significa que muitas espécies se tornam menos resilientes às alterações ambientais, biológicas e ecológicas, e acabam por ficar mais vulneráveis ao seu desaparecimento a nível global, ou seja, à sua extinção.
O projeto Emc2 ‘Explorar Matos de Camarinha da Costa’ é um projeto educativo que decorre desde 2016, ilustrativo de que só se protege o que se conhece, e de que a educação sobre a importância e a diversidade das plantas são componentes essenciais da sua conservação. A conservação das camarinhas de Caminha irá prosseguir, com nova etapa de estacaria neste outono, pelo que se deseja ir a tempo de travar a extirpação de camarinhas neste local.
O Projeto Emc2 é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal), através dos projetos estratégicos UIDB/04292/2020 e UIDP/04292/2020 concedido ao MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, e ao projeto LA/P/0069/2020 concedido ao Laboratório Associado ARNET – Aquatic Research Network.