Carlos Paulo Azevedo “Cajó” está a cumprir a sua quarta temporada no Vilaverdense, desta vez com a braçadeira de capitão. Guarda-redes de 35 anos, natural de Vila Nova de Famalicão, Cajó viveu a euforia das duas subidas históricas do clube de Vila Verde e sente-se grato ao clube por lhe ter proporcionado a estreia na II Liga. Teve propostas de outros clubes, mas decidiu continuar em Vila Verde para retribuir tudo o que o clube lhe proporcionou.
Natural de Ruivães, em Vila Nova de Famalicão, Cajó começou a dar os primeiros chutos na bola no clube da terra (Ruivanense), com oito anos. E foi durante a formação que apareceu a alcunha que dura até hoje. “O meu pai também foi guarda-redes, mas a minha história na baliza começou por causa da asma, que me impedia de correr. Uma vez puseram-me na baliza e acabei por ficar porque também tinha jeito”, contou o guardião, que sempre teve um pé com fome de golo. Depois de um ano no Ruivanense, Cajó foi para o Desportivo de Ronfe e apanhou a reformulação do clube com a parceria criada com a escola Fair Play, de Neno e Tatá. “O Neno aparecia por lá, com aquela simpatia característica dele, era sempre uma alegria quando ele estava presente e uma inspiração para nós por estarmos na escola dele”, admitiu o jogador, que seguiu para o Vitória de Guimarães, quando chegou ao escalão juvenil. “Foi uma formação totalmente diferente, em campeonatos nacionais, com melhores equipas e melhores jogadores”, confirmou Cajó, que concluiu a sua formação com os “conquistadores”.
A primeira experiência como sénior foi na baliza do Vila Meã, que disputava a antiga III Divisão nacional. “Foi uma boa experiência num clube humilde e bom, que, pelo ambiente que tinha, permitiu a minha fácil adaptação, não foi um choque passar de júnior para sénior”, contou o guardião que, depois de completar o ensino secundário, procurou fazer do futebol a sua vida profissional, ajudando também os pais na empresa têxtil de família. “O meu objectivo e sonho de criança sempre foi chegar aos grandes palcos, à I Liga”, confessou o guarda-redes, que aponta Oliver Kahn, Casillas e Neuer como algumas das suas referências.
Depois de dois anos no Vila Meã, Cajó foi para o Lousada, que disputava a antiga II Divisão B, por mais dois anos, e assinou posteriormente com o Felgueiras, por cinco temporadas. Seguiu-se o Pedras Salgadas, no Campeonato Nacional de Seniores, antes de fazer parte da equipa do Vizela que subiu à II Liga. “Foi uma subida um pouco caricata porque aconteceu durante a pandemia, foi no ano em que o campeonato não acabou e nós e o Arouca, como eram as equipas com mais pontos, subimos”, recordou o jogador, que regressou ao Pedras Salgadas, antes de começar o seu percurso no Vilaverdense, pela mão de Ricardo Silva, treinador com quem Cajó já tinha trabalhado no Felgueiras e Pedras Salgadas. “Não foi difícil aceitar o desafio pelo treinador e pelo projecto que foi apresentado”, justificou o actual capitão da equipa, que disputa a Liga 3.
“Uma família dentro do balneário”
A primeira época no Vilaverdense, que marcou a subida da equipa à Liga 3, continua a ser a mais marcante para o guardião. “Marquei um golo aos 98 minutos na Madeira, contra o Marítimo, na sequência de um canto. Estávamos a perder e era o último lance da partida. Pedi autorização, mas mesmo que não ma dessem, eu ia na mesma e ainda bem que fui porque no somatório de todos os pontos, o ponto alcançado no empate desse jogo foi fundamental para podermos subir”, relatou, considerando que aquela “foi uma época incrível com um dos melhores grupos” que apanhou no futebol. “Era um grupo muito alegre, divertido e unido e tornou-se uma família dentro do balneário”, partilhou, convicto que, além da qualidade dos jogadores, também foi este espírito de união que fez a diferença na primeira subida do Vilaverdense, além do apoio incondicional dos adeptos. “Tenho saudades dos tempos em que os nossos adeptos enchiam o nosso estádio, têm vindo a apoiar, mas gostava que voltassem em força como naquela época porque precisamos deles”, apelou, confirmando que a época seguinte, em que o Vilaverdense disputou a II Liga, “foi muito complicada”. Olhando para trás, Cajó admite que foi dado “um passo maior do que a perna”, principalmente pela falta de infra-estrututras. “Não estávamos preparados para a subida ao nível de condições, mas estávamos preparados enquanto equipa”, assegurou o guardião, feliz por ter atingido o patamar profissional da II Liga com o Vilaverdense.
“É cada vez mais importante o apoio dos nossos adeptos”
À semelhança da opinião de alguns adeptos do clube, Cajó também acha que, se o Vilaverdense tivesse disputado o campeonato em casa, poderia ter-se mantido na II Liga. “Na Cruz do Reguengo, sempre fizemos bons resultados nas nossas caminhadas para as subidas, era a nossa fortaleza”, atestou o guardião que, apesar das raízes em Famalicão, sente-se vilaverdense. “Gosto muito de Vila Verde, por isso ainda me mantenho por aqui (risos). Foi um clube que me proporcionou momentos únicos, incluindo a minha estreia num campeonato profissional, ajudou-me a concretizar o meu sonho, não foi na I, mas na II Liga”, confessou o guarda-redes, assumindo que isso também contribuiu para continuar no clube, mesmo depois da descida à Liga 3. “Foi um conjunto de factores que me fez continuar, desde a forma como fui recebido no clube, o carinho que senti dos adeptos e de pessoas que estavam envolvidas na estrutura do clube. Tive propostas de outros clubes, mas arrisquei em ficar porque sinto que devo isso por aquilo que o Vilaverdense me proporcionou. Fiquei com o objectivo de ajudar o clube”, justificou, ciente das dificuldades inerentes a esta temporada. “O clube está a reestruturar-se e nós começamos os treinos para esta época na semana do primeiro jogo. Isso criou-nos dificuldades no início, mas fomos melhorando e o grupo está focado em dar a volta à actual situação. Somos sérios e puxamos uns pelos outros para conseguirmos inverter a actual situação. Daí que seja cada vez mais importante sentir o apoio dos nossos adeptos”, reiterou, assumindo que “gostava de levar o Vilaverdense à I Liga”.
Cajó define-se como um guarda-redes “tranquilo”, “confiante” no que faz, “pouco vistoso” e adepto de defesas simples. “Às vezes brinco e digo que posso passar um jogo sem fazer uma defesa que não me importo… é bom sinal”, gracejou, garantindo que também é um guarda-redes “que joga bem com os pés”. “Sempre foi uma das minhas vantagens”, considerou o guardião, que atribui essa qualidade aos tempos em que sonhava usar a camisola número 10.
Em relação ao futuro, Cajó não exclui a possibilidade de abraçar uma carreira como treinador, mas para já ainda não pensa em arrumar as luvas. “Ainda me sinto um jovem com 25 anos e enquanto me sentir capaz de estar num projecto e conseguir ajudar, irei continuar. Neste momento, arrumar as luvas é um cenário que ainda não coloco, acho que ainda está longe. Diz-se, aliás, que os guarda-redes são como o vinho do Porto: quanto mais velhos, melhor”, concluiu.