“No magusto da Quinta de Pentieiros gostamos é de pintar a cara e as mãos com carvão”
As crianças do Centro Educativo das Lagoas e idosos de várias instituições do concelho de Ponte de Lima juntaram-se ao redor da fogueira para um magusto na Quinta de Pentieiros, um momento de partilha entre gerações que foi abrilhantado com uma encenação da lenda de São Martinho, protagonizada pelos idosos do lar Santa Maria do Lima.
No tradicional magusto, organizado pelo Serviço da Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos, as castanhas “gordinhas e quentinhas” foram uma delícia para os mais de 400 participantes, numa manhã com um verdadeiro verão de S. Martinho.
Guiomar Barros, utente do Centro Comunitário de Arcozelo, não escondeu o seu contentamento ao ver as crianças a dançar à volta da fogueira. “Nunca tinha vindo a um magusto e estou a gostar muito de estar aqui. Se não vimos passear um bocadinho estamos sempre presos e eu adoro ver as crianças todas contentes. Elas é que fazem a festa!”, referiu, elogiando a qualidade das castanhas. “São bem boas, ainda não toquei em nenhuma podre”, disse.
Também Francisco Silva, utente de 77 anos do Centro Social e Paroquial da Correlhã, gostou de fazer parte deste magusto. “Está a ser divertido e as castanhas estão boas, apesar de que já me saíram algumas podres, mas já estou habituado”, atirou, soltando uma gargalhada. “Fui há pouco tempo ao magusto da Senhora das Neves, na Correlhã, e também estava uma festa jeitosa!”, partilhou, acrescentando que faz questão de sair do lar todos os dias. “Faz-nos bem sair um bocadinho para passear”, considerou.
Os mais pequenos também deram o ar da sua graça e dançaram o vira com as caras pintadas de carvão. “As castanhas são gordinhas e quentinhas”, atirou a pequena Leonor Brasileiro, aluna do Centro Educativo das Lagoas, enquanto se deliciava com uma castanha. “Nunca tinha visto um magusto e estou a gostar muito. Acho que devíamos fazer magustos mais vezes”, sorriu a menina de oito anos, que estava acompanhada pelo seu colega Tomás. “Nós queremos comer as castanhas, mas nós gostamos mesmo é de pintar a cara e as mãos com carvão”, admitiu.
A coordenadora do Centro Educativo das Lagoas, Marta Miranda, considera importante envolver as crianças neste tipo de iniciativas. “As tradições têm que ser transmitidas às gerações mais novas para não haver perda de identidade e, nomeadamente, o convívio com os mais velhos e com outras instituições do concelho de Ponte de Lima. Faz-lhes muita falta sair da escola, porque esta é outra forma de desenvolverem certas competências, que de outra forma seria difícil”, disse.
Gonçalo Rodrigues, vereador responsável pelo ambiente e espaços verdes do Município de Ponte de Lima, também marcou presença na atividade e mostrou-se satisfeito com a alegria dos idosos e das crianças. “O magusto é sempre uma atividade marcante e este ano tivemos um verdadeiro dia de São Martinho, um dia solarengo, que nos permitiu fazer a atividade ao ar livre, no parque de campismo da Quinta de Pentieiros, que só por si já tem um ambiente fantástico”, considerou, acrescentando que o magusto já é “uma referência” no que diz respeito às atividades relacionadas com o mundo rural da Área de Paisagem Protegida. “Também é uma tentativa de preservar ao máximo aquilo que são as nossas tradições e tentar transmiti-las às gerações mais novas, para que eles possam valorizá-las e dar-lhes seguimento. Temos aqui um confronto intergeracional que é importante, para lhes transmitir o saber dos mais idosos e, ao mesmo tempo, as crianças retribuem com a alegria que os idosos não estão habituados no seu dia-a-dia”, referiu.
“Este é um trabalho que a área de Paisagem Protegida vai fazendo ao longo dos anos, sempre na perspetiva de fazer com que as pessoas que venham à Quinta de Pentieiros se sintam bem neste espaço rural, porque também é uma forma indireta das próprias pessoas valorizarem este tipo de espaços. Depois também se insere nas ações de sensibilização ambiental e, neste caso em concreto, acabamos sempre por falar na importância da floresta, que não dá só madeira, mas também dá um conjunto de frutos, como é o caso da castanha”, lembrou.