“Câmara de Viana precisa de um refresh que só pode ser dado pelo PSD”
Ganhar a Câmara de Viana é o principal e expectável desígnio da Comissão Política do PSD de Viana do Castelo, que passou a ter Duarte Martins como novo presidente. Vice-presidente da anterior estrutura, Duarte Martins assume que o seu projecto é de continuidade em relação ao que estava a ser feito desde 2022. Poucos dias depois de ter tomado posse, Duarte Martins ainda não desvendou quem será o candidato à Câmara de Viana do Castelo, mas adiantou que há “três nomes fortes” identificados, escudando-se no argumento de que “mais importante do que os políticos são as políticas”. Na primeira entrevista como presidente da Concelhia do PSD de Viana do Castelo, Duarte Martins reconheceu que nem tudo o que o PS tem feito é mau, mas não poupou nas palavras nem nas críticas ao trabalho desenvolvido por Ricardo Rego, enquanto vereador do Desporto, considerando-o mesmo como “uma autêntica pedra no sapato” do presidente da Câmara.
Depois de ter sido presidente da JSD distrital durante dois mandatos e de ter estado ligado a algumas comissões políticas do concelho vianense e à Assembleia Municipal de Viana, Duarte Martins garante não ter tido “dúvidas de que era a hora certa” para liderar a Concelhia, numa altura em que também se prepara para enfrentar o maior desafio da sua vida com o nascimento do seu primeiro filho. “Achei que era a altura de dar o meu contributo de uma forma mais directa e activa ao partido e aos vianenses”, justificou o presidente de 41 anos, que concilia a sua actividade política com a profissão de responsável de Recursos Humanos numa unidade hoteleira de Viana do Castelo. Candidato à concelhia numa lista única, frisa que esse facto é demonstrativo de que a “casa está arrumada” e que há “união, capacidade e determinação” na sua equipa, apontando-a como uma “alternativa viável às opções políticas de Viana”. “O nosso principal objectivo é melhorar a qualidade de vida dos vianenses e foi com este propósito que, em 2022, nos juntamos e conseguimos mudar o rumo do PSD em Viana, algo que transita para esta nova liderança”, acrescentou, garantindo que esta Concelhia vai “apresentar um projecto exequível para as próximas Autárquicas”.
“Neste momento, os nomes não são o mais importante”
Depois de 30 anos de governação socialista na Câmara de Viana, Duarte Martins reconhece que “nem tudo o que o PS fez tenha sido mau”, mas sublinha que o PSD “terá capacidade para construir políticas diferentes e efectivas, sem serem propagandísticas” e que “Viana do Castelo merece alternância democrática”. “O Município precisa de uma nova estratégia, novas pessoas. Já diz o ditado: quem muda, Deus ajuda”, acrescentou, considerando que, depois de 30 anos, “aquela casa cheira bastante a mofo e precisa de um refresh que só pode ser dado pelo PSD”.
O rosto para liderar esse “refresh” é que o novo presidente do PSD de Viana ainda não divulga, adiantando apenas que há “três nomes fortes” pensados e são de Viana do Castelo, e passa de seguida ao ataque: “Neste momento os nomes não são o mais importante. O mais importante é garantirmos que vamos conseguir ter alguém que efetivamente personifique o que o PSD de Viana quer para o concelho. Acredito que nesta altura do campeonato ainda ninguém tenha perguntado ao PS quem é o seu candidato para as próximas Autárquicas: será Luís Nobre, José Maria Costa…Ricardo Rego? Há ali uma confusão e ninguém sabe quem é o candidato.” Alfinetadas à parte, Duarte Martins garante que o candidato do PSD “será uma alternativa credível ao poder de 30 anos”, seguindo o mesmo princípio nas candidaturas às freguesias. “Não estamos à espera de candidatos de circunstância, mas sim de pessoas com objectivos claros e trabalhadoras, que se preocupem com as pessoas e não com o cargo, até porque a política não pode ser uma feira de vaidades. Não podemos ser como o PS, que se atropela para ver quem fica à frente das câmaras de televisão em determinados eventos”, criticou, adiantando que “60% dos candidatos às juntas de freguesia estão fechados”, apesar de ainda estar em avaliação se o PSD vai apresentar candidaturas em todas as freguesias. “Não queremos ter candidatos de circunstância para encher”, justificou o líder concelhio, mostrando-se aberto à coligação com CDS-PP às Autárquicas. “Quem vier por bem, é sempre bem-vindo”, sentenciou.
Questionado sobre a possibilidade da saída de Eduardo Teixeira para o Chega comprometer o objectivo do PSD em vencer a Câmara de Viana, Duarte Martins desdramatiza: “Qualquer candidatura que possa surgir, seja de Eduardo Teixeira, Luís Nobre, José Maria Costa ou Ricardo Rego, nós respeitamos, mas estamos concentrados na nossa candidatura.”
Parquímetros e transportes públicos
Apesar de reconhecer que algum do trabalho do PS tem dado frutos, Duarte Martins é cáustico no que toca à avaliação do trabalho da Câmara em alguns aspectos. “Todos conhecem o estado lastimável das finanças da Câmara de Viana e as vontades autárquicas sobrepõem-se muitas vezes às vontades dos vianenses. Um exemplo disso é a recente abertura de concurso público para aquisição de 20 parquímetros no centro da cidade. O PSD é claramente contra a instalação de parquímetros no casco histórico de Viana e uma das medidas que vai tomar, caso vença a Câmara, é a inutilização destes parquímetros. Não podemos tentar tirar benefícios económicos à custa do sacrifício dos vianenses”, enfatizou, considerando “estranho o silêncio da Associação Empresarial de Viana do Castelo sobre este assunto”.
O dossier dos transportes públicos é outro que Duarte Martins admite que o PSD se distancia da actual governação socialista, defendendo que devia haver mais diálogo e não adoptar posições extremadas “como tem acontecido entre a Câmara Municipal e o operador de transportes”. “Tem de existir diálogo, tem de haver cedências dos dois lados. O primeiro passo é dialogar, caso contrário, os únicos prejudicados são os vianenses que utilizam transportes públicos”, afirmou, considerando “precipitada” a decisão da Câmara em avançar como operador público de transportes no próximo ano. “Financeiramente a Câmara não está preparada e poderá causar transtornos e mais uma vez quem vai pagar essa factura serão os vianenses”, antecipa, adiantando que, caso o PSD vença a Câmara, “vai avaliar todas as opções” em relação a esse processo, sendo certo que, na sua opinião, “o actual modelo de concessão é o melhor, apesar de precisar de ser revisto para reduzir as actuais assimetrias”.
“Onde estão as contas da Cidade Europeia do Desporto?”
No turismo, Duarte Martins critica o aumento da oferta de hotéis em Viana. “Não basta existirem unidades hoteleiras no concelho, é preciso criar atractividade para o concelho, promover o que de melhor temos. Mas a aposta no turismo deve ser feita tendo em conta o público alvo que se pretende alcançar”, defendeu, lançando novamente críticas à actual governação socialista, no que toca à relação da Câmara com as associações e clubes. Munido com uma notícia de setembro sobre o apoio de 500 mil euros a 60 clubes para este ano, Duarte Martins é mordaz: “Já passaram nove meses! As instituições precisam de apoio desde janeiro e este apoio só será pago no próximo ano. As associações estão, grande parte delas, em asfixia. Esta situação visa a credibilidade do vereador do Desporto, Ricardo Rego, que é uma autêntica pedra no sapato de Luís Nobre. A relação existente e a credibilidade de Ricardo Rego estão feridas de morte, fruto da ausência de verdade relativamente às associações e clubes. Tudo isto demonstra que não está a cumprir a sua palavra. Tem sido um mau vereador e a prova disso será o seu afastamento das listas do PS nas próximas Autárquicas. O seu afastamento deve-se à sua incompetência, por isso, é que ele já não toma decisões sem serem ratificadas pelo presidente Luís Nobre.”
Duarte Martins questiona ainda “onde estão as contas da Cidade Europeia do Desporto”. “Alguém sabe o que foi gasto e o que contribuiu para Viana do Castelo? Sabemos que foi a melhor Cidade Europeia do Desporto, em Viana somos peritos em prémios, temos sempre os melhores galardões, mas falemos de coisas reais: onde estão as contas? Apresentem-nos as contas, o que correu bem, quais os benefícios que trouxe, o que gastamos”, apelou, admitindo que a realização da Cidade Europeia do Deporto pode ter agravado a situação financeira da Câmara. “Não tenho dúvidas de que contribuiu para o buraco financeiro que existe e várias instituições estão a “arder” pela falta de cumprimento, já para não falar na sobreposição de eventos que existiu”, afirmou, garantindo que o PSD, caso vença a Câmara, pretende reforçar os apoios aos clubes e associações, mas passará a exigir-lhes responsabilidade social através, por exemplo, de bolsas de estudo ou de participação a jovens de famílias mais carenciadas.
Presidente da Assembleia Municipal “não tem sido isenta”
O novo presidente da Concelhia social democrata afirmou que está “muitíssimo satisfeito” com o trabalho que tem sido feito por Paulo Vale, enquanto vereador. “É um trabalho de excelência, rigor e critério. É alguém que tem colaborado com esta comissão política e estamos muitíssimos satisfeitos com a sua performance”, afirmou, estendendo também elogios à bancada do PSD na Assembleia Municipal, apesar de ser liderada por uma presidente que considera que “não tem sido isenta”. “Isso causa dificuldades aos eleitos do PSD em poderem transmitir a sua ideia porque estão sempre com restrições impostas pela senhora presidente. Faço uma avaliação satisfatória do trabalho dos eleitos na Assembleia Municipal, sabendo das dificuldades que têm, devido às entropias causadas pela senhora presidente e pelos presidentes de Junta independentes, que não abonam nada para a construção de projectos que visam beneficiar a população de Viana do Castelo”, criticou.
“Nevoeiro” nos incentivos fiscais
No que pode ser um esquisso do programa eleitoral para o próximo ano, Duarte Martins apontou o envelhecimento e isolamento da população, o reforço das actividades de apoio à família e um melhor controlo na atribuição de benefícios fiscais. “O nosso vereador Paulo Vale fez uma intervenção de nível elevado relativamente a este assunto porque não pode haver um nevoeiro como aconteceu em relação a este hotel que existe em frente à sede do PSD, isto cria suspeição”, afirmou. No capítulo dos impostos, Duarte Martins admite que a opção pela redução em Viana deve ter em conta a situação financeira da Câmara, mas “o mais importante é mostrar que é possível, nem que seja de forma gradual”.