“Muitos emigrantes do Alto Minho ajudaram a construir o Brasil”

0
168
Depois de estudar durante mais de 30 anos os fluxos da emigração no Alto Minho, o historiador Henrique Rodrigues lançou os livros “Mobilidades do Vale do Minho e Galiza: Correspondência do Brasil” e “Perfis de Emigrantes do Vale do Minho e Galiza no Século XIX”. As obras, que que têm como principal mecenas a Fundação Caixa Agrícola do Noroeste, pretendem retratar a emigração para o Brasil durante o século XIX.
“Com este livro deixo um pequeno contributo para a história das mobilidades e faço um retrato da emigração. O livro Perfis de Emigrantes do Vale do Minho e Galiza é uma tabela que identifica as pessoas estudadas e a outra obra é a essência do nosso estudo”, explicou Henrique Rodrigues, dizendo que os dois trabalhos pretendem fazer “abordagens à emigração em múltiplas formas” e que “fizeram cair muitas teses”. “Fez-se crer que a mulher ficava refém em casa à espera do homem. A minha investigação prova que elas também vão com a família, sozinhas, divorciadas ou solteiras. Além disso, muitos emigrantes eram instruídos e ajudaram a construir o Brasil”, destacou, frisando que os seus mais recentes trabalhos estão incluídos numa trilogia, cujo primeiro livro se intitula “Emigração e emigrantes Vale do Lima no século XIX”.
“Estas obras representam um percurso de 30 anos, altura em  que iniciei um projeto no arquivo do antigo Governo Civil de Viana do Castelo. Contudo, está tudo por fazer na nossa história da emigração. Este trabalho poderia ser o princípio, mas não há coragem para passar 30 anos num arquivo”, lamentou, agradecendo o apoio da Fundação da Caixa Agrícola na edição das duas obras. “O Alto Minho tem um mecenas e esse mecenas é a Caixa Agrícola. Sem o apoio das autarquias também não seria possível termos mais estes dois livros”, agradeceu, anunciando que vai escrever um livro sobre Paredes de Coura.
Os livros foram apresentados pelo historiador Ernesto Português, que considerou que a investigação de Henrique Rodrigues “provoca novas reflexões sobre a temática das mobilidades”. “Daí a originalidade e a riqueza de informação que aqui se colhe e que fica à disposição de desenvolvimentos na área das mobilidade. O estudo permite traçar um quadro bem elucidativo do que foi a emigração para o Brasil e conta a história de um povo”, elogiou o historiador, acreditando que o trabalho “deixa marcas na investigação das mobilidades”. “Qualquer estudo nesta área tem, forçosamente, de passar por aqui”, acredita.
Vítor Paulo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura, destacou o trabalho do autor nesta temática. “Muitas pessoas têm preconceitos sobre a emigração porque associam à fraqueza. Porém, este tipo de livros mostra que a emigração é sinal de força”, considerou, referindo como exemplo a história do conselheiro Miguel Dantas, que emigrou para o Brasil no século XIX. “Fez fortuna e, quando regressou, construiu a Câmara Municipal e a comarca. O concelho ganhou força graças a um rapazinho que emigrou para o Brasil. Por isso, digo que o concelho de Paredes de Coura é fruto da  emigração”, narrou o edil. De acordo com Vítor Paulo Pereira, a autarquia, ao longo de 13 anos, editou “dezenas de livros”. “Há terras que têm mais sentido de identidade e orgulho porque também editaram mais livros. Os livros ajudam a criar este sentimento de identidade e de pertença”, acredita o autarca, que destacou o apoio  da Fundação da Caixa de Crédito Agrícola na edição da obra. “É um mecenas cultural que apoia livros e a cultura. Além disso, é uma instituição que nos ajudou muito e que deu muito ao território”, agradeceu.
“O nosso objetivo é estar próximos dos nossos clientes e dos cidadãos. Não somos só uma instituição financeira porque também nos preocupamos com a sociedade. Por isso, também patrocinamos eventos culturais e livros”, enquadrou José Correia da Silva, presidente do Conselho Administrativo da Caixa de Crédito Agrícola do Noroeste, que assina um dos prefácios da obra de Henrique Rodrigues. “Na leitura do livro, tocou-me muito a solidão das pessoas que saíam. Isso fez-me pensar o que é que acontece a todos aqueles que são emigrantes ainda hoje”, frisou, considerando que as obras de História “vêm destapar muita coisa que não se sabia”. “Ao lerem este livro vão também ver os momentos que possibilitaram a fundação de uma Caixa Agrícola. As cooperativas de crédito surgiram na Alemanha nos finais do século XIX onde havia pobreza, fome e crises. As pequenas unidades que foram surgindo permitiram que as pessoas pudessem melhorar as suas vidas”, ressalvou.