“Às vezes, sem darmos conta, tentamos dar aulas imitando Amadeu Torres”

0
49

Sacerdote, professor, linguista, investigador e autor de diversos poemas, Amadeu Torres teria celebrado, a 25 de Novembro, o 100.º aniversário. Nesse sentido, a freguesia de Vila de Punhe, de onde era natural, lançou o livro “Formas de ver Amadeu Torres”, que conta com testemunhos de seis antigos alunos. Esta apresentação fez parte do programa comemorativo do centenário promovido pela autarquia local.

“O professor Amadeu Torres acompanhou todo o meu percurso académico, no doutoramento e nas fases seguintes de progressão da minha carreira. Foi dos melhores professores que tive. Devo-lhe o gosto e a paixão pela Linguística”, reconheceu Augusto Soares da Silva, docente na Católica de Braga. “A minha visão sobre ele foi recordar e agradecer o muito que aprendi com ele. É alguém que deixa muitas saudades e um legado científico, académico e humanístico da maior relevância”, acrescentou.

José Teixeira, professor da Universidade do Minho, lembrou que “Amadeu Torres não era apenas um cientista, mas uma pessoa com alma e coração, apreciador das coisas boas da vida, de bom convívio”, e que deixou muitas marcas. “Às vezes, sem darmos por isso, damos aulas imitando o professor Amadeu Torres. Tentamos lidar com os alunos da mesma forma que ele lidava: de forma aberta, descontraída”, confidenciou.

Miguel Gonçalves, da Universidade Católica, recordou a criação de uma revista científica ao lado de Amadeu Torres. “Ele foi o primeiro diretor, eu era secretário dele. Depois, infelizmente, porque morreu, tive de lhe suceder na direção”, revelou, acrescentando que Amadeu Torres tinha muito orgulho naquele conjunto de alunos que, este ano, decidiram dedicar-lhe este livro. “Ele dizia que, quando partisse, a Universidade e a área científica da Linguística ficaria bem entregue por ficar nas nossas mãos”, contou.

Salvato Trigo, responsável pela apresentação de “Formas de ver Amadeu Torres”, que decorreu no Fórum Cultural das Neves, disse que foi aos 12 anos que o conheceu pessoalmente. “Foi num sermão que ele pregou na igreja da minha freguesia, em Estorãos, Ponte de Lima. Depois disso cruzámo-nos várias vezes, na minha vida académica, na vida académica dele… Em vários locais, em congressos, em colóquios. É uma pessoa que tinha uma dimensão humana e ética excecional, que deixa saudades e que, com a sua morte, deixou a Universidade em Portugal mais pobre”, afirmou.

Porfírio Silva, que ao longo do ano ajudou a organizar o programa de comemoração do centenário de Amadeu Torres, relembrou-o, emocionado. “Era um amigo, um irmão. Era das pessoas mais humildes que conheço. Ele fez 100 anos no dia 25. Eu fiz 68 no dia 26. Almoçávamos sempre juntos por altura dos nossos aniversários. Enquanto eu for vivo, vou fazer tudo para que a sua memória seja perpetuada”, garantiu.

António Costa, presidente da Junta de Freguesia de Vila de Punhe, descreveu Amadeu Torres como “um vulto cultural, académico e literário”. “Deu muito à nossa terra. Enalteceu o nosso património, a nossa gente e a nossa cultura, nos seus escritos, e estamos-lhe muito gratos”, declarou.

Presente na apresentação da obra de homenagem a Amadeu Torres, que tinha como pseudónimo Castro Gil, Luís Nobre, presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, reconheceu que “a obra dele é uma obra inquestionável”.

“É uma referência para o Vale do Neiva, para o Alto Minho e para Portugal. Convidou-nos a viver as tradições e as manifestações populares de uma forma inovadora e é um legado que nos deixa. Por isso, é com grande satisfação que me associo a este centenário”, assumiu.