A paisagem e o património do Alto Minho desempenham um papel fulcral na promoção turística da região, que tem recebido cada vez mais turistas. Mas agora surge uma nova dimensão da oferta relacionada com a capacidade de “contar histórias” que, de acordo com Francisco Calheiros, presidente da Associação de Desenvolvimento Integrado do Lima (ADRIL) e da Associação de Turismo de Habitação (TURIHAB), tem explorado a ligação ancestral da região com a Galiza.
“As pessoas que visitam o Norte de Portugal vêm para ter histórias para contar. Querem contar a nossa história e querem ver aquilo que está confinado aos arquivos e às antigas casas que existem cá”, disse Francisco Calheiros, adiantando que este é o “novo tipo de turismo que está a ser explorado”. “É muito interessante ir aos arquivos, ver esta evolução e contar histórias aos turistas. A relação entre Galiza e o Norte de Portugal é muito forte, porque aqui nasceu Portugal e, portanto, ainda que estejamos muito dependentes do Porto, porque é uma porta de entrada de muito turismo, não podemos esquecer a fonte extraordinária que é a Galiza e o Norte de Espanha. Grande parte dos nossos turistas vêm de Espanha e não podemos esquecer também que a Galiza e o Norte de Portugal já foram parte da mesma região e do mesmo país. Nós ficamos com a ideia da fronteira e a relação entre as pessoas acaba por se fazer só a um nível transfronteiriço muito curto e não a um nível mais alargado. Mas há aqui um entrelaçamento e há uma relação com as origens fantástica, que tem a ver com as histórias das famílias da idade média, quando não havia fronteiras, nem sequer países”, enquadrou.
Para Francisco Calheiros, a abertura de um hotel da cadeia Vila Galé em Ponte de Lima no próximo ano vai causar “um grande impacto”. “Estamos a falar de uma rede nacional e internacional que tem um potencial enorme de promoção e, por isso, podem correr-se riscos, como o de haver unidades que não conseguem a ocupação suficiente para garantir a sua autossustentabilidade”, alertou, indo ao encontro das preocupações deixadas por Valdemar Cunha, empresário vianense ligado à promoção turística, que apelou a uma “reflexão séria” sobre a instalação de hotéis em Viana do Castelo, já que há 20 anos começaram a encerrar várias unidades hoteleiras na cidade e arredores. “Para promover uma cidade é preciso um trabalho árduo, fazer hotéis é fácil, o problema é enchê-los”, referiu o empresário. “Há decisões que são tomadas no bom sentido, mas podem ser venenos para o mercado (…) são granadas de simpatia. Viana tem um conceito de turismo como um presépio…com pés de barro”, comparou.
Mais ligado à promoção turística ligada a casas históricas, Francisco Calheiros admite que a concorrência dos hotéis é forte, mas nada tem a ver com os solares e casas antigas. “Os solares, só por si, são um produto turístico. Nós não somos concorrentes nem do alojamento local, nem da hotelaria, porque não somos só um alojamento. Não somos um quarto com pequeno-almoço. As casas antigas vão muito mais para além disso, porque cada casa tem a presença do dono, que partilha o seu conhecimento da história da família e da região. Neste tipo de turismo, as pessoas gastam dinheiro para vir, mas saem daqui mais ricas”, assegurou, acrescentando que os donos destas casas e solares “não têm receio” de possíveis concorrências. “A maioria dos solares de Portugal é autossustentável. Eles não vivem única e exclusivamente do turismo, ainda que o turismo represente a fatia mais importante da sua sustentabilidade, mas associado a estas casas está, por exemplo, uma exploração agrícola, a produção de um vinho ou jardins que as pessoas podem visitar. Cada vez há mais grupos com vontade de visitar estas casas, os seus jardins e a sua história. Portanto, há espaço para todos e há turistas para todos”, salientou.
Segundo Francisco Calheiros, a sazonalidade tem o seu “peso” no turismo, mas frisa que há nichos de mercado para todas as alturas do ano. “No verão as pessoas estão em período de férias e viajam mais, mas o inverno também é bonito, tem a sua beleza e há todo um mercado imune à sazonalidade, como o dos turistas mais velhos. Neste aspeto, nós temos um país que é um refúgio para os reformados dos outros países. Alguns têm neve e muito frio nos seus países e nós aqui temos um clima que lhes permite estar perfeitamente no exterior”, referiu.
Francisco Calheiros refere que a promoção turística do Alto Minho tem assentado nos ícones do território. “Um dos grandes ícones do território é a paisagem, que é única. É importante preservar o património e a estratégia que tem sido desenvolvida, em grande parte, tem a ver com essa preservação, dando finalidade a determinados espaços que possuímos. Por exemplo, o Paço de Giela, nos Arcos de Valdevez, é um ponto de encontro para a realização de eventos, Ponte da Barca tem o Castelo do Lindoso, em Ponte de Lima temos o Paço do Marquês e o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde, que foi recuperado pela Câmara Municipal, e em Viana há muitos espaços que estão a ser utilizados nessa mesma perspetiva”, declarou, lembrando que a estratégica local de promoção turística de Ponte de Lima tem sido desenhada com base nos seus recursos endógenos. “Temos, por exemplo, o Festival Internacional de Jardins, a Feira do Cavalo, uma gastronomia poderosa e com potencial e temos a casta do vinho Loureiro, com muita projeção no âmbito regional do Vale do Lima. Se formos um bocadinho mais abrangentes estamos a falar também do Vinho Verde e incluímos o Alvarinho que é específico do Vale do Minho”, destacou, não esquecendo a importância do Caminho de Santiago enquanto “forte atractivo turístico” da região.
Segundo Francisco Calheiros, a diáspora também “contribui fortemente” para o desenvolvimento turístico da região. “Os nossos antepassados foram, por exemplo, para o Brasil, que tem um mercado potencial enorme e hoje, cada vez mais, os brasileiros procuram as suas origens. Temos aqui mais do que exemplos de brasileiros que investiram muito cá, como é o caso da Villa Moraes, mas há muitos outros exemplos de famílias que investiram grandes fortunas cá, na sua terra, porque procuram cada vez mais as suas origens”, exemplificou.
“Todos os anos o Turismo de Portugal diz que se batem recordes. Todos os anos há mais turistas, há mais receitas e há mais camas. Eu não sei onde é que vamos parar, mas há sempre gente a viajar e as pessoas passaram a estar dependentes da viagem, e do turismo, quase como da alimentação. Hoje em dia, as pessoas precisam de viajar e fazem-no naturalmente, porque há uma parte do seu orçamento que está, desde logo, destinado às viagens”, explicou.