Família de Geraz do Lima concretiza sonho ao dar volta ao mundo com os filhos

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Ângelo Silva e Susana Ribeiro, um casal de minhotos que sempre adorou viajar, estão, actualmente, a dar uma volta ao mundo com os dois filhos, Luísa de 5 anos e Francisco de 2, numa aventura de seis meses, cujo epílogo está marcado entre a Páscoa e o 25 de Abril. De Geraz do Lima, em Viana do Castelo, esta família já passou pela África, Ásia e Oceânia e, em breve, vai para a América do Sul. Passaram o Natal em Taiwan e o ano novo na Coreia do Sul. Além de reforçarem os laços, multiplicarem memórias juntos e abrirem horizontes culturais, estes pais querem demonstrar que os filhos não são impedimento de nada na vida de um casal. Muito pelo contrário.

Natural de Barcelos, Ângelo é militar e conheceu a esposa através do irmão desta, que também é militar. Depressa perceberam que juntos queriam explorar o mundo e começaram a viajar. A primeira viagem foi no Caminho de Santiago, com partida de Geraz do Lima, pelo itinerário português central. “Começamos a namorar em abril e fizemos o primeiro Caminho juntos em setembro desse ano. O Caminho foi a prova dos nove da nossa relação”, admitiu Ângelo que, com a esposa, já fez o Caminho Francês, Via da Prata e Português da Costa.

Depois seguiram-se viagens a dois pela Europa e Ásia, antes de nascer a primeira filha. “Quando éramos solteiros, diziam-nos para aproveitar a vida a dois, sem filhos, porque quando viessem os filhos não teríamos mais tempo, mas nós não concordamos com essa ideia”, disse Ângelo.

Quando a filha Luísa tinha um ano, o casal partiu na primeira aventura a três. Compraram e reformaram uma autocaravana e partiram pelo sul da Europa até à Grécia, numa viagem de 40 dias. “Disseram-nos que éramos malucos por viajar com a nossa filha tão pequena, mas correu tudo bem”, recordou. Quando nasceu o Francisco, o ímpeto aventureiro continuou e levou-os novamente para o Caminho de Santiago. “Fizemos o Caminho Inglês em 2024, desde a Corunha até Santiago. Usamos um trolley próprio para as crianças. Correu muito bem e, ainda recentemente, a nossa filha disse-nos que tinha saudades de fazer o Caminho”, contou.

Antes de iniciar esta volta ao mundo, Ângelo e Susana já tinham viajado por 40 países. No final desta aventura, já terão passado por cerca de 70, de todos os continentes, com excepção dos pólos norte e sul.

“O nosso grande objectivo com esta volta ao mundo é criar boas memórias e que os nossos filhos tenham histórias para contar. E também mostrar aos casais que os filhos não são impedimento para realizar os sonhos. Não é por ter um ou dois filhos que temos de deixar de fazer, cancelar ou adiar projectos de vida. Nós estamos a viver os nossos sonhos e com os nossos filhos é melhor ainda”, realçou Ângelo. “Esta experiência tem sido uma loucura, mas é uma loucura boa que acredito que vai dar frutos no futuro, principalmente para a nossa filha mais velha. Com esta viagem estamos a cumprir os nossos sonhos, demonstrando que os nossos filhos não são impedimento de nada, pelo contrário, estamos a incluí-los nos nossos sonhos”, acrescentou Susana.

 

 

Andam atrás de medalhas como o Son Guku andava atrás das bolas de cristal

Quando esta família falou com o Jornal Alto Minho, estava na Austrália, prestes a embarcar num cruzeiro de sete dias, antes de seguir viagem para a Nova Zelândia. Depois apanharão um voo para a América do Sul, onde vão estar os próximos meses até ao regresso a Portugal. Esta aventura familiar começou no Egipto, passou pela Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Sri Lanka, Maldivas, Camboja, Laos, Vietname, Taiwan, China, Coreia do Sul, Japão, Filipinas, Malásia, Singapura e Indonésia.

A viagem está a ser documentada em vídeo, num canal do youtube, onde todas as segundas-feiras estreia um novo episódio. “Decidimos criar um imaginário com os nossos filhos e partimos em busca de medalhas preciosas espalhadas pelo mundo”, contou o pai Ângelo, confessando que se inspirou na história do Dragon Ball, cujo protagonista andava atrás das bolas de cristal. “O nosso filho mais novo tem dois anos e pouco vai levar de recordações da viagem, mas uma coisa é certa: quando ele tiver 20 anos, pode não se lembrar do que fez na viagem, mas a pessoa que ele será com essa idade será o reflexo do que ele viveu com dois anos. Também por isso decidimos criar o canal”, justificou o pai de 38 anos, que pediu uma licença do seu trabalho para poder estar estes seis meses fora. A esposa Susana, que completou 32 anos durante esta aventura, também pediu uma licença sem vencimento do seu trabalho numa cadeia de lojas de produtos desportivos. O casal, que actualmente está a morar no Algarve, está a usar as suas economias e o dinheiro de alguns projectos que tem para sustentar esta viagem de mochila às costas. Como a filha mais velha entra para a escola no próximo ano lectivo, “este tinha mesmo de ser o ano para fazer esta aventura”, justificou o pai.

Os avós “ficaram de coração nas mãos” quando souberam que os filhos iam embarcar “nesta pequena loucura”. “Mas eles já nos conhecem e nós mantemos sempre em contacto e ficam mais ansiosos à segunda-feira, quando publicamos os videos no canal. Antigamente ficavam deprimidos porque a segunda-feira era dia de trabalho, mas agora ficam ansiosos por ver os netos nos videos”, gracejou Ângelo. “Queremos com este imaginário mostrar que é possível viajar com os filhos de uma forma divertida. Tudo é feito de uma forma simples e amadora, mas é feito com muito amor”, acrescentou.

 

 

Natal em Taiwan e ano novo na Coreia do Sul

E a aventura tem sido “gratificante”, garante, principalmente, pelo tempo de qualidade que têm passado em família e por estarem a viver a infância dos filhos de uma forma “muito intensa”. “Claro que há contratempos e há momentos em que se nota que não é fácil estar 24 sobre 24 horas todos juntos. Tem de haver muita compreensão de todos, mas se tivermos de abdicar de uma ida a museu ou outro lugar porque os nossos filhos não querem, abdicamos porque primeiro estão eles. Nós estamos aqui porque queremos, eles vieram connosco, não escolheram vir, por isso, a principal prioridade são eles e as escolhas deles”, apontou o pai. E os filhos, assegura, estão a adorar a experiência, incluindo do ponto de vista gastronómico. “Eles são um bom garfo, gostam de comer qualquer tipo de comida. Nos primeiros países que visitamos ficaram logo “vacinados” com o picante, então agora dizem sempre “no spicy” quando pedimos comida. É engraçado também vê-los a observar as diferentes fisionomias das pessoas e a Luísa, que está na fase dos porquês, quer saber o motivo de tudo”, partilhou o pai, que ficou surpreendido com a reação da filha quando viu uma criança a pedir esmola no Egipto. “Foi um choque para ela ver aquilo, mexeu com ela, perguntou pelos pais da menina que me pediu dinheiro… também é bom ela ter a consciência de que nem toda a gente tem a sorte dela e começar a dar valor às coisas”, acrescentou.

Talvez por isso, no Natal, os filhos deste casal pediram um corte de cabelo e um gelado. “Nós dissemos que só podiam pedir uma prenda porque viajamos com quatro mochilas, onde temos de colocar roupas de verão e inverno. A Luísa, na sua simplicidade, pediu um corte de cabelo e o Francisco, na sua inocência pediu um gelado azul. Foram essas as prendas do Natal, passado em Taiwan”, contou Ângelo, acrescentando que, em vez de bacalhau e batatas, a ceia de Natal foi ramen (comida típica japonesa). “A passagem de ano foi em Seul, na Coreia do Sul. Tínhamos planeado passar o ano na cidade, no meio da festa, mas estava muito frio nessa noite com temperaturas negativas. Por isso, passamos no apartamento onde estávamos alojados, compramos uns bolinhos para adoçar as crianças e fizemos a festa em casa. À meia noite, fizemos chamada para os avós e foi estranho porque ainda eram três da tarde em Portugal. Quando acordamos, passamos o ano outra vez, mas desta vez na hora portuguesa”, relatou.

Desde que começaram esta aventura, os filhos deste casal só estiveram doentes uma vez. Foi nas Filipinas por causa da água dos banhos. Toda a família ficou com uma gastroenterite. “Ainda continuamos no grupo de whasapp dos pais dos colegas dos nossos filhos e temos apercebido que os miúdos têm andado todos doentes com gripe. Por isso, até damos graças por os nossos filhos não estarem lá…” admitiu, entre risos, confirmando que “viajar dá saúde…em todos os sentidos”.