“Vaca das Cordas” de Ponte de Lima em consulta pública para património imaterial

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O Instituto do Património Cultural iniciou esta quinta-feira a consulta pública sobre a decisão de inscrever a “Vaca das Cordas” de Ponte de Lima, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

O anúncio da abertura do procedimento, que terá a duração de 30 dias, foi hoje publicado no Diário da República (DR).

A publicação esclarece que o Património Cultural irá decidir sobre o pedido de inventariação no prazo de 120 dias após a conclusão do período da consulta pública.

A tradição da “Vaca das Cordas”, que se realiza em junho, na véspera do feriado do Corpo de Deus, obriga a que o animal saia para as ruas da vila, pelas 18:00, conduzido por cerca de dezena e meia de pessoas e preso por duas cordas.

É levado até à Igreja Matriz e preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, “lombo abaixo, para retemperar forças”, conforme reza o costume local.

Dá depois três voltas à igreja, sempre com percalços e muitos trambolhões à mistura dos populares que ousam enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila, dando lugar a peripécias, com corridas, sustos, nódoas negras e trambolhões e até pegas de caras amadoras.

Nas ruas do centro histórico irá cumprir-se, madrugada dentro, a confeção dos tapetes floridos, por onde irá passar a procissão do Corpo de Deus.

Depois daquele ritual, o animal será abatido no matadouro. A carne será vendida num talho de Ponte de Lima.

A mais antiga referência que se conhece da “Vaca das Cordas” remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.

Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis. Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um templo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.

Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da “deusa vaca” e com ela deram três voltas à igreja, após o que a arrastaram pelas ruas da vila.

Daí virá o costume da “Vaca das Cordas”, um ritual que foi interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar.