
Partidos insistem na vontade de repor 302 freguesias
A Assembleia da República vai confirmar o diploma que repõe 302 freguesias agregadas durante a reforma administrativa de 2013, segundo as posições manifestadas durante um novo debate, na sequência da devolução do decreto ao parlamento pelo chefe de Estado.
Durante o debate, PSD, PS, PCP, CDS-PP, Livre, BE e PAN manifestaram-se a favor da reposição do diploma. Tal como aconteceu em 17 de janeiro, quando o parlamento aprovou o diploma, a Iniciativa Liberal manifestou-se contra a reposição de freguesias, enquanto o Chega foi crítico, mas não indicou o sentido de voto. O PSD analisou os argumentos do Presidente para o veto do diploma, mas decidiu reconfirma-lo porque “parar este processo violaria de forma desnecessária e injustificada as legítimas expectativas das populações”, destacou o deputado social-democrata Jorge Paulo Oliveira.
O deputado social-democrata sublinhou que, “embora muitos só agora pareçam ter acordado para esta temática, o debate sobre a correção da reforma territorial autárquica”, não começou agora, mas “iniciou-se em 2020 e ficou concluído em 2021”. “Sim, da correção da reforma e não de uma qualquer contrarreforma, como muitos alegam”, sublinhou. Jorge Botelho, pelo PS, destacou que o partido analisou o teor das dúvidas manifestadas pelo Presidente da República, “mas, discorda das mesmas pelo que irá confirmar o diploma”.
“Iremos confirmar o diploma porque, no nosso entender, o mesmo deve entrar em vigor o mais rápido possível e a tempo que, ainda nas próximas eleições autárquicas deste ano, o novo mapa autárquico de freguesias seja uma realidade e as novas freguesias agora desagregadas possam ser sujeitas a voto por parte das populações”, acrescentou.
Mariana Leitão reiterou o voto contra da IL, considerando que, se em janeiro “já havia poucas condições políticas para a desagregação de mais freguesias, em março, em plena crise política e após um veto presidencial, insistir neste processo é irresponsável”. “Criar mais freguesias significa aumentar o Estado à custa de todos para beneficiar uns poucos”, disse a deputada liberal, considerando que já em janeiro a IL “esteve sozinha do lado certo da história e das políticas públicas” e vai repetir o voto contra hoje.
Em resposta à deputada da IL, Joana Mortágua, do BE, afirmou que “só quem vê na democracia um gasto desnecessário, um gasto sem retorno, pode dizer que uma reforma democrática é um custo e que não podemos aumentar o número de freguesias porque isso sai caro ao país”.
No mesmo sentido, Inês Sousa Real, do PAN, discordou “da visão daqueles que acham que [a reposição] traz um encargo para o erário público”. “Mas, mesmo que o trouxesse, a democracia tem os seus custos e deve ser acarinhada por todas e por todos, em particular quando a mesma parte daquilo que é a base local”, afirmou.
O Livre “discorda das razões subjacentes ao veto do Presidente da República” e adiantou que irá reconfirmar o diploma, por considerar que a reforma de 2013 “teve pouco em consideração as realidades” locais, muito embora as juntas de freguesia e os autarcas sejam “o primeiro garante da confiança dos cidadãos no poder político e nos seus representantes”, disse o deputado Paulo Muacho. O deputado comunista Alfredo Maia reiterou que o PCP irá confirmar o seu “compromisso com todas as freguesias que desejam de ser repostas e assim o decidiram”.
Apesar de entender que “a lei que esteve na génese deste processo é uma lei errada”, o CDS-PP também irá confirma a reposição de freguesias, porque, “a partir do momento em que a lei foi aprovada”, criou expectativas, requisitos e condições para a desagregação. “Seria incompreensível […] tirar agora, no final do processo, a estas populações a possibilidade de concretizarem a sua ambição e a sua expectativa”, afirmou o deputado popular João Almeida.
O Chega absteve-se em 17 de janeiro e dias depois o seu presidente, André Ventura, pediu a Marcelo Rebelo de Sousa que vetasse o diploma. Hoje, no debate, não disse qual será o sentido de voto do partido.
Segundo o deputado José Barreira Soares, o Chega analisou os argumentos de Marcelo Rebelo de Sousa e concorda que o diploma reverte parcialmente “uma reforma que procurava racionalizar e modernizar o poder local” e, “ao inverter esse caminho”, pode ser posta em causa a estabilidade institucional.
“Todo este processo foi marcado pela falta de transparência, avanços e recuos constantes, mudança de posição dos partidos e critérios pouco claros na escolha das freguesias a desagregar”, acrescentou, sublinhando que a proximidade às eleições autárquicas pode gerar um “caos administrativo”, com “risco de conflitos patrimoniais, financeiros e operacionais entre as freguesias agora desagregadas”.
“Se esta proposta não passou no crivo do mais alto magistrado da nação, será sensato insistir nela? […] A mim parece-me pouco sensato”, afirmou.
O decreto reapreciado desagrega 135 uniões de freguesias, repondo 302 destas autarquias locais, e foi subscrito por PSD, PS, BE, PCP, Livre e PAN, que votaram a favor do diploma em 17 de janeiro, juntamente com o CDS-PP, tendo os votos contra da IL e a abstenção do Chega.