Coletivo Sabotagem estreia “Ocidente” em Ponte de Lima

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O Coletivo Sabotagem estreia, esta sexta-feira, a peça “Ocidente”, a sua segunda produção, no Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima. Baseado num texto de Rémi De Vos, o espetáculo, que reflecte sobre xenofobia, o racismo e a violência doméstica, é protagonizado por Pedro Barros e Nádia Cruz e conta com a encenação de Paulo Calatré. Pedro Barbosa, natural de Ponte de Lima, é o produtor da peça e um dos fundadores do grupo de teatro sediado na vila limiana, que tem como objetivo descentralizar a oferta cultural e mostrar que é possível fazer teatro nos meios mais pequenos.

“O Coletivo Sabotagem é composto por ex-alunos e professores da Academia Contemporânea de Espetáculo para criar uma ligação entre uma geração que já tem mais experiência e a que está a começar. A companhia foi criada durante a pandemia através do programa Garantir Cultura e, em vez de fazermos só um projeto, resolvemos criar uma companhia”, enquadrou Pedro Barbosa, que confessou que sempre quis criar algo em Ponte de Lima. “Este projeto foi uma espécie de teimosia minha. Já há muitas coisas nas cidades e é uma forma de descentralizar a oferta cultural. Também quisemos provar que é possível fazer isto num local que é considerado desfavorecido e que normalmente acredita-se que daí não vem nada, mas não é verdade”, afirmou o produtor, durante um ensaio da peça, que se realizou no auditório Rio Lima.

Natural da freguesia de Arcozelo, Pedro Barbosa diz que Ponte de Lima “está ao nível de qualquer cidade do país”, em termos de condições para a produção de teatro, lembrando que o Teatro Diogo Bernardes integra a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses e faz imensas co-produções e parcerias, incluindo com o Teatro Nacional D. Maria II. “Quando abordei os elementos do Coletivo Sabotagem já alguém tinha dito que valia a pena vir a Ponte de Lima. Há muitas companhias que vêm até cá e dizem que foram bem recebidas e que há boas condições para ensaiar e para fazer residências artísticas. Por isso é que Ponte de Lima recebe propostas para muitas co-produções e é visto como um bom local para apresentar espetáculos. Não é por acaso que o Teatro Nacional D. Maria II escolheu Ponte de Lima”, frisou.

O encenador da peça Paulo Calatré justificou a escolha do texto “Ocidente” para a segunda peça de teatro do Colectivo Sabotagem. “Se por um lado a peça aborda a violência doméstica, também vemos um discurso homofóbico, racista, xenófobo e que se reflete na relação das duas personagens, que começa a deteriorar-se, à semelhança do que acontece na sociedade. Estamos a viver uma série de questões ligadas à imigração, subida da extrema-direita e um pensamento menos democrático… Por isso, queríamos que o público refletisse sobre estas temáticas”, apontou o ator portuense, satisfeito com a experiência de trabalhar em Ponte de Lima. “Temos uma boa relação com o Teatro Diogo Bernardes e com a Câmara Municipal que nos tem ajudado a levar em frente este projeto. Também estamos numa vila em que o público está mais disposto para assistir ao que queremos dialogar, o que numa cidade talvez seja difícil”, vincou Paulo Calatré, que sublinhou a importância de fazer teatro fora dos grandes centros urbanos.

“Está tudo muito centralizado em Lisboa e no Porto, mas é fundamental que toda a gente tenha acesso à cultura. Por que é que uma cidade mais pequena não tem o mesmo direito de usufruir da cultura ou em ter uma companhia profissional? O teatro trouxe essa possibilidade de as pessoas assistirem a espetáculos e ter uma companhia profissional aqui ajuda também a dinamizar”, disse.

“A experiência em Ponte de Lima tem sido muito boa porque há boas condições. Numa fase próxima da estreia conseguimos ter um espaço para ter a equipa toda reunida e ensaiar. Depois temos a oportunidade de apresentar o nosso espetáculo no teatro”, sublinhou, por sua vez, Pedro Barros, ator na peça “Ocidente”, que confessou que foi “duro” trabalhar neste projeto. “Exige um grande esforço físico, mas está a ser muito bom. A peça aborda temas que estão cada vez mais presentes na nossa sociedade e na forma como agimos uns com os outros. Tem sido também um processo de descoberta muito grande”, partilhou o artista.

Nádia Matos, que contracena com Pedro Barros, partilhou a mesma ideia. “É o maior desafio de interpretação que tive até agora porque é uma peça pesada e retrata temas bastante complexos, como a violência doméstica. Além disso, no texto as personagens têm 40 anos, mas nós andamos pelos 20, 30 anos. Temos que tentar chegar a uma vivência que por sermos mais novos é difícil”, declarou a atriz, que pretende que a peça de teatro “Ocidente” desperte consciências. “Não sei se sei se o intuito é sensibilizar porque não estamos com um discurso pedagógico, mas talvez o espelho que tentamos fazer das relações faça pensar o público”, declarou Nádia Matos.