Pedidos de apoio de migrantes estão a aumentar “significativamente” em Viana do Castelo

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Os pedidos de apoio alimentar, pagamento de rendas, água, eletricidade e mediação têm vindo a aumentar “significativamente” em Viana do Castelo, sobretudo de migrantes, face à escalada dos preços e ao aumento do custo de vida.

Em declarações hoje à agência Lusa, as principais instituições que atuam na capital do Alto Minho, e que estendem a sua ação a outros concelhos da região, referem que a “maioria” da ajuda é solicitada pela população local, mas “que se tem mantido quase inalterada desde o início da pandemia de covid-19”.

Já os pedidos de apoio por parte de migrantes, oriundos do Brasil, Colômbia, Venezuela, Índia, Paquistão, Timor, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, entre outros países, têm registado, nos últimos meses, um “aumento muito significativo”.

O vice-presidente da Cáritas Diocesana de Viana do Castelo, Manuel Carvalho, adiantou que em relação a 2021 o aumento de pedidos de ajuda “não é muito significativo”, tendo passado de 841 famílias, em setembro de 2021, para 892, no mesmo período deste ano.

Já a “despesa” da instituição, que integra a rede da Cáritas Portuguesa, um serviço da Conferência Episcopal Portuguesa, “aumentou consideravelmente para dar resposta às solicitações”.

“Há um aumento muito considerável de pedidos de apoio de migrantes, quer para a integração e legalização quer para ajuda social. Essa é que é uma escalada dantesca”, indicou.

Segundo Manuel Carvalho, a Cáritas de Viana do Castelo “apoia o pagamento integral das rendas, que passaram de cerca de 300 a 350 euros para 450 a 500 euros – uma escalada considerável em Viana do Castelo – das faturas da água, eletricidade e gás, bem como a compra de medicamentos e géneros alimentares”.

“É óbvio que, a este ritmo, vamos ter dificuldades. Sem verbas não podemos prestar apoio”, sustentou.

No refeitório social da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima são servidos, em média, todos os dias, 70 almoços e 65 jantares.

A coordenadora, Liliana Vilarinho, referiu que a “grande procura” é de pessoas do concelho “que ficaram sem habitação, resultado de ações de despejo, ou sem-abrigo”, mas que “ultimamente”, o serviço está a apoiar 10 famílias ucranianas, com menores, e sete famílias de nacionalidade brasileira”.

“Temos tido necessidade de reencaminhar algumas pessoas para a Refood, porque não conseguimos dar resposta”, observou.

Também o coordenador do Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS), João Damásio, que desde 2019 passou a ter uma equipa deslocalizada no Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, aponta “um aumento acentuado da procura, por migrantes, sobretudo brasileiros”, daquela resposta da Segurança Social.

Constituída por cinco elementos, a equipa tem em mãos “mais de 1.200 processos de pessoas com carência alimentar e económica, sem-abrigo, idosos em situação crítica, entre outras situações”.

“Um dia de atendimento no SAAS, corresponde, em média, ao atendimento de oito agregados familiares. Nos últimos meses, esse atendimento passou a ser preenchido praticamente por famílias de brasileiros a solicitar sobretudo apoio alimentar”, referiu.

“A população local representa ainda a maioria das solicitações. Quem antes da pandemia já tinha problemas ficou pior” sublinhou, adiantando que a “situação de vulnerabilidade económica” das famílias “fez aumentar o número de pedidos de ajuda alimentar e pagamento de rendas, devido ao fim das moratórias de crédito”.

Também “a Linha de Emergência Social tem tido um aumento significativo de pessoas em situação de sem-abrigo, a maioria delas por agravamento da sua saúde mental, sendo que há outros problemas associados como a situação económica, o desemprego e os consumos”, explicou João Damásio.

Segundo o coordenador do SAAS, “a questão da saúde mental está a aumentar significativamente, por não existirem respostas institucionais onde as pessoas possam receber os tratamentos devidos”.

O diretor do Banco Alimentar de Viana do Castelo, que serve os 10 concelhos do Alto Minho, disse que “os pedidos de ajuda alimentar no distrito têm-se mantido inalterados”.

“Desde os tempos da ‘troika’ que não registamos, em nenhum momento, um decréscimo de pedidos de apoio”, realçou João Ferreira.

De acordo com dados relativos a 2021, avançados por João Ferreira, “o Banco Alimentar apoia 119 Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que distribuem bens alimentares, por mês, a 25 mil pessoas do distrito de Viana do Castelo”.

 

Foto: redes sociais Banco Alimentar de Viana do Castelo