“Escolas de futebol estão cheias, mas as escolas para formar professores estão quase todas vazias”

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Dezenas de professores de Valença, Caminha, Ponte de Lima, Viana do Castelo e Esposende concentraram-se em Viana do Castelo para chamar a atenção para os problemas que enfrentam no exercício da profissão.

“A adesão dos professores à greve está a ser muito alargada. Nós temos escolas, nomeadamente, do primeiro ciclo e do pré-escolar, que fecharam. Depois, há ainda alguns mecanismos de alternância entre os professores que estão a provocar um efeito de grande impacto da greve, inclusivamente, com boas reações dos pais. Neste momento, a opinião dos professores está na rua a dizer que é preciso, até em nome do futuro do país, olhar para os problemas da educação e dos professores. Há uma coisa que se costuma muito dizer que é que não há escola sem alunos, mas, claramente, não há escola sem professores. E, neste momento, os professores estão num estado de grande dificuldade em termos de carreira e de colocações. Há problemas muito complicados com os salários, há situações gravíssimas que se acumularam ao longo dos anos de perda de tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira e tudo isso o Governo ignora”, criticou Luís Braga, professor na Escola Básica EB 2/3 da Abelheira.

“A verdade é que nós vemos as escolas de futebol cheias de gente a aprender a jogar à bola, mas, infelizmente, as escolas para formar professores estão quase todas vazias. Às tantas nós como sociedade devíamos pensar nisso e pensar porque é que isso acontece”, completou ainda Luís Braga, referindo que “não sabe o que fará parar a greve”.

“O governo recusa-se a abordar a questão dos seis anos que estão perdidos para efeitos de progressão e esse assunto não é exclusivo da greve, mas é um assunto que o Governo tem de encarar de frente porque há dinheiro para quase tudo, mas não há dinheiro para que os professores possam ganhar mais algum. Esta discriminação dos professores que é quase sempre negativa tem de terminar”, sustentou o professor.

Dora Ferreira, professora no Agrupamento de Escolas Pintor José de Brito, recordou o esforço dos professores ao longo da pandemia. “O primeiro sinal que eu vi que nós somos uma classe que tem muito para dar e para ensinar ao resto da população foi quando, em 2020, surgiu a pandemia e nós professores, em 15 dias, fomos uma classe que teve de se transformar e reinventar. Por isso é que eu digo que temos de lutar pela nossa sobrevivência profissional, por nós, pelos nossos alunos e pela nossa sociedade. Não há profissão mais importante do que a educação. Eu vou no meu 25º ano, estou no 4º escalão e não tenho hipótese nenhuma de subir. No entanto, faço tudo o que me é exigido e mais ainda e só vejo, ano após ano, governo após governo, a sermos apedrejados, enxovalhados e desacreditados. Temos de lutar agora ou então digam adeus a esta profissão e a esta carreira”, proclamou.