O “Nobel” do Futebol
Se houvesse um Nobel para o futebol, Pelé, o senhor Edson Arantes do Nascimento, seria, seguramente, o primeiro laureado com tal prémio, para honra e glória do Brasil que o viu nascer e que ele colocou em destaque no mapa mediático do Mundo.
Nesta linha de pensamento, o jornalista italiano Rocco Cotroneo, residente no Rio de Janeiro, titulou na primeira página da edição em papel de 30 de Dezembro passado do jornal italiano “Domani” (a que registou a morte de Pelé, ocorrida na véspera) que “Pelé foi o homem que inventou o Brasil”.
Para Rocco Cotroneo, Pelé foi mesmo o “inventor” do Brasil pelo papel determinante na vitória do Brasil no Mundial de Futebol de 1958, feito desportivo que colocou o país, pela primeira vez e pela positiva, no tal mapa mediático do Mundo. Até então, segundo Cotroneo, o Brasil era um país que vivia num “complexo de periferia”. Até 1958, o Brasil não tinha ganho nada e a mistura racial que marca a sociedade brasileira era, cito, “mais um argumento polémico do que uma vantagem competitiva”. Tudo isto prova o papel importante que o futebol desempenha, desde logo como uma das actividades que mais pessoas emprega, mesmo sem contar com os próprios jogadores, uns mais estrelas do que outros.
Daí que a notícia da morte de Pelé tenha merecido chamada de primeira página nas edições em papel de jornais de todo o Mundo. Há vinte anos, em 2002, integrei a equipa de jornalistas que o Jornal de Notícias enviou ao Mundial de Futebol desse ano, realizado na Coreia do Sul e no Japão e ganho pelo Brasil, mas confesso que não tive a percepção, que entretanto adquiri, da excessiva importância de uma modalidade que até castiga o uso da mão, contrariando a ideia de que tudo o que é bem feito tem de ser feito com as mãos.
Vinte anos depois, no ano do Mundial do Catar, com os escândalos, conhecidos e ocultos, que marcam este acontecimento, a memória que Pelé nos deixa é a de uma inocência original que merece a nossa vénia.