Banhistas com feridas na pele devem evitar a água das praias do Norte

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O investigador da Universidade do Porto Adriano Bordalo Sá alertou para o perigo de saúde pública nas águas das praias, devido ao aumento de bactérias patogénicas não fecais no verão, e recomenda um diagnóstico nacional urgente. O cientista e professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, recomendou às autoridades da saúde que se faça “de imediato um diagnóstico a nível nacional”, porque a situação encontrada nas praias do Norte pode estar a acontecer ao longo da costa, que tem cerca de 900 quilómetros.

O investigador recomenda um diálogo urgente entre “quem está no terreno e quem desenha as políticas de saúde”, porque nas “situações mais graves pode conduzir à morte, especialmente nas pessoas que têm alguma imunodeficiência”.

Depois de feito o levantamento e discutidos os resultados nacionais, Adriano Bordalo Sá recomenda que se “desenhem estratégias”, nomeadamente alertando a população mais vulnerável, que são os “banhistas imunodeprimidos” e “banhistas com cortes/feridas na pele”.

“Não dá para meter lixívia na água do mar ou barrarmo-nos com antibiótico. Temos de enfrentar esta situação, porque é um risco e as pessoas podem efetivamente infetar-se e depois não ser feito o diagnóstico correto. E, se não é feito o diagnóstico correto, o tratamento também não será, porque não há tratamentos universais”, disse.

O hidrobiólogo observou, contudo, que a ingestão ocasional de água do mar, o chamado ‘pirolito’, “não é, necessariamente, uma fonte de contaminação, devido à dose relativamente baixa de bactérias no volume de água ingerido nessas situações”.

O alerta do cientista surge na sequência de um estudo do ICBAS e subsidiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), sobre qualidade da água das praias na região Norte.

O estudo revela que as águas costeiras entre “Aveiro e Viana do Castelo apresentam um aumento de certas bactérias marinhas”.

As bactérias marinhas potencialmente patogénicas, como os vibrios, podem ter um comportamento altamente patogénico durante o verão, que é quando a temperatura da água está mais elevada, e não são despistadas nas análises oficiais da Agência Portuguesa para o Ambiente (APA) e das administrações regionais de saúde (ARS), transformando-se num perigo para a saúde pública”, explicou o investigador.

“Vemos que é em agosto, no pico da época estival, que nas praias – entre Aveiro e Norte de Viana do Castelo – encontramos estas bactérias patogénicas em grande quantidade. Portanto, isto é um risco que as autoridades de saúde deveriam começar a olhar”, defende.

No limite, disse, “estas bactérias podem conduzir a septicemias, que são infeções generalizadas do corpo, e podem conduzir à amputação de dedos infetados por estas bactérias, por estes vibrios”, alertou o cientista, esclarecendo que o nome dos vibrios detetados são o vulnificus (necrose de tecidos e septicemia), parahaemolyticus (gastroenterite aguda) e cholerae (gastroenterite aguda).

A pequena baixa de salinidade que se nota no mar é “muito boa para as bactérias emergentes e patogénicas, porque elas gostam de uma temperatura ligeiramente mais elevada e uma salinidade ligeiramente menor”. “Este risco existe e tem a ver com as alterações climáticas”, concluiu Bordalo Sá.