“Eu não tenho medo do mar”

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Um grupo de moradores da Cedovem – Apúlia (em Esposende), contestou a demolição de habitações na zona, prevista no Programa da Orla Costeira, defendendo que construções como as Torres de Ofir, cuja retirada não se coloca, são ataques ambientais piores. “Não podemos esquecer o passado e não vamos corrigir tudo, mas não são as construções dos pescadores que estão a criar mossa na duna. As Torres de Ofir e outras grandes construções complexas nas dunas em Esposende e Ofir são ataques ambientais muito significativos, não aquelas pequenas construções”, afirmou, em declarações à Lusa, Isolete Matos, enquanto representante do Grupo de Defesa de Pedrinhas e Cedovém.

Na Área Crítica de Pedrinhas/Cedovém, o Programa da Orla Costeira Caminha-Espinho (POC-CE) prevê a demolição de 89 habitações, mais de meia centena de anexos e sete restaurantes.

Isolete Matos, cuja vida está intimamente ligada àquele local, considera que o projeto, já apresentado publicamente pelo município no início do mês, o que vai fazer “é deitar as casas abaixo”, aproveitando “uma oportunidade para gastar 15 milhões e resolver um problema que as autoridades criaram e do qual elas próprias se envergonham”.

“Na apresentação [do projeto do município] houve uma jovem que utilizou a expressão ‘matar por presunção de morte’. É isso. Eles querem destruir com objetivos que não são claros. Não é, com certeza, por incapacidade de regulamentar, reorganizar e requalificar”, afirmou a representante, cuja habitação, com menos de 30 metros quadrados, está devidamente legalizada.

A engenheira considera que, houvesse vontade, poderia ser encontrada uma solução que não implicasse a demolição integral das habitações em Cedovem, defendendo que só num país como Portugal, “onde a APA [Agência Portuguesa do Ambiente] tem o poder que tem”, se pode considerar legal a demolição de casas cuja construção foi autorizada. Admitindo recorrer aos tribunais para defender o património de Cedovém e Pedrinhas, Isolete Matos defende que seria possível salvaguardar aquela área, realizando um corte de 20 metros no esporão, para permitir que as areias cheguem à praia, travando a erosão costeira.

O movimento lembra que, em 2009, o tribunal concluiu que a construção do esporão em 1987 originou o desassoreamento da praia e a progressão do mar, condenando o estado ao pagamento de 60 mil euros a um morador.

“Não tenho medo do mar. Aquela ideia de que aquilo é para segurança das pessoas, é uma ilusão. Eu sinto-me em segurança, quem me tira a segurança são as autoridades. Aceito que a minha casa vá abaixo por vontade do mar, mas não por conta”, disse acusando o Estado de “comportamento negligente” e até “criminoso” ao permitir a degradação desta situação que se arrasta há mais de 20 anos.