“Província questiona as tradições que queremos passar aos filhos e netos”

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A peça “Província”, com estreia marcada para esta sexta-feira em Ponte de Lima, é uma homenagem à mulher do Minho, inspirada em figuras femininas de lendas da região, que questiona o público sobre identidade, legado e tradições.

O diretor artístico da companhia Momento – Artistas Independentes, Diogo Freitas, encenador da peça “Província”, explicou que o espetáculo pesquisou as figuras femininas de Maria da Fonte (ou Revolução do Minho, o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846), de Deu-La-Deu (personagem lendária que se tornou na principal figura de Monção) e, em Antígona (figura da mitologia grega). “Cruzamos as histórias de todas num texto de homenagem à mulher em que, ao mesmo tempo, tocamos em temas com os quais queremos pôr o público a questionar-se”, explicou Diogo Freitas, referindo-se “aos paradigmas do mundo rural e de uma certa identidade portuguesa”.

Para o encenador, o espetáculo confronta o público com “as tradições”, com as “razões” que levam uma tradição a “perder-se no tempo” ou sobre a escolha das tradições que “precisam de morrer, as que precisam de ser salvas ou transformadas para passar de geração em geração”. “O espetáculo não responde, não resolve, mas questiona sobre as tradições que queremos passar aos filhos, netos. As que não defendem as pessoas, não colocam as pessoas em primeiro plano e que faz sentido passar”, apontou Diogo Freitas. Natural de Vila Nova de Famalicão, o encenador explicou que o projeto artístico que, na sexta-feira, sobe ao palco do Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, às 21:30, começou a ser preparado há dois anos e implicou investigações em Ponte de Lima, Monção e Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, e em Riba d’Ave, Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, os quatro municípios onde a peça será representada.

Para Filipe Gouveia, dramaturgo residente da companhia da Momento – Artistas Independentes, o espetáculo “encerra temas dentro de temas”, sendo que um dos “mais falados ao longo do espetáculo é o do legado”. “O que deixamos para trás, o que deixamos depois de morrermos ou, até mesmo, como conseguimos manter vivas as memórias das pessoas que passaram na nossa vida”, observou. Na peça, com duração de cerca de 50 minutos, o palco é a plateia. Num cenário negro, iluminado por luzes e música, sincronizados ao tom do texto, a atriz Luísa Alves interroga quem se senta nas cadeiras dispostas em quadrados. Levanta os lençóis, tal como ondas inquietas dos rios Lima, Minho, Coura e Ave, e questiona os espectadores sobre o papel da mulher, “da necessidade de repensar não só território, mas também as tradições da região onde estão as raízes familiares do encenador da companhia, Diogo Freitas”.

Depois de Ponte de Lima, a peça “Província” será apresentada nos dias 01 e 02 de dezembro no Teatro Narciso Ferreira, em Vila Nova de Famalicão, no dia 07 de dezembro no Centro Cultural de Paredes de Coura e, no dia 09 de dezembro, no Cineteatro João Verde, em Monção.