Esposende com “vistos” da Liberdade
Foi ao som de canções de Abril que arrancou, em Esposende o programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, que o Município de Esposende leva a efeito até ao próximo dia 25, dia que assinala a efeméride da Revolução dos Cravos.
A abertura/apresentação de quatro exposições marcou o arranque do programa “Viver Abril”. A anteceder a abertura da exposição “Ditadura, Revolução, Democracia”, no hall da Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, a soprano Ana Sofia Vintena e João Campos na guitarra, docentes da Escola de Música de Esposende, marcaram o ritmo de um programa recheado de atividades, que pretende envolver toda a comunidade, convidando a refletir sobre os valores de Abril e sobre a saúde da nossa democracia. Esta mostra resulta de uma parceria com o Plano Nacional das Artes, o Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra e a Escola Superior de Educação de Coimbra e pretende, através de um conjunto de painéis, analisar a cronologia e dar conta dos momentos marcantes, a nível nacional e internacional, da Ditadura, da Revolução e do período imediatamente subsequente.
Seguiu-se, no Auditório da Biblioteca Municipal, a apresentação da coleção “50 Anos do 25 de Abril: 50 Anos de Democracia”, que a Biblioteca Digital do Cávado – AQUALIBRI disponibiliza ao público, em acesso livre e gratuito. Aqui são disponibilizados centenas de documentos de natureza política, partidária e panfletária do concelho de Esposende, de 1974 até ao presente. Um conjunto singular de informação preciosa da nossa democracia, como frisou a responsável da Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, Maria Luísa Leite, agradecendo a todos quantos contribuíram para que fosse possível reunir e disponibilizar esta importante e histórica coleção.
A anteceder a apresentação da exposição “Linhas com Liberdade”, na Rua 1.º de Dezembro, em Esposende, ouviram-se, novamente, canções de abril, pelas vozes de uma das classes de conjunto vocal do 3.º ciclo do Ensino Articulado da Escola de Música de Música de Esposende, dirigida pelo Professor Ernesto Clemente. Esta mostra resulta da Oficina de Instalação de Arte Urbana do Projeto AMAReMAR – Arte e Comunidade, orientada pela artista Ana da Silva, que enquadrou e fez a apresentação dos trabalhos. Tendo por mote e inspiração os acontecimentos que desabrocharam na madrugada de 25 de abril de 1974, esta criação, referiu, foi concebida com recurso à técnica de bordado com linhas de lã e resulta de uma reflexão sobre o conceito e desejo de liberdade(s).
Seguiu-se a apresentação da exposição “Vistos pela Censura. A inspeção em Esposende. 1950-1970”, no Largo Rodrigues Sampaio, concebida a partir do espólio do Arquivo Municipal de Esposende. Marília Capitão, responsável por aquele equipamento, referiu que a mostra dá a conhecer a dinâmica cultural e as estruturas criadas para a sua divulgação, condicionadas pelos ideais do regime e da designada “Política do Espírito”, aliadas à preservação e promoção de uma “Cultura Popular”.
Integrada no programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, a terceira edição da “Catraia de Livros”, evento promovido pelo Município de Esposende, através da Rede de Bibliotecas do Concelho de Esposende (RBCE), da qual faz parte a Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, abriu portas, na zona ribeirinha de Esposende.
Tendo por palco uma tenda decorada a preceito, e onde o livro e a leitura assumem lugar de destaque, o evento é também dedicado aos 50 anos do 25 de Abril, tendo como tema “Viver a Liberdade!”. Até ao dia 25 de abril, está previsto um vasto programa de iniciativas, que se propõe envolver toda a comunidade, conforme referiu a vice-presidente da Câmara Municipal de Esposende, com as áreas funcionais da Educação e da Cultura, Alexandra Roeger, deixando o convite para se associem ao evento e participem ativamente nas várias iniciativas.
Convidou igualmente a explorar e visitar as exposições disponíveis a partir de hoje na cidade, considerando que são excelentes exemplos para entender a História da democracia que, sublinhou “não é um bem adquirido, tem que ser feita a valorizada todos os dias”.
Na sua intervenção Alexandra Roeger saudou a parceria com a Rede de Bibliotecas do Concelho de Esposende que tem permitido, ao longo dos anos, “que a cultura se instale e o conhecimento cresça” e expressou o desejo de que esta colaboração se mantenha e fortifique, para benefício da Educação e da Cultura no concelho.
Manuela Pargana Silva, Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, saudou o Município pela realização de mais uma edição da “Catraia de Livros” e por associar o evento às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. “É incontornável, é oportuno, é muito relevante sermos desafiados para recuperar e relembrar os valores que a Revolução de Abril nos trouxe”, afirmou.
Sublinhando a importância e o papel das bibliotecas, nomeadamente das bibliotecas escolares, Manuela Silva referiu que estas têm responsabilidade enquanto estruturas que “estão direcionadas para a leitura, para o saber, de preparar para o complexo, aguçar o sentido critico, suscitar a necessidade de um questionamento permanente, verificarmos a credibilidade das fontes de informação que usamos e, deste modo, contrariamos alguma falsa ideia, que alguns de nos temos, de que não é preciso nem esforço, nem exigência, nem resiliência para nos superamos e evoluirmos como tem sido a nossa história e evolução da condição humana”. Alertou para a complexidade dos tempos atuais e para as ameaças à liberdade, reforçando a responsabilidade das bibliotecas neste contexto.
Após o período de intervenções, teve lugar a apresentação dos alunos da Escola Básica de Gandra “Era uma vez o 25 de abril”, e dos alunos da Escola Básica de Góios, que declamaram excertos do poema “As portas que Abril abriu”, de Ary dos Santos, prestações muito apreciadas e aplaudidas.
A encerrar o programa do dia de hoje realizou-se a apresentação do livro “A desobediente – biografia de Maria Teresa Horta”, de Patrícia Reis, por Daniel Tavares, professor no Instituto Politécnico de Viana do Castelo e investigador na Universidade do Minho.