“Alta Tensão rasga e cria obstáculos na paisagem”
João Manuel Esteves nota que o projeto da linha de Alta Tensão Ponte de Lima-Fontefria (Galiza)não atravessa aquele território, mas será “um obstáculo que vai ficar na paisagem”.
Para a comissão de cogestão do PNPG, esta é mais uma preocupação, porque “é mais um obstáculo na paisagem, que trará impactos negativos, do ponto de vista ambiental, social e económico”, afirmou o autarca de Arcos de Valdevez, que preside à comissão de cogestão do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG).
Segundo João Manuel Esteves, “a linha vai afetar nove freguesias” do concelho de Arcos de Valdevez, três com área no PNPG, como é o caso da aldeia monumento nacional de Sistelo, Gondoriz e Cabreiro.
João Manuel Esteves adiantou que os autarcas vão pedir audiência à ministra do Ambiente depois de terem sido surpreendidos com o licenciamento da obra.
O autarca adiantou que os autarcas vão reunir-se, na próxima semana, “para desenvolver um conjunto de contactos com várias entidades e, evidentemente, com a ministra do Ambiente”.
As associações ambientalistas do Alto Minho manifestaram-se preocupadas com a desinformação em torno do projeto da linha de Alta Tensão Ponte de Lima-Fontefria (Galiza) e apreensivas com o impacto do projeto na região.
“Há uma grande desinformação da população. É um tema bastante dramático porque estamos a falar de um assunto de saúde pública bastante grave. As linhas de muito alta tensão tem cargas eletromagnéticas elevadas quer para a população, sobretudo nas zonas mais densamente habitadas, quer para o ambiente. Daí haver esta desinformação para que as populações não tenham a noção do que as espera”, afirmou à agência Lusa Fernando Barros, o representante dos movimentos de defesa da Serra da Peneda e do Soajo e SOS Serra d’Arga.
Fernando Barros disse que a falta de informação pública afeta não apenas a população, como as associações ambientais que “não foram contactadas”, referindo-se às entidades que licenciam e à que vai executar o projeto.
“A entidade que vai ocupar os terrenos e que vai instalar a linha devia fazer informação direta em todas as freguesias por onde vai passar [o projeto]. Esclarecer não só os proprietários dos terrenos, mas também as aldeias que vão ficar nas imediações da linha e cuja saúde da população vai ser posta, diretamente, em causa”, apontou Fernando Barros.
Fernando Barros, que integra a comissão de cogestão do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), em representação das associações de ambiente da região, nomeado pelo FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade e pela Quercus, acrescentou que “as entidades oficiais que estão a licenciar o projeto também não fizeram sessões de esclarecimento”.
“A Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), que encabeça o processo, e a empresa que vai colocar os postes nos terrenos e passar os cabos por cima das várias freguesias teriam, a meu ver, a obrigação de esclarecer devidamente a população de que a linha vai passar, qual a sua potência e quais os possíveis impactos na saúde das populações e na desvalorização das propriedades das pessoas”, sustentou.
Fernando Barros não excluiu a possibilidade de novos protestos, promovidos pelos movimentos ambientalistas, “claramente contra” um projeto “altamente prejudicial para a saúde das populações locais que ficam próximas das linhas e para o ambiente, sobretudo para espécies como as aves”.
Para o responsável, há ainda a ter em conta “os impactos patrimoniais e paisagísticos” do projeto.“Uma linha destas vai rasgar completamente a paisagem. É um impacto de larga escala, de vários quilómetros. Um território como o Alto Minho, que tem determinadas características ambientais e paisagísticas, a partir do momento que tenha uma linha destas a passar por cima de terrenos e casas implica uma desvalorização direta das propriedades das pessoas, que não vão ser ressarcidas”, realçou.