Jordão Cardoso: “Jogar no Vianense é ser o orgulho da família”

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Jordão Cardoso começou a jogar no SC Vianense com apenas quatro anos e, sempre que entra em campo com a camisola do clube, carrega nos ombros o peso do legado familiar deixado pelos tios Paulinho e Armando Cardoso. Jordão tem construído uma carreira que já incluiu passagens pela II Liga do Chipre e a I Liga da Bulgária, mas são as cores e o hino do “velhinho” Vianense que continuam a arrepiá-lo. Extremo de 27 anos, irreverente e altruísta em campo, Jordão foi uma das peças chave para a subida histórica do Vianense à Liga 3, por isso, assume o desalento com a descida do clube ao Campeonato de Portugal. Natural da Quinta da Bouça, em Darque, é no Bairro do Fomento que Jordão fixa as suas origens porque foi ali que cresceu com os avós e aprendeu a jogar à bola, na rua e na terra, com os amigos. Jordão voltou ao bairro da sua infância feliz e, numa extensa entrevista ao Jornal Alto Minho, recordou o seu percurso futebolístico, reencontrou o avô Álvaro e o tio Paulinho, admitiu que é um “bom garfo”, tanto de comida portuguesa como angolana, mostrou os seus dotes musicais a cantar e tocar guitarra, demonstrou a sua admiração por Joaquim Lavarinhas e confessou que gostava de voltar a subir de divisão com o Vianense.

Ao deambular pelo Bairro do Fomento, de onde guarda recordações de uma infância feliz, passada entre a casa dos avós e um ringue desportivo a jogar à bola, Jordão sente-se em casa. Ainda há muitos moradores que o conhecem e ele conhece quase todos também. “Eu saí daqui, mas o bairro não sai de mim. Nem vai sair”, assegura o jogador que, na vitória, em Amarante, que carimbou a subida do Vianense à Liga 3, levou uma camisola a dizer “Bairro do Fomento” para a festa. “Já estava preparado com essa camisola porque queria homenagear este bairro. Há pessoas que crescem em bairros sociais e têm vergonha de o dizer, eu sou dos que tem orgulho de dizer de onde sou. O meu dia a dia continua a ser aqui. Gosto de dizer ao mundo de onde sou”, assegurou, convicto de que o orgulho nas suas origens tem mobilizado adeptos de Darque para o Vianense. “Espero que continuem a apoiar o Vianense, mesmo que eu saia do clube. Eu sou de Darque, mas o clube mais representativo de Viana é o Vianense”, vaticinou. “Este bairro tem aspectos negativos, como existem noutros lados, mas aqui há um ambiente muito familiar e o que mais gosto é das pessoas que são super simples”, realçou o jogador, cujos amigos da infância com quem conviveu também já saíram do bairro. Alguns deles continuaram também ligados ao futebol, mas em clubes da Distrital, como Ginho ou Pilas.

“O Jordão nunca se portava mal”

O jogador continua a ir ao bairro regularmente para estar com o avô Álvaro Cardoso, reformado da construção civil que veio de Angola para Viana do Castelo em 1976. Poucos anos depois, Álvaro e a sua esposa mudaram-se para o Bairro do Fomento, em Darque, onde criaram os seus quatro filhos e netos, incluindo Jordão que é o segundo neto mais velho. “O avô só nos aturava ao fim-de-semana porque estava sempre fora a trabalhar. Quem estava sempre connosco era a nossa avó Ermelinda, que toda a gente conhecia por Linda”, contou Jordão, durante mais uma visita à casa do avô. “O Jordão nunca se portava mal, mas ele também sempre teve tudo… quando era pequenito, via os colegas na rua a andar de bicicleta e ele não tinha. Disse à minha esposa Linda para lhe comprar uma também”, recordou o avô de 80 anos, pai de Paulo e Armando Cardoso, duas referências na história do SC Vianense. O pai de Jordão não atingiu o mesmo patamar no futebol porque começou a trabalhar muito novo e, apesar de ter dado uns toques em clubes da Distrital, preferiu apostar na sua profissão ligada à carpintaria. Apesar desta ligação ao futebol que os seus filhos e neto sempre tiveram, o avô não gosta de ir ver os jogos. “Não gosto porque me chateio ao ouvir chamar nomes feios. Mesmo no tempo do Paulo, que começou a jogar no Vianense com seis anos, não acompanhava muito”, assumiu o avô.

Na casa do avô Álvaro, a fotografia da primeira comunhão de Jordão está ao lado da fotografia da avô Linda. “Ela fazia muitos rissóis e vendia para o bairro inteiro, toda a gente a conhecia. Como os homens da vizinhança trabalhavam todos fora durante a semana, as mulheres juntavam-se todas aqui e era uma alegria. A minha avó era muito conhecida no bairro e acho que em Darque inteiro”, contou o orgulhoso neto, que diz ter aprendido com o avô Álvaro a ser “cumpridor” dos compromissos que assume e a ser educado. “O meu avô transmitiu bons valores ao meu pai que mos passou a mim. Tudo o que temos, nem falo de bens materiais, mas de educação, começou no meu avô Álvaro”, reconheceu o neto, que é o barbeiro pessoal do avô e costuma aproveitar a muita sopa que ele faz para abastecer também a sua casa.