Valença e Tui ligadas autocarro pioneiro “que faz arrepiar”

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A viagem entre os centros urbanos de Valença e Tui vai poder ser feita de autocarro eléctrico gratuito. Durante três meses, vai decorrer o projecto-piloto com o objectivo de se tornar definitivo a partir do primeiro trimestre de 2025. A novidade foi apresentada durante a Semana Europeia da Mobilidade e pretende diminuir o número de veículos que cruza diariamente a ponte centenária entre as duas cidades.

“Este mini-autocarro elétrico vai servir a população em geral, os turistas também, e temos aqui um transporte regular sustentável que vai tirar mais veículos da nossa ponte centenária”, afirmou o presidente da Câmara de Valença, José Manuel Carpinteira, que acredita no sucesso deste projeto. “Neste momento a Câmara de Tui vai abrir um concurso para o transporte, nós trabalhamos no estudo do mesmo, e temos financiamento para o projeto piloto durante três meses. Durante este período vamos avaliar se, de facto, se deve manter este transporte urbano entre as duas cidades ou não. A nossa vontade é que ele fique, porque nós pretendemos que ele sirva a população de Tui e Valença de uma forma regular. A ideia é que, até ao final deste ano, seja implementado na prática”, desejou.

Enrique Cabaleiro, alcaide de Tui, mostrou-se entusiasmado com o projeto e também acredita que ele irá avante. “Este espaço transfronteiriço é o mais transitado de toda a península, portanto a mobilidade aqui é um grande desafio. Aquilo que pretendemos é que transitem cada vez menos veículos na ponte histórica e que haja uma maior mobilidade pedonal. Para isso é necessário implementar transportes coletivos que nos possam servir e estamos decididos a trabalhar com firmeza”, garantiu.

A proposta de criação deste transporte público transfronteiriço, único na Península Ibérica, baseia-se no estudo de mobilidade urbana sustentável da eurocidade e prevê a existência de uma linha única, com dez quilómetros de extensão e 12 paragens, a funcionar de meia em meia hora, sete dias por semana, entre as 8h00 e as 20h30. A proposta “definiu dois cenários de rotas estratégicas que conectam áreas residenciais, comerciais e institucionais, garantindo acesso fácil e eficiente aos principais destinos de ambas as cidades, nomeadamente através das linhas Tui-Valença pelo exterior da Fortaleza, que se considerou prioritária, e Tui-Valença pelo interior da Fortaleza, que se definiu como alternativa”.

Segundo Paula Teles, coordenadora do estudo e presidente do Instituto das Cidades e Vilas que Caminham, em 2021, 74% da população de Valença recorreu a automóveis particulares para deslocações. “Cruzam diariamente a ponte centenária cerca de 4.100 automóveis e cerca de 15.000 cruzam a ponte nova todos os dias. Destes, cerca de 1.300 têm como origem ou destino a cidade de Valença. Se somarmos os 1.300 com os 4.100 nós temos um fluxo médio diário de automóveis que andam entre as duas cidades: 5.400. Uma vez que quase toda a gente anda sozinho no automóvel, isto significa que andam no máximo 7.000 pessoas entre as duas cidades, de um lado para o outro, em percursos de menos de 15 minutos. Por isso, temos aqui uma enorme oportunidade para o transporte público”, justificou. “Colocando a hipótese de redução de 25% ou 50% das deslocações transfronteiriças, transferindo-as para o novo transporte público sem emissões, obtemos um potencial de descarbonização de, respetivamente, menos 1,15 ton./CO2 e 2,3ton./CO2 diárias”, acrescentou, elogiando a coragem dos dois municípios em avançarem com este projecto, apesar das dificuldades que vão enfrentar, designadamente na bilhética, uma vez que a taxa de IVA aplicada, por norma, difere de país para país, ao nível das regras de transporte de passageiros e das competências linguísticas e condições laborais dos motoristas.

“Os dois presidentes de Câmara agarraram com muita determinação este projeto, que é muito complexo. As leis são diferentes, os países são diferentes, os regulamentos são outros, os governos são outros, mas nós sabemos que entre Valença e Tui apenas existe uma ponte que é património da humanidade, e um rio que também pode ser, e sabemos que entre esta ponte temos de manter, cada vez mais, a coesão territorial, temos de ter cada vez mais políticas ao serviço da cultura, do turismo, do comércio, da investigação, da política, da questão social e a mobilidade está lá sempre presente. Nunca há ações em Tui e em Valença que não agitem a deslocação”, declarou a coordenadora, confidenciando que encara este projecto com “afeto e de estima”. “Este é um projeto que me faz arrepiar e, no dia em que a cidade de Valença estiver conectada por um transporte mais sustentável a Tui, eu vou ser uma pessoa mais feliz”, confessou.