José Lourenço Pereira, 100 anos a construir de Geraz do Lima a Lisboa

José Lourenço Pereira, da construtora “Lima & Rodrigues”, natural de Geraz do Lima (Santa Maria), completou recentemente 100 anos e partilhou algumas das suas vivências, não dispensando o sentido de humor que o caracteriza. O seu percurso dividiu-se entre Viana do Castelo e Lisboa e deixou “marca” nas duas cidades devido à sua ligação ao sector da construção civil. Considerou a obra do prédio Coutinho “um crime” e recorda que “alertou” o sogro para os “sarilhos” que a construção do hotel Afonso III iria trazer. Garantindo que o seu percurso foi, sobretudo, resultado de “muito trabalho”, recorda o 25 de Abril de 1974 como “um dia maldito” que o impediu de se tornar num “homem rico”. 

José compara a sua vida a “um romance”, contando que tudo começou com um miúdo descalço e a pé desde Geraz do Lima até Viana para vender cestos. A grande mudança aconteceu quando foi trabalhar para Lisboa, primeiro como servente nas obras e depois como sócio do patrão e sogro. 

“Aos 14 anos, quando saí da escola comecei a trabalhar com o meu irmão, que era cesteiro. Todas as sextas levantava-me às cinco da manhã e ia para Viana com a minha mãe vender os cestos. Ia de pé descalço e com meia-dúzia de cestos às costas. No fim da venda dos cestos, por volta da uma da tarde, íamos para a Rua da Piedade, onde existia uma mercearia e taberna. Comíamos uma tigela de sopa, duas ou três sardinhas e fazíamos as compras para casa. Depois tínhamos mais quinze quilómetros a pé até Geraz do Lima”, recordou o centenário.

José Lourenço Pereira é um dos mais novos dos sete irmãos. “Só fiz a quarta classe, não estudei mais porque mandaram-me trabalhar e o mesmo aconteceu com os meus irmãos. Éramos sete irmãos, agora só estamos dois, eu e o Óscar, mas, à excepção de uma irmã que faleceu aos 89 anos, todos os outros faleceram depois dos 90 anos. A mais velha festejou os 101 anos”, registou, apontando que apesar das “caminhadas” a Viana para vender cestos nunca passaram por dificuldades.