Regressou da Escócia e abriu um negócio na Meadela em plena pandemia
Depois de viajar e trabalhar pelo mundo, Daniela Couto regressou a Viana do Castelo, onde tem ligações familiares, e comprou na Meadela o café “Bamos à Estela” que abriu portas poucos dias antes de ter sido decretado o primeiro estado de emergência em março de 2020. Quase um ano depois, Daniela continua ao leme do café e de mais uma mercearia e no final de 2020 decidiu vender o café a 50 cêntimos para impulsionar o negócio.
Aos 43 anos, Daniela Couto tem uma vida recheada de experiências. Filha de pais sul-africanos, Daniela Couto nasceu em Viseu, mas foi, muito nova, viver para Lisboa. Com dois anos foi para África do Sul e aos 14 regressou a Portugal (Cascais). Com 18 anos iniciou a sua jornada pelo mundo: passou pela Holanda, Estados Unidos, Bali e Tailândia. O seu último destino, antes de chegar a Viana do Castelo, foi a Escócia, onde esteve 18 anos. Uma parte da família da sua avó é vianense e Daniela lembra-se de ir passar férias com os tios onde atualmente está o Hotel Melo Alvim.
Daniela licenciou-se na Escócia em Micro-Biologia Aplicada e Biotecnologia. “Comecei a trabalhar para o Serviço Nacional de Saúde da Escócia e ofereceram-me o curso de enfermagem porque disseram que era boa com os pacientes. Mais tarde, como era atleta de alta competição, fiz um mestrado em Ciências do Desporto com especialidade em reabilitação desportiva”, contou Daniela, acrescentando que era diretora do serviço de reabilitação num hospital em Edimburgo, antes de ter sido “obrigada” a regressar a Portugal. “Estava muito bem lá, mas a minha mãe começou a ficar doente. A minha tia, que era mais velha, não tinha capacidade para tomar conta dela, por isso, decidi vir para cá, para tomar conta da minha mãe que, em 2013, foi diagnosticada com alzheimer”, explicou.
Para sustentar a família e sem oportunidades de emprego em Viana, Daniela arregaçou as mangas e criou o seu próprio negócio. “Este café era um local que costumava frequentar nos últimos três anos. Vivia aqui perto e já conhecia os clientes e a dona. Como estava muito parado, fiz uma proposta à Estela e fiquei com o café”, contou. Abriu o “Bamos à Estela” a 5 de março de 2020 e poucos dias depois foi decretado o primeiro estado de emergência. Ao lado do café, há uma mercearia/padaria que fechou a 13 de março e Daniela decidiu ficar também com esse negócio que abriu a 8 de abril. “Como sabia que o café não podia funcionar a 100%, decidi arranjar outra coisa para trabalhar, porque tenho uma família para sustentar”, justificou. Na primeira vaga e no verão, os dois negócios, conta, “correram super bem”. “Agora está bem pior. Na primeira vaga servimos muito take away. Mas agora as pessoas não vêm e as que vêm consomem menos”, disse Daniela ao Semanário Alto Minho no final de novembro de 2020.
Depois de quase duas décadas na Escócia, Daniela pretendia concretizar no “Bamos à Estela” algumas ideias dos bares escoceses, direcionando o local para um público mais jovem e noctívago. A pandemia trocou-lhe as voltas, mas a empresária, ainda assim, conseguiu dar o seu toque. Daniela admite que tem mais clientes na mercearia, mas as promoções no café vieram ajudar na faturação. “Fazíamos muito mais faturação na primeira vaga, é um facto, mas com os posts nas redes sociais, fomos chamando mais pessoas. Além disso, colocamos na ementa cachorros de 60 centímetros e hambúrgueres gigantes. Ou seja, ainda houve uma ou outra ideia escocesa que consigamos implementar, mas queremos muito mais”, assegurou. “Fizemos uma promoção de café a 35 cêntimos, por exemplo. Agora, vamos mantê-lo a 50 cêntimos até ao final de 2020. Com isto, melhoramos um pouco a faturação porque as pessoas também sentem o peso financeiro e, como na zona, não existe mais nenhum estabelecimento que tenha o café a este preço, vêm aqui”, referiu. “Na Escócia funcionava muito bem e, por isso, queremos trabalhar esta estratégia cá porque Viana do Castelo é uma cidade muito morta”, concluiu.