“Trabalho aqui há 25 anos e ganho uma côdea!”
Três dezenas de trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães têm-se manifestado em frente à sede da instituição, num protesto contra a alegada falta de condições de trabalho e por aumentos salariais.
No protesto, foram ainda denunciados os processos disciplinares instaurados a 24 trabalhadores, alegadamente por “exigirem os seus direitos e avançarem para a greve”.
Entretanto, a deputada Mariana Silva, do Grupo Parlamentar Os Verdes, entregou na Assembleia da República uma pergunta, questionando o Governo através do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, sobre esta situação. A parlamentar quer saber se o Governo está a par do problema, se houve alguma ação inspetiva da Autoridade para as Condições de Trabalho face a esta situação e “que medidas tenciona tomar o Governo para defender os direitos destes trabalhadores”.
Célia Lopes, dirigente nacional do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), disse que as negociações para o acordo coletivo de trabalho decorrem há dois anos, mas foram recentemente “rompidas” pela Santa Casa.
“Agora, a instituição diz que não está disponível para negociar e remete para a União das Misericórdias Portuguesas, mas esta não é a entidade patronal, o que significa que nada se vai resolver”, referiu.
A dirigente sublinhou que há trabalhadores que há 10 anos recebiam mais 100 euros em relação ao salário mínimo nacional (SMN) e que agora estão a receber o SMN, só tendo atualizações salariais “por força” do SMN.
“Os trabalhadores estão magoados e com toda a razão. Deram o litro durante a pandemia, cumpriram durante semanas inteiras 12 horas de trabalho por dia e agora a paga que têm é zero”, acrescentou Célia Lopes.
Disse ainda que os 24 processos disciplinares anunciados para 24 trabalhadores “só podem ter a ver” com o facto de eles terem participado numa reunião com responsáveis da Santa Casa em que vincaram as suas reivindicações e “propalaram” a hipótese de avançarem para a greve.
“O problema é que os trabalhadores ainda nem sequer sabem do que é que vão ser acusados, foram apenas notificados de que vão ser iniciados os processos disciplinares”, referiu.
Laura Araújo, uma das trabalhadoras que esteve nessa reunião, disse que apenas foram pedir “melhores condições, mais respeito, mais pessoal e melhores salários”.
“Trabalho aqui há 25 anos e ganho uma côdea. Na pandemia, trabalhámos 12 horas seguidas por dia e nem um obrigado tivemos. Até aqui, vínhamos trabalhar com prazer, agora vimos trabalhar por obrigação”, referiu.
A Lusa contactou a Santa Casa de Guimarães, mas nenhum responsável se manifestou disponível para prestar declarações.
A instituição remeteu para um comunicado em que refere que “vem sendo sucessivamente ameaçada com greves, com queixas aos serviços da Autoridade para as Condições do Trabalho e ao Instituto da Segurança Social, apesar da absoluta falta de fundamentos de quem recorre a esses meios”.
Diz ainda que a instauração de procedimentos disciplinares decorre de comportamentos “que se revelem violadores dos deveres laborais, mormente os que possam pôr em causa o bem-estar, a saúde e a segurança dos utentes ou de qualquer outro colaborador”.
O comunicado termina agradecendo a “todos os colaboradores que diariamente vestem a camisola da Misericórdia, com profissionalismo, rigor e dedicação”.