Acampamento romano em Melgaço é o maior e mais antigo de Portugal e Galiza

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Um acampamento militar romano em Lomba do Mouro, no planalto de Castro Laboreiro, Melgaço, alvo de intervenção arqueológica em setembro de 2020, foi apresentado por um investigador como o maior e mais antigo de Portugal e Galiza. “A datação coloca o sítio da Lomba do Mouro como o maior e mais antigo acampamento romano da Galiza [Espanha] e de Portugal. Os resultados da datação da muralha do recinto apontam a sua fundação no século II antes de Cristo que coincide, também, com a famosa expedição do Décimo Júnio Bruto [general e político romano] que passou o rio Lima e chegou até ao rio Minho, e esta zona de Castro Laboreiro está entre os dois rios”, afirmou à agência Lusa João Fonte, investigador do grupo científico Romanarmy.eu.

Segundo o responsável, “o acampamento romano de Penedo dos Lobos (Manzaneda, Ourense, Espanha), mais antigo, data da época das Guerras Cantábricas ([ano] 29 antes de Cristo – [ano] 19 antes de Cristo)”, o que “confirma as operações militares romanas na Galiza cem anos antes”.

Com uma área superior a 20 hectares, a Lomba do Mouro foi descoberta através da utilização de novas tecnologias de análise de solos pelo coletivo de investigação romanarmy.eu e alvo de uma intervenção arqueológica em setembro de 2020.

A campanha foi liderada pelo arqueólogo do Universidade de Exeter João Fonte, no âmbito do projeto European Finisterrae financiado pela Comissão Europeia através de uma bolsa individual Marie Sklodowska-Curie.

Em declarações à Lusa, à margem da apresentação, hoje no Centro Cívico de Castro Laboreiro, distrito de Viana do Castelo, dos resultados da intervenção arqueológica na Lomba do Mouro, João Fonte adiantou que aquele acampamento “foi erguido durante a movimentação de um grande contingente de tropas romanas – de aproximadamente 10.000 soldados – que cruzou a Sierra del Leboreiro e a ergueu como fortificação temporária”.

“A campanha arqueológica confirmou a existência de duas linhas de parede de pedra que poderiam ter sido bem caracterizadas, incluindo elementos defensivos singulares, como pedras construídas ou cavalos frísios, um sistema para impedir o avanço da cavalaria ou das tropas do exército inimigo”, disse.

Durante a campanha foram recolhidas “amostras de sedimentos analisadas através de luminescência, técnica que permite datar a última vez em que os cristais de quartzo foram expostos à luz do sol. A datação média permitiu aos investigadores obter os dados da fundação do século II antes de Cristo”, explicou, adiantando que as análises foram efetuadas por um grupo de investigação C2TN (Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares) do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.

“Até agora, o acampamento romano mais antigo, também escavado pelo grupo científico romanarmy.eu, foi o de Penedo dos Lobos (Manzaneda, Ourense). Foram encontradas moedas ligando o recinto às campanhas de guerra conhecidas como Guerras Cantábricas, com a qual o imperador Octávio Augusto encerrou o processo de conquista da Hispânia”, descreveu.

“O acampamento de Lomba do Mouro foi construída cem anos antes de Penedo dos Lobos”, reforçou o investigador.

Este acampamento situa-se “numa zona de especial concentração de sepulturas megalíticas e foi descoberto através da tecnologia LiDAR fornecida pelo projeto espanhol PNOA- Plano Nacional de Ortofotografia Aérea”.

O acampamento romano “ocupa mais de vinte hectares de terreno, com duas linhas defensivas, com apenas oito quilómetros em linha reta”, sendo que o grupo científico romanarmy.eu localizou também outro sítio militar temporário de dimensões semelhantes, a Chaira da Maza, no concelho de Lobeira em Ourense, o que leva à hipótese de se tratar de uma linha de avanço romana”.

João Fonte defendeu a “necessidade de continuar os estudos de investigação científica e arqueológica e depois é preciso apostar, de uma forma integrada, transfronteiriça a valorização destes sítios localizados na zona do Gerês-Xurés”.

“Um fim último deste trabalho seria poder criar uma rede transfronteiriça para dar a conhecer estes sítios temporários que se relacionam com o primeiro contacto do exército romano com as comunidades indígenas do Gerês-Xurés”, especificou.

Os arqueólogos do grupo científico “trabalharam exclusivamente na parte portuguesa do local”, numa investigação financiada pelo Fundo Ambiental Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente, pela Câmara de Melgaço e pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), no âmbito da valorização da rede de caminhos do Planalto de Castro Laboreiro. O trabalho de campo, que durou cerca de duas semanas foi realizado em colaboração com a empresa Era-Arqueologia.